Medo Profundo não tem muitas pretensões além de deixar o espectador grudado na cadeira enquanto a ação se desenrola. O problema é que isso não é exatamente uma tarefa fácil e requer habilidades bem além daquelas demonstradas aqui pelo diretor e co-roteirista Johannes Roberts. Assim, o que temos são duas personagens mal construídas, uma incômoda falta de lógica e uma irritante insistência em apontar o óbvio. O resultado final está longe de compensar os pouquíssimos momentos eficientes.
Lisa (Mandy Moore) e sua irmã Kate (Claire Holt) estão de férias no litoral mexicano. A protagonista havia planejado uma viagem romântica ao lado do namorado, mas ele terminou com ela por ter “ficado entendiado” com Lisa, que não é destemida, espontânea e aventureira como a irmã. Para provar ao ex que ela pode, sim, ser divertida, Lisa aceita embarcar com Kate para um mergulho em mar aberto onde, de dentro de uma gaiola, elas poderão observar os tubarões brancos que nadam por ali. Os dois rapazes que as convidaram vão primeiro, e dá tudo certo. Entretanto, quando chega a vez das irmãs, o guindaste que prende a gaiola ao barco arrebenta e as derruba no fundo do mar, a 47 metros de profundidade (que é, aliás, o título original do longa). Agora, Lisa e Kate precisam sobreviver em meio aos tubarões e à escassez de oxigênio até serem resgatadas.
É difícil envolver-se muito com esta história de sobrevivência pelo fato de que Lisa e Kate praticamente não existem enquanto seres humanos multifacetados, já que basicamente resumem-se a, respectivamente, “chata” e “inconsequente”. Afinal, os roteiristas Johannes Roberts e Ernest Riera ¿ dois homens ¿ não conseguem conceber para suas personagens femininas nenhum conflito emocional mais interessante do que a vontade de Lisa de provar que não é a pessoa entediante que o ex-namorado acredita que ela seja. Ela chega a declarar que o namoro dos dois era “a única coisa em que ela era boa” por ser algo que ela tinha, e a irmã, tão melhor do que ela em tudo, não. Poderia haver alguma complexidade aí, mas o roteiro jamais consegue chegar lá. Até porque a produção abraça a ideia ridícula de que para “viver a vida” é necessário ignorar sinais óbvios de perigo, como as condições precárias do barco ou o fato de que o capitão joga iscas ensanguentadas no mar para atrair os tubarões (o que é proibido).
A imensidão e a escuridão do mar aberto que cerca Lisa e Kate é sufocante, e a direção de fotografia de Mark Silk explora bem isso ¿ e o melhor momento envolvendo um dos tubarões brancos é aquele em que um sinalizador subitamente ilumina essa escuridão. Mas, infelizmente, os tubarões mantêm sua distância na maior parte do tempo, fazendo com que o maior inimigo das irmãs seja a iminente falta de oxigênio. É aqui que a falta de lógica do roteiro e o pouco cuidado com a condução do longa começam a pesar. Robers e seu montador Martin Brinkler jamais conseguem estabelecer um ritmo coeso a Medo Profundo, fazendo com que o oxigênio das mulheres pareça durar muito ou esgotar-se rapidamente, de acordo com as necessidades de cada momento da trama.
Entretanto, o pior mesmo é a insistência do roteiro em martelar as informações mais óbvias na cabeça do espectador, como se o longa não confiasse na audiência do público para compreender suas informações ¿ que, convenhamos, não são nada complexas. Assim, Roberts gasta diversos minutos da enxuta uma hora e meia de duração com personagens declarando em pânico seus níveis de oxigênio ou até mesmo lendo o indicador de profundidade da gaiola enquanto a câmera nos mostra esse mesmo indicador.
Tubarões brancos, onde estão vocês? Como se não bastasse, o longa ainda tenta incluir algumas reviravoltas em seu final relacionadas à narcose causada pela presença de nitrogênio no sangue, algo que está longe de ser tão forte quanto mostrado aqui ¿ em Mergulho Profundo, alucinações são mais perigosas do que morrer por falta de oxigênio. Ah, outro conceito do mergulho que Roberts e Riera ficam animadíssimos para mostrar que aprenderam é a doença de descompressão ¿ o termo informal em inglês, “the bends”, é gritado diversas vezes no terceiro ato, mas aparentemente não era uma preocupação quando as irmãs despencaram mar abaixo.
Sem uma tensão constante ou uma ação envolvente que nos prenda ao longa e às personagens, as fraquezas de Mergulho Profundo vêm à tona (com o perdão do trocadilho) com força total. O resultado é uma produção que, por não empolgar, falha até mesmo em cumprir seus modestos propósitos.
“47 Meters Down” (EUA, 2018), escrito por Johannes Roberts e Ernest Riera, dirigido por Johannes Roberts, com Mandy Moore, Claire Holt, Chris Johnson, Yani Gellman, Santiago Segura e Matthew Modine.