Jogos Mortais X | Consegue ser novo e isso é o mais importante

Se você não sabe se o X no título de Jogos Mortais X representa um dez, é só marra ou a franquia foi comprada pelo Elon Musk, tudo bem. Principalmente, porque o filme é realmente eficiente sozinho. Mais ainda, talvez ele seja até um dos mais interessantes da série, o que não é muito, mas, ainda assim, é uma ótima notícia para os fãs.

A grande mudança aqui é, justamente, a presença do próprio John Kramer (Tobin Bell), vulgo Jigsaw, como protagonista e não apenas como uma voz em um gravador ou um flashback sem sentido. E o acerto é tanto, que será fácil torcer e entender as motivações desse serial killer maluco que tem todos seus conceitos morais deturpados por uma ideia de que ele não mata ninguém.

O filme vai lá para trás no tempo, em algum lugar após o primeiro filme e entre algum outro e outro, já que mitologia é tão intrincada e bagunçada que o filme não se preocupa muito em posicionar o filme exatamente em algum ponto no tempo. O importante é que a história acontece antes de Kramer morrer (parece óbvio, mas na franquia isso não é), já tendo que lidar com seu câncer terminal no cérebro e tentando um tratamento exótico no México com a filha de um médico que pesquisou o assunto e obteve resultados eficientes. Mas é lógico que as coisas não dão certo e Kramer pode colocar em ação seu hobby.

Os acertos passam primeiro pela dupla de roteiristas Josh Stolberg e Pete Goldfinger, ambos responsáveis pelos últimos dois filmes, mas agora com intenções bem diferentes. Sai de cena os filmes escorados nas torturas e personagens dentro dessas “máquinas” e entre em cena uma preparação completa para um ápice muito mais contundente e interessante. Como se invertesse a relação dos espectadores com as vítimas, a surpresa agora não é descobrir a razão deles estarem lá, mas sim o quanto eles se sacrificarão para saírem vivas daquela situação.

Em uma franquia que sempre fez tão pouco para ser diferente do filme anterior e está sempre mergulhada em uma repetição preguiçosa, qualquer mudança é um desafogo enorme e Jogos Mortais X faz isso.

A direção e essas boas intenções e resultados parecem ficar nas mãos de Kevin Greutert, também um veterano na série de filmes. Greutert já assinou a montagem de seis Jogos Mortais, incluindo o primeiro, portanto, é o “pai” daqueles cortes rápidos e que correm em planos detalhes dos personagens presos. Além disso, e de também ser o montador no novo, Greutert assinou a direção de duas outras sequências, incluindo O Final, de 2010, que decididamente não era o final. Brincadeiras à parte esse novo filme, X, tem tudo no visual que os fãs esperam, dos cortes ao gore.

Se todo fã da série quer decepamentos, decapitações, olhos sugados, gente queimada e pessoas se cortando, é isso que eles ganharão. Tudo com os devidos exageros que a série tem e os planos detalhes aflitivos e doloridos. Os aparatos de Jigsaw parecem ainda mais improvisados, enferrujados e sujos, o que recorre diretamente às ideias do primeiro, algo que soa como uma ótima notícia dentro de um filme que tenta, realmente, ser algo novo dentro da série.

Uma novidade que também passa, obviamente, por algumas surpresas e reviravoltas que não serão grandes novidades para quem já conhece a franquia, mas ainda assim funcionam dentro da estrutura do filme e nunca tentam ser a estrela dele.

Como se, diferentemente dos outros, quanto sejam, a estrela do filme não sejam as vítimas, mas sim esse homem pego em uma situação onde sua revolta não é vazia ou pessoal, mas sim diante de uma injustiça poderosa e que dói só de pensar. Kramer não consegue lidar com a frustração de ter esperança e vê-la escorrer por seus dedos como areia. É essa sensibilidade do diretor de tratar seu personagem, na enorme maioria do tempo, com fragilidade que talvez eleve Jogos Mortais X para um lugar diferenciado.

É lógico que essa frustração desperta nele tudo de ruim que ele tem, mas, ainda assim, é uma causa nobre e humana que, pela primeira vez na série, preenche o assassino com mais do que apenas uma vontade de redimir os outros através da sua violência.

Não que isso redima a série e fará dela algo além da persistência de repetir suas ideias, muito provavelmente suas continuações pecarão nos mesmos erros dos outros filmes, mas pelo menos Jogos Mortais X demonstra que é possível fazer algo diferente e ainda assim eficiente. Portanto espere pelo décimo primeiro, seja em algorismo romanos ou não.

“Saw X” (EUA, 2023); escrito por Josh Stolberg e Pete Goldfinger; dirigido por Kevin Greutert; com Tobin Bell, Shwanee Smith, Synnøve Macody Lund, Steven Brand, Renata Vaca, Joshua Okamoto, Octavio Hinojosa, Paulette Hernandez e Michael Beach.

SINOPSE – Em busca de uma cura para seu câncer, John Kramer acaba sendo pego em um esquema de mentiras que levarão os culpados a decidirem os caminhos de suas vidas através da dor.

Trailer do Filme – Jogos Mortais X

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