Mar Infinito | Finito


Os mistérios de Mar Infinito são os mesmos da humanidade. Pelo menos, provavelmente serão diante do fim iminente. Seja qual for esse término, talvez da humanidade inteira, talvez de apenas uma das pessoas. A sensação de descobrir o tamanho diminuto diante do todo.

Se tudo parece filosófico e poderoso, é porque a ficção científica portuguesa ruma exatamente para esse lugar. Do quanto esse infinito é realmente infinito. Se esse mar pode continuar batendo na praia até o final, mesmo não sendo finito. A humanidade encontrou esse lugar, uma espécie de limbo, enxergar além dele é um exercício de esperança que é difícil de fazer.

Miguel (Nuno Nolasco) está nesse “não lugar”, olhando para o alto e vendo os foguetes decolando para um novo planeta onde a humanidade irá permanecer viva, entretanto, está olhando para o lado e não enxergando mais ninguém, já que ele faz parte de uma minoria de pessoas (ou maioria), que não teve o direito de embarcar nessa jornada.

O personagem então permanece perdido entre o esforço para colocar seu nome na lista de colonizadores enquanto esgota seu niilismo diante de qualquer tipo de esperança. Talvez até como um escudo contra o medo de ficar para trás. Em certo ponto Miguel encontra Eva (Maria Leite), mais uma sobrevivente do Planeta Terra, e o envolvimento dos dois pode significar aquela vontade de Miguel de permanecer lutando.

A direção de Carlos Amaral é econômica e simbólica. Encontra esse futuro que não parece estar tão longe, mas, ao mesmo tempo, não parece querer estar perto. Não em termos de tecnologia, mas sim no sentido de significado. Um mundo vazio, silencioso e a espera. As luzes acesas não parecem significar vida, mas sim esquecidas por quem já foi embora.

O roteiro, também do diretor, aos poucos vai colocando o espectador não só dentro de um esforço filosófico para entender o significado daquilo tudo, como também estende a trama para outros lugares e tempos. É difícil apontar ali o que é real e o que é o desespero de ser deixado para trás. O que é memória e o que é desejo. A realidade se dobra e o planeta no outro ponto da galáxia pode ser até mesmo bem mais perto, dentro de cada um.

Mar Infinito é lírico e sutil, tem espaço para um monte de discussões poderosas e profundas, mas nunca se distancia da solidão. Um filme sobre o quanto é importante o presente e do quanto o que fica para trás são memórias, como luzes que se apagam sem ninguém para enxergar.

O outro lado do mar infinito é aqui mesmo, é preciso seguir em frente para encontra-lo ao invés de apenas ficar sonhando com as estrelas.


“Mar Infinito” (Por, 2021); escrito e dirigido por Carlos Amaral; com Nuno Velasco, Maria Leite, Paula Calatré e António Durões


O filme faz parte da cobertura da 45° Mostra de Cinema de São Paulo

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