Nação Valente | Não tem medo de retratar o terror

Grupos nacionalistas não costumam ser bem vistos, mas e quando além de nacionalistas eles também são zumbis? Nação Valente, vencedor de melhor filme europeu no Festival de Locarno, é um épico que trata de questões históricas da década de 70 sobre Portugal. Essas questões estão presas, entaladas na garganta do povo português, mas também na história de uma terra estrangeira tomada pelo colonialismo.

O filme de Carlos Conceição acompanha um batalhão de soldados isolados em Angola. Eles estão há décadas por lá e não têm a menor ideia de quanto tempo passou. A retomada da região pelas tribos locais envolveu mantê-los presos em terra estrangeira sem nem eles mesmos saberem. A guerra já acabou faz tempo, mas na mente desses soldados a loucura permanece.

Uma das sacadas do filme é manter esse mesmo suspense para o espectador. Não sabemos quanto tempo passou, apenas que foi muito. É comum haver história de soldados que ficaram sem comunicação por anos a fio sem saber sua próxima missão. Então eles simplesmente ficam no local aguardando ordens. E muitos deles começam a sentir uma saudade imensa da mãe, o que é um símbolo curioso se você pensar no evento traumático, violento e irracional, que acontece no começo da história.

Diferente de História contada em sala de aula, as circunstâncias aqui são mais fantasiosas e de certa forma mais atraentes, porque apela para nossa visão subjetiva, emocional, de qual foi o real impacto para os habitantes. O exemplo mais impactante é que os nativos que eram mortos naquela época não podiam ser velados pelos obrigatórios três dias de cantos pelos vivos porque o homem branco os ouviriam e os matariam também. Só que isso faz mal para a alma do defunto, que não se aquieta, e pode levantar do túmulo. E nos sonhos mais terríveis isso de fato acontecia.

A linha entre a morte e a vida é ultrapassada, ou muito tênue. E a saudade dos que ficaram é imensa, de ambos os lados. Só há dores em Nação Valente e o filme explora o sentimento de dor de vários ângulos. Se enxerga muita culpa do povo português nessa cinematografia sobre a culpa do passado. E também se enxerga muita violência. Ao menos eles não têm medo de retratar a brutalidade dos acontecimentos, que choca, mas é por motivo justo.


“Tommy Guns” (Por/Fra/Ang, 2022), escrito e dirigido por Carlos Conceição, com João Arrais, Anabela Moreira e Gustavo Sumpta.


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Trailer do Filme – Nação Valente

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