O Ditador

Não há dúvidas que o humor no cinema (e por que não no mundo do entretenimento inteiro) perdeu uma certa acidez politicamente incorreta, hoje é muito mais fácil fazer sucesso com escatologias nojentas, gases e partes do corpo humano descobertas do que com um discurso na ONU que compara (em vão) uma ditadura com a democracia americana. O Ditador, novo filme de Sacha Baron Cohen faz isso e mostra que ainda há esperança para a comédia.

Não que Sacha Baron Cohen vá mudar o rumo dos risos no cinema (Rob Schneider, os irmãos Wayans e a Happy Maddison continuarão por ai fazendo pilhas de dinheiro), mas, pelo menos, o que esse comediante inglês vem fazendo desde Borat ele consegue com sucesso: tirar sarro da hipocrisia estagnada que os Estados Unidos parecem ter orgulho de carregar.

Assim como o repórter Cazaque que vai aos Estados Unidos ou o “fashionista” belga Bruno, O Ditador só tem a preocupação de acumular o maior número de ofensas possíveis, contra os Estados Unidos, contra alguns “ecochatos”, negros, judeus, ditadores e quem mais passar em sua frente (com crianças sendo chutadas etc.). É lógico então que é impossível gostar desse personagem, e essa é a ideia geral.

O Ditador do título é o General Aladeen (o próprio Cohen), imperador da nação de Wadya em algum lugar do Oriente Médio (o que já, logo de cara, não nega a vontade de fazer graça com qualquer trocadilho e que acaba funcionando todo tempo, principalmente pelo cinismo). Como é de se esperar (como qualquer ditador que se preze) Aladeen nutre um enorme ódio pelos Estados Unidos (e por Israel) e, diante da possibilidade de uma guerra, acaba aceitando discursar na ONU, mas um plano de seu tio Tamir (Ben Kingsley, que também entra na brincadeira) acaba tirando-o do poder e colocando um de seus sósias (já que todo ditador que se preze precisa ter uma sósia, “assim como Bin Laden”).

Aladeen então acaba perdido nos Estados Unidos (sem sua barba) e, “movido pela chama de sua vingança” acaba indo trabalhar em uma loja natureba administrada por uma “ecologicamente (e socialmente, politicamente e sexualmente) correta” Anna Faris.

É lógico que em linha gerais a trama não faz sentido algum e está ali só pra possibilitar um punhado de piadas, mas é, justamente, esse desprendimento com todo sentido (principalmente enquanto a história está em Wadyia) que possibilita que o espectador dê risada de todas as atrocidades racistas que saem da boca de Cohen. Tudo é idiota e exagerado e, provavelmente, muita gente pode até se ofender, mas mais gente ainda vai ser divertir e morrer de dar risada.

O Ditador Filme

A imagem desse ditador maluco que tem seu próprio “jogo fofinho” de Wii, onde pode matar israelenses em um dormitório (Olímpico), que não consegue segurar o riso enquanto discursa para sua nação que o urânio enriquecido que obteve é para “fins medicinais” (e não para uma míssil, “que não pode ter a ponta arredondada”) e que coleciona noitadas com grande personalidade de Hollywood (como Megan Fox e Arnold Schwarzenegger entre outros) é tão absurdamente divertido que todo o resto simplesmente acaba funcionando (do chute no garotinho a uma piada com o 11 de setembro).

Muito desse clima ainda vem com o divertidíssimo trabalho do primo de Cohen, Erran Baron Cohen em uma trilha sonora que adapta grandes sucessos da música americana para o árabe (ou alguma outra língua, já que “qualquer um fora dos Estados Unidos é Árabe, até aquelas criaturinhas azuis de cima das árvores em Avatar”, como lembra o personagem de John C. Reilly).

A opção de sair de um “pseudo documentário” e encarar um filme tradicional (que estragou grande parte de “Bruno”, já que o exagero da situação e a popularidade do ator impedia uma certa naturalidade) é igualmente acertada, mesmo que Larry Charles não faça nada demais e apenas tenha a segurança de seguir as ótimas piadas criadas pelo roteiro de Cohen em parceria com Alec Berg, David Mandel e Jeff Schaffer (com os três tendo passagens pela série Seinfeld, o que explica muita coisa).

Rápido e sem perder nenhuma piada, O Ditador é apenas mais uma desculpa para Sacha Baron Cohen (igualmente ótimo no papel) destilar seu humor incorreto contra os Estados Unidos. Um humor que pode parecer vazio e só ofensivo, mas que sabe tocar nas feridas e lembrar que os Estados Unidos precisa mesmo olhar para si próprio e perceber que talvez sua “democracia” não seja tão democrática assim. Mas antes disso, um monte de risadas vão fazer mais que bem.


The Dictator(EUA, 2012) escrito por Sacha Baron Cohen, Alec Berg, David Mandel e Jeff Schaffer, dirigido por Larry Charles, comSacha Baron Cohen, Ben Kingsley, Jason Mantzoukas, Anna Faris e John C. Reilly.


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