[dropcap]O[/dropcap] clima de um filme como Julho Agosto não poderia ser melhor para as férias de meio do ano. Aliás, poderia sim: nós aqui do Brasil poderíamos ter verão, e não inverno, nessa época. Infelizmente todo o calor e o frescor do filme ficam congelados junto com nossas mãos. Mas se você pelo menos estiver bem agasalhado é bem provável que irá conseguir ao menos sentir o coração derreter levemente diante dos acontecimentos inusitados que permeiam essa família moderna francesa.
A história é quase que uma simples listagem de eventos que a menina pré-puberdade Laura e sua irmã mais velha Joséphine irão passar em suas férias, em companhia inicialmente da mãe e do padastro, para depois partirem para a casa do pai, na Bretanha. Não há nada complexo na trama, mas há um charme no ar, na paisagem e nas músicas, e o inevitável grito da puberdade chegando ou martelando sua dura existência.
Ninguém leva a menina Laura a sério, como toda pivete na família, mas ela está no meio do caminho para se tornar uma “moça”. Seu jeito sapeca se mistura com suas tentativas de sedução e de amadurecimento “na marra”, fumando e bebendo. Curiosamente é ela a que mais possui cabeça e tatos que a tornam a irmã sensata da dupla. Já Joséphine é uma incógnita inconsequente, e parece existir na história apenas para participar de um roubo que irá levar a divertidas surpresas mais para a frente. Joséphine está particularmente interessada em qualquer coisa que se traduza como diversão fácil, e Laura parece estar desesperada para sair daquele lugar.
Cada um dos seus pais e mães está sofrendo algum “viés”, e cada um ao seu jeito, mas facilmente resumíveis em uma crise financeira e duas crises de meia-idade, cujas revelações fazem parte da trama e tentam criar algum drama onde não existe nenhum. De qualquer forma isso impacta nas férias das meninas, mas nada é motivo suficiente para estragar o clima, embora por algum motivo os jovens de classe média conseguem encontrar alguma razão para alterarem radicalmente o humor. São meninas mimadas, mas não insuportáveis. Apenas temperamentais.
A melhor parte do filme é acompanhar sua trilha sonora, e tenho quase certeza que ela foi compilada para ir direto para um CD ou streaming vendável. Ela resume basicamente o que esperar deste filme: apenas momentos de entretenimento cercados de uma ou outra surpresa interessante sem ser demasiadamente arriscada. Não é o que todos esperam de umas belas férias?
“Juillet Août” (Fra, 2016), escrito por Diastème e Camille Pouzol, dirigido por Diastème, com Luna Lou, Pascale Arbillot, Alma Jodorowsky, Patrick Chesnais, Thierry Godard