Instinto Materno narra a história de Cornelia, uma mãe amorosa que, ao ficar sabendo que seu filho, Barbu, matou um adolescente em um acidente de carro, automaticamente toma para si a responsabilidade de protegê-lo a todo custo de uma ação judicial.
Contando com performances extremamente autênticas, o elenco romeno entrega um trabalho soberbo que é ainda mais enfatizado pela decisão inteligente do diretor Calin Peter Netzer de fazer uso frequente de shaky cam – técnica em que a câmera é segurada na mão permitindo-se filmar com movimentos menos estáveis, agregando assim realismo às tomadas.
O cineasta, aliás, acerta em cheio em diversas decisões que toma para causar o máximo impacto com a história e os ótimos intérpretes que tem em mãos. Como exemplos, temos o uso de longas tomadas sem cortes e a câmera sempre próxima dos atores – usualmente sobre os ombros ou em ângulos fechadíssimos – trazendo proximidade dos espectadores para com os personagens e nos tornando verdadeiros participantes na história que transcorre na tela.
Como se não bastasse, a obra conta com um texto inteligente e cheio de diálogos naturais, quase corriqueiros, que dão um tom de documentário ao filme. Mas o grande trunfo mesmo de Instinto Materno está em sua trama. Mostrando de forma bela, mas crua, o amor que uma mãe nutre por seu filho, o longa consegue criar um interessante estudo de caso de como uma mulher que não tem limites no que faria pelo bem de seu rebento, enquanto cria um engenhoso paralelo de como uma coisa tão boa também pode se transformar em algo sufocante e castrador (note como o filme faz questão de salientar os problemas na vida sexual de Barbu com sua namorada).
Ainda apresentando um dos diálogos mais emocionantes dos últimos tempos em seu terceiro ato quando Cornelia faz uma visita aos pais do garoto atropelado, Instinto Materno se mostra como um longa tocante e complexo sem nunca apelar para cenas ostensivamente melodramáticas.
Ganhador do Urso de Ouro em 2013, o filme é definitivamente um dos destaques do ano que passou e, como deve ter apenas uma curta passagem pelos cinemas nacionais devido a sua limitada distribuição, é uma obra para a qual vale a pena correr para o cinema o quanto antes para não perder a oportunidade de ver este magnífico longa na tela grande.
Cihld’s Pose (2013), escrito por Calin Peter Netzer e Razvan Radulescu, dirigido por Calin Peter Netzer, com Luminita Gheorghiu, Bogdan Dumitrache, Natasa Raab e Ilinca Goia.