Jack Reacher – O Último Tiro | Tom Cruise encarna personagem de best-seller e não economiza sopapos e tiros

Existe um momento que resume perfeitamente o novo filme de Tom Cruise, Jack Reacher: O Último Tiro, um em que a atendente de um hotel, após ser indagada por um detetive se alguém hospedado ali poderia ter força suficiente para matar uma jovem com único soco. A moça então afirma que sim e aponta para o quarto onde o personagem título está hospedado.

E por mais que seja difícil acreditar na reclamação de fãs, tanto dessa, quanto de diversas outras obras literárias que são levadas ao cinema, dessa vez a razão é deles. Estrela de mais de 10 livros (esse filme é a adaptação de Um Tiro) do inglês Lee Child, o Jack Reacher das páginas é um homem loiro, com 1,98m e mais ou menos 115kg. Bem diferente dos 1,70m e 70 e poucos quilos de Cruise.

Lógico que ninguém em sã consciência acha que o filme precisa ser a copia perfeita do livro (nunca vi ninguém reclamar da ausência do chato do Tom Bombadill no Senhor dos Anéis), mas tampouco é difícil aceitar que a atendente do hotel fosse achar que o personagem de Cruise fosse capas de tal crime. E é ai que entra a adaptação.

Talvez o livro Um Tiro seja divertido e cheio de reviravoltas, mas na hora de cair na mão Christopher McQuarrie o resultado é uma trama sem ritmo, sem ação, e que prima por uma completa falta de sentido das ações de seu protagonista. Se é difícil acreditar em Jack Reacher, é mais impossível ainda se empolgar com o filme, ainda que em certos momentos o diretor faça até você acreditar que isso seria possível.

McQuarrie, que é famoso por ter em sua estante um Oscar pelo roteiro de Os Suspeitos e ainda parece viver dessa fama (já também é dono dos roteiros de Operação Valquíria e do remake O Turista, ambos bem aquém de serem citados), até empolga ao apresentar Jack Reacher: O Último Tiro, com uma série de planos detalhes, plongees (aqueles enquadramentos diretos do alto) e estilo para mostrar esse misterioso atirador de elite que executa cinco pessoas sem nenhuma razão aparente. Melhor ainda, MaQuarrie se esforça esteticamente para criar o suspense e a surpresas ao redor do rosto do assassino, o que acaba “vendendo” um filme dinâmico, mas entregando um presente bem entediante.

O Jack Reacher do título é um ex-investigador do exército que é chamado pelo acusado (que é, na verdade um veterano da Guerra do Iraque)… bom, nem tanto chamado, já que vive uma vida completamente afastada dos olhos de todos e tem a moral de “não ser encontrado, mas sim encontrar os outros”. É lógico que o tal assassinato quíntuplo se desdobra em uma conspiração e Reacher acaba ajudando a advogada de defesa do caso (Rosamud Pike) a desvendar o crime.

Logo de cara Jack Reacher: O Último tiro é esse filme grande de ação à moda antiga, com helicópteros, perseguições barulhentas na contramão, um vilão por trás de tudo e um protagonista que desce a mão em cinco valentões enquanto tem fôlego para uma ou outra frase de efeito divertidinha. Mas em nenhum momento isso tudo é feito com a mínima naturalidade para que esse monte de ¿mentirinhas¿ sejam aceitas naquele mundo.

Jack Reacher Filme

A perseguição vem em razão daquele problema citado no primeiro parágrafo, os helicópteros não fazem a menor diferença e o vilão é tão exagerado que dá até preguiça de acreditar nele (sem olho, sem dedo que fugiu de Gulag na Sibéria e é interpretado pelo diretor Werner Herzog só para carimbar sua incrível carreira). Isso, sem contar uma vexatória luta na chuva com um dos capangas (que espera a chegada do herói ajoelhado concentrado em sua arma, por mais que isso não faça o menor sentido) que vai totalmente contra tudo que você acreditaria que o personagem pudesse fazer naquela situação, e só serve mesmo para criar aquele pequeno fiozinho de sangue no canto da boca.

E por mais que o McQueerie faça tudo isso com o mínimo de estilo, exagerando nos plongees, mas acertando em certo momento como quando recria a sequencia das mortes de modo criativo e impactante (assim como fez em sua primeira experiência como diretor em Sangue Frio), escorrega ao não perceber que tem informações e desdobramentos demais para tão pouco filme. Principalmente quando toda pinta dele é de se tornar um filme de ação, descartável, porém ainda assim agitado.

Mas se ele não conseguiu perceber que Tom Cruise sequer conseguiria nocautear alguém, quanto mais matar (ainda que seja curioso tentar entender como o policial chegou a essa conclusão, principalmente pois ela nem ao menos morreu assim), ficaria difícil achar que ele chegaria a conclusão que o resto do filme faria tão pouco sentido como isso.


“Jack Reacher” (EUA, 2012) escrito por Lee Child (livro), Christopher McQuarrie , dirigido por Christopher McQuarrie , com Tom Cruise, Rosamund Pike, Richard Jenkins, David Oyelowo, Werner Herzog, Jai Courtney e Joseph Sikora.



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