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Lion: Uma Jornada para Casa | Uma sensível e emocionante busca pelo passado


Todo ano na Índia 80.000 crianças desaparecem, são mais ou menos 11 milhões delas que vivem nas ruas. Lion: Uma Jornada Para Casa é a história de apenas uma dessas crianças. Uma história que por mais que seja triste e trágica, talvez seja uma das poucas acabou bem.

Nela, Saroo (vivido pelo simpático e cativante Sunny Pawar) acaba entrando em um trem por engano, se perde de seu irmão Guddu, e se torna mais um número dessas estatísticas. Para sua sorte, acaba sendo adotado por um casal australiano, vivido por Nicole Kidman (que tem uma incrível habilidade de se comunicar com um olhar) e David Wenham. Duas décadas depois, porém, Saroo (Dev Patel) para encontrar seu próprio presente precisa voltar até seu passado e encontrar sua casa.

Mas com certeza Lion é muito mais do que essa sinopse mostra. Baseado no livro de memórias do próprio Saroo Brierley, tanto o roteiro de Luke Davies, quanto a direção de Garth Davis criam um filme que sabe ser lírico e poético, silencioso e doloroso, além de cheio de esperança e de uma tristeza melancólica. Afinal ele entende que sua história feliz é bem diferente daquele que se torna o destino da grande maioria das crianças na situação de Saroo.
Durante quase metade dessa história você será apresentado a um drama silencioso com esse pequeno Saroo tentando sobreviver nas ruas da Índia, fugindo ele não faz a mínima ideia de que, mas como se soubesse que quanto longe ficasse dali, mais teria chances de conseguir viver aquela vida.

Esse silêncio cala até o clamor de desespero do pequeno protagonista dentro do trem, mas não consegue impedir que cada grito seu chamado o irmão ou a mãe em meio a multidão sejam um aperto no coração. O mesmo pequeno Saroo que começa o filme sentindo a liberdade em meio a uma revoada de borboletas amarelas, acaba descobrindo que sem ter para onde ir e nem para onde voltar essa liberdade é apenas aparente.

E nesse momento, Garth Davis e o sempre ótimo diretor de fotografia Greig Fraser (Foxcatcher, Rogue One e A Hora Mais Escura) fazem com que cada cena surja na tela quase como uma pintura. Composições abertas, vivas e que tornam cada quadro inesquecível, seja no mais lindo dos cenários ou na mais suja das pobrezas. Uma dicotomia que resuma a Índia, mas que aqui parece criada à mão por algum artista apaixonado pelo país.

Lion: Uma Jornada Para Casa Critica

Já essa segunda metade, para conseguir desenvolver essa história, Lion se sente obrigada a fugir dessa apreciação estética e tentar mergulhar mais dentro da alma desse Saroo adulto. Patel surge ai com uma força e uma coragem incrível, encarando a câmera sem nenhum receio e criando um personagem que passa por diversas nuances. Na presença do irmão adotivo, Saroo deixa transbordar a raiva e a fragilidade de alguém perdido dentro de si mesmo.

Nesse segundo momento, Lion é exatamente sobre esse personagem perdido dentro dele próprio. Que não consegue viver o presente, pois não se permite deixar o passado e a culpa de estar ali deixa-lo. A culpa por ter conseguindo sair daquelas estatísticas do primeiro parágrafo e ter tido uma história feliz, muito provavelmente, enquanto sua família sofria todo esse tempo sem saber o que realmente aconteceu. Como se não conseguisse enxergar quem realmente é (ou seria) caso não tivesse se perdido naquele trem e isso ele não conseguisse perdoar.

E o ritmo desse segundo momento ainda se dá com uma incrível montagem de Alexandre de Franceschi que parece olhar para o presente como uma extensão do passado e encaixa essas duas linhas do tempo como se fossem uma só. Passado e presente se misturam e fazem esse Saroo adulto reviver sua infância e em certo momento até atender pelo possível chamado do irmão a sua procura no dia de seu desaparecimento. Um ritmo que carrega o espectador para um final sensível emocionante e cheio de lágrimas.

Lion: Uma Jornada Para Casa é então sobre esse menino que se perde, encontra uma nova família e não consegue se completar enquanto não se encontra e descobre que até seu nome ele pronunciava errado. Uma busca por sua personalidade, ainda que ele saiba que foi tudo que ele passou que criou esse verdadeiro Saroo. Uma história melancolicamente triste e cheia de esperança sobre apenas uma dessas 80.000 crianças que se perdem na Índia por ano.


“Lion” (Aus/EUA/RU, 2016), escrito por Luke Davies, à partir do livro de Saroo Brierley, dirigido por Garth Davis, com Dev Patel, Rooney Mara, Nicole Kidman, Sunny Pawar, Abhishek Bharate e David Wenham


Trailer – Lion: Uma Jornada Para Casa

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