Medusa Deluxe | Sem cortes

Todo mundo adora um plano sequência. Tem gente que não percebe que ele está lá. Outros ficam milimetricamente esperando um corte escondido. Alguns percebem só tarde demais que a cena não teve cortes. Mas não importa, quando o fã de cinema descobre a existência desse plano, ele sempre adora. Medusa Deluxe é feito para essas pessoas.

Para quem não ligou o nome à pessoa, plano sequência é quando a cena do filme não tem corte entre passagens de local e tempo. No caso de Medusa Deluxe, ele se encaixa em ambas as questões. Na maior parte do tempo acompanhando um grupo de personagens nos bastidores de uma competição de penteados onde um dos cabeleireiros é encontrado assassinado e escalpelado. A passagem de tempo acontece só no final e fecha toda a experiência.

O filme é escrito e dirigido por Thomas Hardiman em seu primeiro longa e não usa esse subterfúgio técnico como “egotrip”, mas sim como uma ferramenta para acrescentar ainda mais camadas em sua obra. Um lado técnico, é verdade, mas que também coloca o espectador dentro dessa realidade meio crua e sem glamour, o que quebra ainda mais a expectativa diante do assunto, afinal, os penteados e cortes sempre trazem consigo a ideia de algo elegante.

O roteiro de Hardiman perambula por esses personagens não para desvendar o mistério de quem matou quem, mas sim para tentar entender como essas pessoas lidarão com aquilo enquanto acompanha elas pelos corredores, salas, banheiros etc. O clima é caótico, cheio de opiniões, fofocas, gente que continua com seus penteados e gente que ainda está fazendo-o. O ex-namorado do assassinado e ainda uma trama que sai do comum e encontra detalhes ainda mais exóticos do que as obras de arte das personagens. Tudo junto. Acontecendo ao mesmo tempo e acelerando a cada esquina que a câmera cruza.

Talvez seja nesse momento que Hardiman mostre suas armas, fazendo de Medusa Deluxe quase uma farsa, no melhor dos sentidos. Como se dentro desse mundo peculiar ele se permitisse não se levar muito a sério. A motivação de uma subtrama envolve um tráfico que beira o fantasioso, mas nunca se permitindo não levar aquilo como ponto central. Mas mesmo assim sem se intrometer em uma espécie de suspense. Não do “quem matou?”, mas sim do “como assim, você me disse quem matou e eu ignorei?”. Como se convidasse o espectador para esse jogo.

Ao não cortar o filme em nenhum momento (talvez escondido) Hardiman acrescenta peso a essa credibilidade. Talvez o filme não seja refém de ser um plano sequência, mas por ele ser montado assim, cria um interesse ainda maior em toda diversão. Não levar o resto muito como um drama pesado, vai permitir que o espectador entre na história e veja nos exageros talvez o melhor de toda experiência.

Os penteados são gigantes, as personagens estão sempre no limite de suas emoções, o mistério é muito maior que aqueles corredores e, logicamente, o assassino não tem exatamente aquilo que é o foco do filme (talvez um spoiler). Tudo é uma brincadeira que se leva a sério e cria essa experiência imperdível para quem gosta de cinema.

Tanto para quem demorar para perceber que tudo é um plano sequência, quanto para quem ficar esperando o corte e não encontrá-lo. Sempre com a câmera hábil de Hardiman e um trabalho que, justamente, faz com que essa tecnicidade talvez até passe despercebida para alguns, mas esses mesmos, com certeza irão também adorar o filme e todas suas maluquices.

“Medusa Deluxe” (UK, 2022); escrito e dirigido por Thomas Hardiman; com Luke Pasqualino, Lilit Lesser, Clare Perkins, Kayla Meikle, Debris Stevenson, Heider Ali, Kae Alexander, Jarriet Webb, Nicholas Karimi, Darrel D´Silva e Anita-Joy Uwajeh

SINOPSE – Durante uma competição de pendeados, um dos concorrentes é assassinado e o resto dos competidores precisam entender e conviver com essa questão e suas remificações emocionais e criminais.

Trailer do Filme – Medusa Deluxe

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