[dropcap]O[/dropcap]mar Sy já é considerado um deus na França e um ator de sucesso no mundo todo. Em Jornada da Vida ele interpreta ele mesmo em uma versão chapada, contemplativa, que quer ser aquele protagonista em busca de suas origens, mas sem o peso das decisões dos seus antepassados.
Já o garoto Yao, interpretado com energia por Lionel Louis Basse e que leva o título original do filme, é sua versão da nova geração. Um leitor voraz de Júlio Verne e que sonha com os desafios do seu tempo, como colonizar Marte. Ele é o verdadeiro dono da jornada do filme e que apresenta ao personagem de Omar Sy, um escritor de sucesso que vive na França, o que significa a África longe dos livros e dos olhos do europeu.
Juntos eles criam uma química básica de amizade, companheirismo e de certa forma cumplicidade. Chega um momento em que uma bela mulher os abandona no meio da aventura e eles não precisam trocar uma palavra para entender que este é apenas o final de mais um capítulo.
Jornada da Vida tenta valorizar de todas as formas o caminho, exaltando cenários com árvores milenares enquadrando nossos heróis e pores-do-sol estonteantes, mas se esquece de introduzir um desafio digno de uma aventura. É como se todo o percurso de volta à casa de Yao fosse demarcada em um mapa que prevê pequenas sensações de aventura, apenas o suficiente para que o espectador fique na sala.
Pegue, por exemplo, as infinitas menções aos antepassados, às tradições da música, da dança, das cerimônias. São homenagens fechadas, que não abrem portas para o espectador curioso, mas apenas piscam para o já iniciado, que sabe do que o filme está falando. Sem menosprezar a competente produção, lembra aqueles filmes caseiros que assistimos em família porque pessoas estranhas a essa realidade não vão entender, e mesmo que a intenção fosse manter o mistério, passa longe de ser hipnotizante.
É válida, por outro lado, a inserção do personagem de Omar Sy ao mundo africano pelo contraste. Acostumado ao comportamento do branco capitalista que enxerga tudo sob a ótica do dinheiro, ele vê o abandono do seu taxista como uma tentativa de extorsão, não conseguindo interpretar as boas vindas ao estrangeiro de sua família, que mata um animal apenas para oferecê-lo como refeição. É óbvio que a história tenta criar esse contraste para depois revertê-lo nessa busca pelas origens, mas ela ocorre de maneira tão passiva que passa despercebido ao espectador.
Muitos gostarão desse filme porque tem o lindo, simpático e convincente Omar Sy fazendo o que ele sabe fazer de melhor: ser um africano e nos mostrar por contraste o que isso significa. Mas há filmes melhores em seu currículo que já geram esse mesmo efeito. Fazer uma jornada às origens serve apenas como um serviço aos fãs e para exibir nos fins de semana para a família e amigos.
“Yao” (Fra/Sen, 2018). dirigido e dirigido por Philippe Godeau e Agnès de Sacy, com Omar Sy, Lionel Louis Basse e Fatoumata Diawara.