[dropcap]L[/dropcap]emebel é trabalho da diretora estreante Joanna Reposi Garibaldi sobre o ensaísta, crônico e novelista Pedro Segundo Mardones Lemebel, um ativista político no Chile em plena ditadura de Pinochet. Sua maior conquista em toda sua vida? Ser abertamente gay nessa época.
Sim, o trabalho de Joanna Garibaldi é relevante como documentação da História, mas não, essa nem de longe é uma história que vale a pena ser vista. Garibaldi não deixa fácil para o espectador que não conhece o artista plástico/escritor, e deixa irrelevante este filme para todas as outras pessoas que conhecem e que gostariam de saber mais. Focada nas exposições que envolviam o uso do corpo de Lemebel na época que ficou conhecido, em especial suas exibições de auto-pirotecnia (botar fogo no próprio corpo), o filme é um repertório de testemunhos e imagens de arquivo sem qualquer conexão lógica.
Os testemunhos são frases do próprio Lemebel sobre como os gays estão sendo massacrados junto de todas as outras minorias, mas são frases genéricas que não dizem respeito a nada exceto sua própria visão pessoal da questão.
E Lemebel (o entrevistado/homenageado/documentado) tem uma resposta para tudo, desde que ele faça as perguntas. A reposta fundamental é que para se erguer minorias podem usar de violência em alguns casos. É como tudo começa, e ele dá o exemplo das primeiras feministas. Esse é um ponto válido. Infelizmente nós sabemos que origens violentas acabam gerando uma resposta, necessariamente violenta, e mais uma vez, as estatísticas são infladas de acordo com a cartilha do oprimido.
Ainda que houvesse algo de valor em Lemebel (o filme), seu conteúdo é mal trabalhado. É mais uma homenagem e menos um documentário. Uma homenagem-gay, diga-se de passagem.
“Lemebel” (Chi/Col, 2019); escrito por Joanna Reposi Garibaldi e Manuel Maira; dirigido por Joanna Reposi Garibaldi; com Pedro Lemebel.