O Abraço da Serpente Filme

O Abraço da Serpente

O Abraço da Serpente é uma viagem cósmica através da descendência de todos os homens. Razão e tradição se digladiam para contar uma história que atravessa o senso da individualidade sem perder o senso da responsabilidade. E, sim, é também sobre índios.

Porém, categorizar essa experiência de “filme de índio” é diminui-la, muito embora ela trate todo o tempo do folclore, comportamento, cultura, conhecimento e crença de algumas tribos da Amazônia após a invasão colombiana. E ainda que quando falamos de índios, surja aquela sensação de estranhamento, de culpa e de distanciamento, nada nesse filme nos leva a esses sentimentos.

Contando a história (real) de Theodor Koch-Grunberg (Jan Bijvoet), um cientista alemão que pesquisa tudo a respeito da Amazônia e suas crias – índios inclusive – conhecemos um sobrevivente de uma tribo massacrada durante a invasão colombiana: Karamakate (Nilbio Torres). Ele é o herói da história. É dele a decisão de ajudar ou não o tal cientista através de uma planta sagrada de seu povo, sua única salvação. Junto dele acompanha um leal “índio domesticado”, de roupas e sabendo usar uma arma.

Então, de repente, somos transportados para o futuro, onde conhecemos os frutos da pesquisa de Theo, vindo de outro cientista, Richard Evans Schultes (Brionne Davis), este americano. Lá já aprendemos que Grunberg morreu na expedição (o que ainda falta descobrir é como e por quê), mas encontramos Karamakate (Antonio Bolivar), embora seja outro, mudado, que está perdendo paulatinamente sua memória, e junto com ela a memória de seu povo.

O Abraço da Serpente Crítica

A direção e narrativa (Ciro Guerra) de O Abraço… levam a crer que boa parte do roteiro (construído por Ciro através dos diários de Theo e Evans) tem um fundo simbólico. Durante todo o tempo nos questionamos a respeito mais das atitudes dos personagens do que dos personagens em si. Eles são meras representações do que ocorreu naquela floresta várias vezes. O grande trunfo do filme é ser baseado em relatos históricos desses dois exploradores, e ainda conseguir criar uma atmosfera fantástica que abraça esse mundo onírico de uma floresta ainda enigmática e que, com a vinda do homem branco, deu origem a diferentes tipos de doenças, loucuras e crueldade, sejam elas vindas da religião, da ganância ou do puro delírio de grandeza, mesmo.

Todas essas formas são materializadas quase em um formato de mini-teatro, onde cada novo acontecimento ocorre em um local específico da floresta. O tom preto e branco com uma saturação forte torna as noites mágicas, e os dias pálidos demais. A pintura que vemos na cara dos indígenas vira uma máscara monocromática vestida com perfeição. Questões filosóficas, como a invasão cultural, estão inseridas de maneira tão arraigada na história que é ela que define os rumos de tudo o que ocorre.

Concluindo de uma maneira tão irônica quanto seu início, 40 anos atrás, O Abraço da Serpente é um trabalho ambicioso que mantém por boa parte do tempo a proeza do suspense eterno. Nos espantamos com quase todo novo momento, toda nova cena, todo novo personagem. Não é um filme para muitos, mas os poucos que o verem irão se sentir satisfeitos por essa viagem no tempo e espaço.


“El abrazo de la serpiente” (Colombia/Venezuela/Argentina, 2015), escrito por Ciro Guerra, Theodor Koch-Grunberg, Richard Evans Schultes, Jacques Toulemonde Vidal, dirigido por 


Trailer – O Abraço da Serpente

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