Homem Livre | Misterioso e cansativo


[dropcap]D[/dropcap]urante praticamente toda a duração de Homem Livre um pensamento inquieto não deixava de passar pela minha cabeça: quem diabos respeita alguém chamado Hélio Lotte? Bom, Hélio foi um músico famoso com esse nome, o que já levanta suspeitas de que há algo errado nesse filme. Depois descobrimos que ele cometeu um assassinato e saiu aparentemente intacto da prisão. Ou seja, sem traumas sexuais. Eu nunca esperaria tamanha dignidade de um Hélio Lotte.

Esse devaneio sobre nomes vem à cabeça durante a projeção porque ela é muito lenta. A desculpa é criar tensão, pois este é um thriller psicológico que tenta chegar perto de trabalhos como O Operário, mas por querer abraçar o mundo com sua narrativa sobre igreja, corrupção, sociedade e culpa se revela mais como esquizofrenia roteirística braba.

A história, porém, é básica: Hélio era um músico famoso que cometeu um assassinato e está saindo da prisão depois de 13 anos preso, acolhido por uma igreja evangélica de bairro indicada por seu irmão. E o medo se instaura na gente a partir do momento que ouvimos o Pastor Gileno (Flavio Bauraqui) falar mansamente com um sorriso obrigatório e um olhar que quer dizer algo mais que não sabemos. Não te dá medo pessoas de fala mansa dentro de igrejas? O mistério é alimentado mais ainda por um protagonista cuja única função na história (uma interpretação simples de Armando Babaioff) é ficar calado, cabisbaixo e olhar com desconfiança para todos, enquanto delira que pessoas estão tentando lhe fazer algum mal.

Toda a trama por trás do desafio de Hélio em voltar às ruas e recomeçar sua vida é o que torna Homem Livre minimamente interessante. No começo da história eu anseio entender qual é o problema desse rapaz que mudou de vida por alguma besteira que fez no passado e que agora tem medo do que as pessoas irão fazer se descobrir que um assassino está à solta. É uma premissa digna de thriller. Mas qual a origem verdadeira de suas paranoias alimentadas noite e dia?

Nunca saberemos. O filme está mais interessado em nos entregar inúmeros jogos de cena que nos fazem entrar em seu delírio sem nunca nos revelar o mecanismo por trás de sua dor. Há um ótimo momento onde Helio vê um vulto na cozinha de noite, mas quando acende a luz esse vulto desaparece. O que isso significa? Essa é a sua vítima? Mas por que ela está perseguindo seus sonhos? Quem é ela? Por que uma crente ninfeta de 18 anos está tão interessada em se entregar para nosso amigo Hélio Lotte? Sabemos que ela existe, o que estraga a reviravolta clichê dela ser um fantasma, mas ela representa um fantasma do passado. E mais uma vez há o interesse do espectador em descobrir que fantasma é esse.

Mas o roteirista Pedro Perazzo não nos quer contar. Ele fica repetindo a mesma cena de Hélio em um carro prestes a atropelar sua vítima – uma mulher – mas nunca nos diz como ela se relaciona com a ninfeta. Conforme a história avança as perguntas se acumulam, e respostas não se materializam. E isso aos poucos cansa. Chega uma hora que eu desisto. Não quero mais saber quem foi e quem é Hélio Lotte. Nem sequer mais me interesse pelo mistério de porque as pessoas o respeitam com esse nome. A partir daí basta assistir um filme no automático para depois esquecer.


“Homem Livre” (Bra, 2017), escrito por Pedro Perazzo, dirigido por Alvaro Furloni, com Armando Babaioff,, Flavio Bauraqui  e Thuany Andrade.

Trailer – Homem Livre

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