Histórias Assustadoras para Contar no Escuro | Não encontra seu público


[dropcap]T[/dropcap]alvez Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro sofra com o mesmo problema de seu original literário: Não encontrar seu público.

Nos livros escritos por Alvin Schwartz, foram três edições entre 1981 e 1991, cada uma delas com pouco mais de 100 páginas, mas com umas duas dezenas de pequenos contos. Todos os livros foram sucessos enormes, mas tiveram que enfrentar uma polêmica envolvendo seu público alvo, já que, mesmo focando no mais infantil e pré-adolescente, nunca economizou em realmente tentar assustar seus leitores, tanto com o conteúdo, quanto com as ilustrações de Stephen Gammell.

E por mais que isso não tenha atrapalhado as vendas, criou, por exemplo, um movimento que tentou (e conseguiu) tirar as edições de muitas bibliotecas infantis. Infelizmente, no cinema as coisas não funcionam do mesmo jeito e Histórias Assustadoras… fica só no meio do caminho, sem chamar a atenção de nenhum público.

Na verdade, talvez ele um dia possa servir de elo perdido entre os pequenos fãs de cinema e os jovens fissurados em terror. Enquanto isso não acontece, seu lançamento só fez sucesso nos Estados Unidos, talvez pelo carinho do público com a série de livros, enquanto foi praticamente ignorado no resto do mundo inteiro. Incluindo o Brasil, que teve um lançamento acanhado e já apareceu no serviço de streaming da Amazon em busca de uma sobrevida mínima.

O que é uma pena, já que o filme acaba tendo muito mais acertos do que erros. O primeiro deles é por conseguir juntar as referências e contos em uma narrativa que não é refém de um formato episódico. Portanto, por mais que estejamos falando de 60 e poucos contos que compuseram os três livros, o filme consegue encaixar bastante coisa (e diversas referências) em uma linearidade que funciona, principalmente para quem não está familiarizado com a obra original.

No filme, quatro jovens de uma daquelas cidadezinhas pequenas do interior dos Estados Unidos acabam encontrando um misterioso livro em uma suposta casa mal-assombrada. O livro talvez tenha sido escrito por uma jovem que permaneceu enclausurada na casa até sua morte, mas que depois disso ficou contando histórias através das paredes da casa para quem tivesse a coragem de pedir por isso.

O problema é que as páginas ainda em branco do livro começam a ser preenchidas com histórias assustadoras e que tem como foco os amigos, que acabam tendo que enfrentar algumas criaturas bem (bem mesmo!) assustadoras.

Talvez “assustadoras” demais para um público mais tenro, o que pode ser colocado na conta tanto do diretor Andre Ovredal (que fez o divertido O Caçador de Trolls, mas derrapou no fraquinho A Autopsia), quanto do nome de Guillermo del Toro, tanto no roteiro, quanto na produção. Como é de esperar no currículo do cineasta mexicano, os monstros valem a pena e fazem jus ao trabalho original de Stephen Gammell. Portanto, você realmente não gostaria de dar de cara com nenhuma delas nem no pior dos seus pesadelos.

O que mais atrapalha Histórias Assustadoras… é justamente isso, nada além do que os personagens dando de cara com os monstros, que caminham calmamente em suas direções e não lhes permitem ter muita esperança de se salvarem de nada. Todas cenas de ação são óbvias, sem qualquer motivação ou possibilidade de terem qualquer reviravolta. Um desenvolvimento que bate bem com um público mais recém-chegado ao gênero, mas que não empolga quem já está um pouco mais acostumado com os clichês estruturais dos filmes de terror.

Resumindo, monstros assustadores demais em uma trama excessivamente infantil. Os mais jovens talvez achem as criaturas demais para sua falta de experiência. Os mais velhos, que acharão o visual bem legal, ficaram irritados com a trama infantil. E essa é a receita para o desastre.

Enquanto não encontra seu público, Histórias Assustadoras para Contar no Escuro vai ficar por aí, em um limbo onde ninguém vai lembrar dele enquanto ele conta suas histórias através das paredes dos serviços de streaming, como um fantasma em busca de alguém que vá lhe dizer que ele não estava errado, só foi injustiçado.


“Scary Stories to Tell in the Dark” (EUA, 2019), escrito por Dan Hageman, Kevin Hageman, Guillermo del Toro, Patric Melton e Marcus Dunstan, à partir da série de livros de Alvin Schwartz, dirigido por André Ovredal, com Zoe Margaret Colletti, Michael Garza, Gabriel Rush, Austin Abrams, Dean Norris, Gil Bellows e Austin Zajur


Trailer do Filme – Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

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