Nerve Filme

Nerve: Um Jogo Sem Regras | Verdade ou Consequência encontra Pokémon GO

A pior consequência da era da internet é que as redes sociais ofereceram um novo — e infinitamente amplo — espaço para que bandos de covardes babacas se sentisse completamente à vontade para destilar comentários irritantes, ofensivos e até mesmo cruéis para quem quer que seja, enquanto usam nomes e fotos alheios como armaduras. Nerve: Um Jogo Sem Regras tenta oferecer um comentário social quanto à questão, mas falha ao tentar alcançar um ápice que não trabalhou para conquistar.

Prestes a se formar no ensino médio, Venus Demonico (Emma Roberts), mais conhecida como Vee (pois é), sonha em se mudar de Long Island para a cidade de Nova York e, lá, estudar arte. Entretanto, a jovem não é nada propensa a tomar riscos, preferindo fotografar sorrateiramente o garoto de que gosta ao trocar uma única palavra com ele. A atitude tranquila de Vee funciona perfeitamente bem para sua mãe, que ainda lida com a morte recente do filho mais velho.

Por outro lado, a melhor amiga da protagonista é a inconsequente Sidney (Emily Meade), que “vive a vida ao extremo” e, por isso, decide buscar fama e dinheiro em Nerve, um jogo que tornou-se sensação entre os jovens. Ao se cadastrar no aplicativo, é preciso escolher entre entrar como “observador” ou como “jogador”: os jogadores devem cumprir desafios propostos pelos observadores em troca de dinheiro e, conforme progridem no jogo, as missões vão se tornando cada vez mais arriscadas — e, consequentemente, populares com a audiência e lucrativas. Para provar que não é não é apenas uma observadora, Vee se cadastra para jogar Nerve e, ao cumprir seu primeiro desafio de beijar um estranho, conhece Ian (Dave Franco). No desafio seguinte, os dois partem para NYC.

A partir daí, Nerve passa a acompanhar o casal (sim, os dois logo se interessam um pelo outro e, depois de algumas horas juntos, já fazem declarações de amor) conforme eles são desafiados a atitudes progressivamente mais perigosas e arriscadas. Enquanto isso, Sidney, furiosa por Vee ser mais popular do que ela no jogo, também tenta conquistar mais audiência e ultrapassar a amiga no ranking de popularidade. E aí já temos um dos grandes problemas do longa dirigido por Henry Joost e Ariel Schulman: com exceção de um desafio perturbador (aquele envolvendo um trem) e de alguns momentos divertidos, como quando Vee e Ian tem que sair de uma loja, as tais missões são profundamente entediantes para o espectador.

Dessa forma, a fraqueza estrutural do roteiro de Jessica Sharzer, baseado no livro homônimo de Jeanne Ryan, fica ainda mais evidente. Enquanto acompanhamos os (como já dito, fracos) desafios, sempre há alguém por perto para exclamar “Olha o que ela está fazendo!” ou “Eu não acredito que você vai mesmo fazer isso!”. Assim como a série Divergente acredita que ser audacioso é fazer coisas estúpidas como pular de um trem em movimento sem motivo, Nerve acha que viver intensamente é dirigir vendado ou levantar a saia na escola. Além disso, Vee frequentemente fala coisas como “Eles não podem nos obrigar a fazer isso”, sendo que os jogadores fazem isso de livre e espontânea vontade.

Nerve Crítica

Ah, mas não é bem assim! Mesmo pouco envolvente, o filme consegue estabelecer bem as regras simples de seu jogo, até que chegamos no terceiro ato e o aplicativo revela regras estapafúrdias e completamente falhas para que Nerve, assim, possa encerrar com a tal mensagem sobre como é fácil xingarmos alguém (ou, no caso, anunciar que queremos ver a morte de alguém) escondidos por trás da anonimidade proporcionada pela internet — um clímax que o filme esqueceu de trabalhar para merecer.

O visual de Nerve, pelo menos, é interessante: misturada ao cinza e ao preto da noite nova-iorquina. A fotografia repleta de tons neon de Michael Simmonds cria uma estética naturalmente futurista para o longa. Considerando o fato de que, aqui, smartphones têm baterias inesgotáveis, internet que nunca falha e aplicativos que jamais travam, os jovens personagens desta produção habitam o universo ideal para torná-los viciados em um jogo que mistura o voyeurismo do Big Brother, a (metade da) premissa do clássico Verdade ou Consequência e a procura intensa do Pokémon Go.

Irritantemente retrógrado em alguns pontos, Nerve busca claramente ser o retrato de uma geração, mas, mesmo assim, investe em estereótipos como o do melhor amigo que é apaixonado pela mocinha sem que ela percebe e da melhor amiga invejosa. A diversidade racial do longa, ao menos, é apresentada de forma natural e adequada a uma história ambientada em Nova York — mesmo que, em um gesto tipicamente hollywoodiano, a inclusão não alcance os protagonistas.

Nerve: Um Jogo Sem Regras é, portanto, um longa que chama a atenção por seus belos tons neon e por sua premissa moderadamente interessante, mas que desperdiça seu potencial com um roteiro mal estruturado e por achar-se mais ousado, relevante e crítico do que realmente é.


Nerve (EUA, 2016), escrito por Jessica Sharzer a partir do livro de Jeanne Ryan, dirigido por Henry Joost e Ariel Schulman, com Emma Roberts, Dave Franco, Emily Meade, Samira Wiley, Kimiko Glenn e Juliette Lewis.


Trailer – Nerve

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