Monster Trucks é, de certa forma, admirável. Como este filme conseguiu ser lançado nos cinemas, e não ter saído diretamente em DVD? A produção parece feita com futuras exibições na Sessão da Tarde em mente, pois oferece comédia, ação e aventura em suas vertentes mais light possíveis. Diante do tédio que os cerca, os tais ¿monstros¿ não têm dificuldade nenhuma em roubar a cena.
Em uma pacata cidade na Dakota do Norte, uma companhia perfura o solo em busca de petróleo. Eles não param nem mesmo ao deparar-se com um lago subterrâneo que, muito provavelmente, abriga vida. Não dá outra: assim que o solo é perfurado e o lago, atingido, uma explosão traz à tona três enormes criaturas misteriosas. A companhia consegue capturar duas delas, mas a terceira escapa.
Enquanto isso, o jovem Tripp (Lucas Till) passa os dias trabalhando no ferro-velho da cidade enquanto sonha em uma maneira de escapar dali. Até que ele conhece o monstro fugitivo e, então, passa a protegê-lo dos malvados homens da companhia enquanto tenta pensar em uma maneira de levá-lo de volta a seu lar subterrâneo. Ah, o monstrinho se encaixa dentro de uma caminhonete e passa a se locomover desse jeito. Sim, os monster trucks referem-se a veículos automotivos movidos a criaturas subaquáticas. Que se alimentam de petróleo. E possuem a capacidade de gerar torque com seus tentáculos.
Escalar adultos feitos no papel de adolescentes não é novidade na indústria audiovisual, mas aqui se mostra particularmente incômoda, pois somos obrigados a presenciar Lucas Till, um homem de 26 anos, sentado em uma caminhonete parada enquanto gira o volante, solta onomatopeias e inventa cenários mirabolantes ¿ não como brincadeira, mas como forma de extravasar seus maiores sonhos.
Sua companheira de aventuras, por sua vez, revela-se um desperdício completo de Jane Levy, uma atriz normalmente talentosa e carismática. Em Monster Trucks, ela é relegada a demonstrar por Tripp um interesse que ele jamais parece perceber, estando sempre por perto para revelar alguma informação importante, oferecer recursos ou equipamentos (graças a seu pai, supostamente rico e cheio de hobbies, que nunca aparece) e, principalmente, para admirar Tripp.
Não que os personagens masculinos recebam uma caracterização melhor. O próprio protagonista é a figura mais (não há palavra melhor) pamonha da produção, algo nascido tanto do roteiro quanto da completa falta de carisma de Till. Já os ¿adultos¿ relevam-se caricaturas completas, pois de que outra maneira as crianças da audiência conseguiriam entender a história, não é mesmo? Assim, Rob Lowe é a personificação das corporações malvadas, Danny Glover ganha os dólares mais fáceis de sua carreira e Barry Pepper, no papel do xerife que namora a mãe de Tripp, some, aparece e age de acordo com as necessidades do roteiro.
Ah, não podemos nos esquecer do pai do protagonista (Frank Whaley), que, é claro, o abandonou quando criança. Aliás, descobrimos essa informação em um dos piores diálogos expositivos dos últimos tempos: quando Tripp reclama de como a empresa petroleira está estragando a cidade, sua mãe (Amy Ryan) responde que ele é novo demais para saber como as coisas eram antes. Tripp reage com um ¿pelo menos o papai estava aqui¿. Pois é.
Pelo menos, a resolução dessa subtrama é a única ¿mensagem¿ de Monster Trucks que chega minimamente perto de se mostrar interessante. De resto, o longa atira mensagens ambientalistas que jamais chegam a lugar algum além dos comentários mais óbvios possíveis (animais: bons! Empresas excessivamente ambiciosas: ruins!).
Dessa maneira, é claro, os monstros tornam-se os melhores elementos do filme (não que isso queira dizer muita coisa). Apelidade de Creech criatura que se torna amiga de Tripp ¿ e que, portanto, acompanhamos por mais tempo ¿ é adorável e carismática, conseguindo arrancar os únicos sorrisos sinceros conquistados pela projeção.
Afinal, entre os humanos, há uma única piada eficiente, surgida de um diálogo entre Thomas Lennon e Rob Lowe. Com algum esforço, é possível considerar que o desejo dos monstrinhos de se locomover através dos veículos é uma forma de eles conquistarem mobilidade na terra, já que seus corpos aquáticos são lentos e desajeitados na superfície, mas isso seria dar crédito demais ao roteiro de Derek Connolly. O diretor Chris Wedge, por sua vez, limita-se a utilizar o 3D para jogar a terra levantada pelos carros na câmera e, além disso, cria sequências de ação pouco imaginativas. Os ¿truques¿ aprendidos pela criatura, por exemplo, jamais são aproveitados.
Os realizadores de Monster Trucks certamente acreditam que sua premissa é o bastante para conquistar o público e, assim, se esqueceram de desenvolver uma produção minimamente envolvente. Ou de pensar em qual é o público-alvo do longa, pois até mesmo seu tom é uma bagunça. Enquanto sua visão de aventuras e aspirações é típica de filmes de ação infantis, outros momentos relevam-se completamente deslocados, como o diálogo entre Tripp e Meredith quando este, inicialmente, se recusa a levá-la de volta para casa em sua caminhonete.
Surgindo deslocado na telona, Monster Trucks mostra-se um desperdício completo que a fofura dos monstrinhos não chega nem perto de salvar.
¿Monster Trucks¿ (EUA/Canadá, 2016), escrito por Derek Connolly, dirigido por Chris Wedge, com Lucas Till, Jane Levy, Rob Lowe, Danny Glover, Thomas Lennon, Barry Pepper, Amy Ryan e Holt McCallany.