Ninguém Entra, Ninguém Sai Filme

Ninguém Entra, Ninguém Sai | Está ai a “globochanchada” do mês


Assistir a Ninguém Entra, Ninguém Sai é embarcar em uma viagem para a comédia brasileira dos anos 90. Porém, também é uma maneira divertida de referenciá-la, já que ninguém espera uma comédia anos 90 nos dias atuais. Há claramente uma ambiguidade entre o retrógrado e o apenas grotesco, e no meio de tudo isso atuações e participações especiais que, para bem ou para mal, remetem a figurinhas da televisão, do cinema e da internet.

A história é tão surreal quanto a realidade brasileira hoje. Um vírus novo, mortal e altamente contagioso, Xabu (sim!), é detectado em um paciente só pelo olhar de um médico arrogante. A partir daí todas as pessoas dentro do lugar onde o paciente trabalhava quando foi infectado são isoladas em uma quarentena, com o risco de levarem três tiros cada (“só pra garantir”, diz um policial) se tentarem sair. O lugar é um motel chique, e o governo começa a bancar os recursos para as pessoas lá detidas. Precisa explicar mais a alegoria política?

As pessoas hospedadas representam parte da sociedade brasileira. Há uma juíza que na cama é uma dominatrix (que usa seu guarda-costas como dominado), um casal de menores que passa pela vista grossa da recepcionista com um documento de identificação que diz terem 30 anos, um casal formado por um motoboy quebrado e uma “periguete” gostosíssima que, acreditem ou não, quer casar, um assaltante e sua refém (a eterna virgem neurótica que “passou do ponto” e cantarola uma música do Fabio Jr) e uma faxineira maluca (Guta Stresser, talvez a única participação do elenco que levou sua caricatura às últimas consequências) que segue uma seita que condena todos os atos libidinosos do hotel e que venera uma figura enigmática em seu armário como se fosse um santo protetor.

Ninguém Entra, Ninguém Sai Crítica

Todos esses personagens acabam eventualmente interagindo em uma história que poderia muito bem ser uma peça de teatro, já que o diretor estreante no cinema Hsu Chien Hsin usa zooms que tornam o cenário meramente decorativo, e não há qualquer tentativa de juntar as ações que ocorrem em paralelo exceto o velho corte seco entre uma situação e outra, e nenhuma ação parece realmente necessária. É uma coletânea de caricaturas e suas piadas, nada que você não tenha visto inúmeras vezes em sua infância ou adolescência. Talvez você desse risada naquela época.

Mas falar de humor, que é algo tão íntimo de cada um, é um assunto complicado. O curioso das piadas aqui é que, para um mundo cercado de politicamente correto para todos os lados, o roteiro parece tentar encontrar um meio termo entre o que hoje é considerado ofensivo e as boas e velhas piadas estilo Trapalhões. Não é difícil imaginar a influência dos próprios atores nessa concepção, já que temos no elenco não apenas a ponta divertida de Gabriel Totoro mas em dois dos papéis principais um atual integrante e uma ex-integrante do canal de piadas polêmicas da internet Porta dos Fundos, que ficou conhecido justamente porque a internet desconhece barreiras para o humor.

A sensação geral ao assistir esse filme é de uma ótima produção nacional com temas repetidos vistos sob um novo olhar. O filme vai fácil, assim como as atuações, e a despeito de se passar quase todo em um motel não é motivo para baixaria: ninguém fica de fato pelado, e o objetivo quase nunca é sensualizar, mas apenas divertir. O problema, portanto, fica na questão se o “divertir” fica acima ou abaixo das expectativas de uma “globochanchada” de todo mês.


“Ninguém Entra, Ninguém Sai” (Bra, 2017), escrito por Paulo Halm, Luis Fernando Verissimo, dirigido por Hsu Chien Hsin, com Catarina Abdalla, Karolina Albertassi, Monique Alfradique, Leo Bahia, Renata Castro Barbosa


Trailer – Ninguém Entra, Ninguém Sai

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