Leonor Jamais Morrerá | Uma homenagem ao cinema

Toda Mostra de SP merece sua cota de homenagem ao cinema. E nesse ano Leonor Jamais Morrerá é o filme melhor cotado para fazer as honras. Ele é leve, fofinho e inclusive didático. Ele faz com pouco o que a maioria precisa de muito. Ele é filipino, um país pobre, com dificuldade de desenvolver seu cinema, então ganha um valor social. E, por fim, ele é divertido do começo ao fim.

Sua estrela é Leonor (Sheila Francisco), uma roteirista aposentada que sente que pode mais. Em luto desde que seu filho se foi em um acidente no set de filmagens, ela está terminando seu último roteiro inacabado quando uma TV cai em sua cabeça. E quando toda a magia do faz-de-conta na telona começa.

O filme atravessa várias paredes narrativas, mas nunca fica confuso de entender. O sucesso na empreitada é graças a um trabalho em conjunto de edição, fotografia, som, arte e atuações. Cada um desses elementos mantém a personalidade de cada momento em que a realidade ou ficção adquire um novo formato, incluindo os próprios gêneros com os quais a produção brinca: ação, drama, musical, comédia.

Além disso, o toque final da direção e roteiro inspirados de Martika Ramirez Escobar é saber disparar os gatilhos necessário para sabermos quando trocar nossa percepção do mundo diegético. A diegese é tudo o que diz respeito ao que pode ou não pode acontecer dentro do universo de um filme. E se o mundo diegético afirma que em cenas de ação uma pá pode passar a dois palmos de distância do ator e mesmo assim acertar o personagem, assim será.

Detalhes como esse piscam o tempo todo para o espectador, que sabe que uma cena foi mal feita de propósito. É a tal da referência de época, dos filmes de ação de baixo orçamento. Algo que nós cinéfilos adoramos. Então nada mais natural que cineastas vivam flertando com subgêneros como este, ainda apreciado no mundo todo.

Um ponto de destaque deve ser dado à atriz Sheila Francisco. Mais habituada ao teatro, sua participação especial no debug da diretora Martika Escobar foi certeira. Sheila esbanja uma energia e simpatia infinitas. Sem ela todo o projeto poderia ir por água abaixo. Com ela nós temos certeza que o filme poderia ir ainda além.

No entanto, apesar da brincadeira do filme ganhar sua liberdade poética até o fim, a conclusão de Leonor… acaba ficando aquém das possibilidades que o próprio filme levantou. Apelando para o “tudo pode” nas regras de um roteirista ou do próprio cinema brincando de metalinguagem, acaba soando fácil demais concluir a história. Pior que é fácil mesmo, uma vez que você botou toda sua imaginação a serviço de recriar mundos.

Isso quase desmerece alguns inspirados momentos do filme, que roubam nossa atenção por conta do suspense das promessas ainda não cumpridas, como se Leonor conseguirá sair do seu estado dormente e produzir seu último roteiro. No entanto, somos cinéfilos, e detalhes como este é um pedadilho comparado com a leveza e diversão despretensiosa que este filme oferece. Vale o momento descontração, que ninguém é de ferro.


“Leonor Will Never Die” (Phi, 2022), escrito e dirigido por Martika Ramirez Escobar, com Sheila Francisco, Bong Cabrera e Rocky Salumbides.


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Trailer do Filme – Leonor Jamais Morrerá

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