O Coisa Ruim não dá folga para o casal Ed e Lorraine Warren. Depois de uma casa mal-assombrada, uma “picaretagem” britânica, uma boneca e um freira, agora é hora de enfrentar o pior dos inimigos: o ser humano. Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio dá spoiler no título e, pelo menos, tenta fazer algo diferente.
O filme deixa de ser dirigido por James Wan e quem assume a cadeira de diretor é Michael Chaves, vindo diretamente de A Maldição da Chorona (que é uma espécie de Spinnoff do “Conjuringverse”, então está tudo em casa!). Mas a grande novidade é mesmo fugir um pouco dos próprios clichês da série, ainda que visualmente Chaves não consiga muito fazer o mesmo.
Mais uma vez o filme é baseado em uma história real o suficiente para quem acreditar nisso tudo, entretanto, parte dessa trama esteve em todos jornais e ninguém poderá falar o contrário. O “Assassinato de Brookfield” ficou conhecido como o primeiro caso de um julgamento onde o acusado alegou ter sido movido pelo demônio para cometer o crime. O assassino, no caso, foi o do seu senhorio.
O casal Warren entra nessa história um pouco antes, enquanto auxiliavam no exorcismo do irmão mais novo da namorada do assassino. Aparentemente também, foram os dois que tiveram essa ideia de defesa jurídica inusitada. Spoiler da vida real, não deu muito certo e o acusado foi condenado, mas isso não importa, o terceiro Invocação do Mal está mais interessado naquilo que não está no cânone da realidade cética e chata.
De qualquer jeito, Invocação do Mal 3 explora essa investigação onde o casal Warren pretende provar que tudo aquilo foi o resultado de uma manipulação demoníaca. A ideia de colocar os pés do chão ajuda o filme em um primeiro momento, já que arranca um pouco os protagonistas de um lugar de apenas reagir àquilo que estão dando de cara. Por outro lado, não tenha muitas esperanças, não demora muito e tudo está de volta à tudo aquilo que todo mundo quer: jump scares, volume alto, sombras, aparições e uma trama com uma descoberta no final que muda tudo.
O roteiro é escrito por David Leslie Johnson-McGoldrick (de A Órfã e Aquaman) e, mesmo tentando ser criativo a partir de uma ideia do próprio James Wan, não parece conseguir emplacar nenhuma motivação interessante para ninguém no filme inteiro. A impressão é de todo mundo tomando as decisões menos inteligentes baseadas em “achismos” e ideias baseada em poucos fatos. A própria intenção da vilã é difícil de compreender e fica demais dentro do bom e velho “estava meio entediada e decidi conjurar um demônio”.
Entretanto isso casa, justamente, com uma espécie de “Satanic Panic” que varreu os Estados Unidos nos anos 90, portanto, usar isso como referência para a história do casal chegando a essa nova década é uma referência divertida e interessante. Do mesmo jeito, a homenagem ao próprio O Exorcista no começo é sempre bem-vinda (padre saindo do táxi), assim como fica nas mãos do bom trabalho do diretor toda construção das cenas envolvendo os exorcismos e até o dito cujo em si, com contorcionismos, vozes guturais e todo resto do manual.
Infelizmente, Chaves parece meio obcecado demais por braços podres e dedos negros agarrando as coisas, mas no resto do tempo, as aparições funcionam e dão seus sustos enquanto atazanam a vida do casal de protagonistas. Na verdade, tanto por tentar contar uma história um tanto quanto mais complexa, assim como não lidar somente com fantasmas, são menos sustos, mas o ritmo ajustado compensa isso e a história corre sem que o espectador perca o interesse.
Por isso mesmo, ainda que os dois outros filmes acabem sendo mais interessantes, com mais sustos, melhores efeitos especiais e os personagens ainda sendo conhecidos pelos fãs, Invocação do Mal 3 traz um pouco de tudo isso de volta e ainda tenta ter uma história que conversa mais com o “mundo real”, o que é uma boa notícia para quem temia apenas uma repetição. Não é melhor que os dois, mas tampouco vai decepcionar os fãs e deve, com certeza, dar fôlego par a série continuar firme e forte dentro do interesse do pessoal.
“The Conjuring 3: The Devil Made me Do It” (EUA, 2021); escrito por David Leslie Johnson-McGoldrick e James Wan; dirigido por Michael Chaves; com Patrick Wilson, Vera Farmiga, Ruairi O´Connor, Saraha Catherine Hook, Julian Hiliard, John Noble e Eugenie Bondurant