O Mundo Fora do Lugar é uma sutil defesa dos psicologicamente abusados (coincidentemente mulheres em um relacionamento). Ele usa um drama familiar do passado com revelações de novela, mas faz isso com muito charme e boa música. E é um filme alemão, o que nesse caso quer dizer que as emoções estarão contidas, embora elas existam.
O pilar da história é Sophie uma mulher que não consegue manter um relacionamento por mais de dois anos (Katja Riemann). Ela ironicamente realiza cerimônias não-oficiais de casamento, e observa com um certo tom de sarcasmo o que torna um casal junto por quase uma década. Sua paixão é cantar, como sua mãe, mas ela é demitida por estar no lugar errado. Ela não se encaixa no mundo em sua volta, e tudo o que resta a ela é se cobrir em sua cama e lamentar.
Até que seu pai (Matthias Habich) acha na internet uma cantora de ópera que é idêntica à sua esposa (Barbara Sukowa), falecida há um ano. Ela é famosa e vai se apresentar no Metropolitan, em Nova Iorque. E ele praticamente exige que ela faça um voo intercontinental e vá se encontrar com ela, em uma situação obviamente embaraçosa.
Mas tudo fica mais embaraçoso ainda por conta do temperamento fechado e mau-humorado de cantora Caterina Fabiani. Ela atrai fama com seu canto lírico e afasta todos seus potenciais amigos, mantendo na linha seu ex-marido e apenas um tratamento correto, embora distante, com seu filho. O que ela menos quer é uma “fã” que acha que sua mãe se parece muito com ela.
O tom do filme escrito e dirigido por Margarethe von Trotta não é de comédia, mas de um drama que usa a sobriedade e pomposidade de seus cenários aliado a tons escuros ou neutros para evocar um distanciamento entre os personagens, mesmo os da mesma família. A exceção são as casas do agente de Caterina, que vira o novo namorado de Sophie, e um personagem-surpresa, que não vale a pena explicar, já que estragaria todo o desenvolvimento de uma investigação que revela mais sobre a família de Sophie do que do paradeiro desse personagem.
Digamos apenas que a sutileza de von Trotta não favorece muito a narrativa. Detalhes como a forma como os homens bebem vinho pode ser extremamente revelador de suas personalidades, e até o uso da música Norma poderia ser vital para entendermos melhor o que está acontecendo em dado momento.
No entanto, apesar de drama pesado, este é um filme que sempre vai pelo caminho mais delicado. Seus personagens, embora bem interpretados, são contidos, e apenas a petulância da figura de Matthias Habich, o pai de Sophie, é capaz de chacoalhar um pouco as coisas.
“Die Abhandene Welt” (Ale, 2015), escrito e dirigido por Margarethe von Trotta, com Katja Riemann, Barbara Sukowa, Matthias Habich, Robert Seeliger, Gunnar Möller
4 Comentários. Deixe novo
Olá, Edson.
Infelizmente, é muito difícil obter informações de filmes estrangeiros com esse grau de detalhes. Se encontrar, postarei aqui 😉
[]s
Eu gostaria de ler as letras dos blues que a personagem Katja Riemann canta.
Olá, Fátima.
Com prazer. As músicas de trilha são um pop mais leve, mas há dois extremos divertidos: o canto lírico de ópera das personagens da atriz Barbara Sukowa e o blues apaixonado da personagem de Katja Riemann. Ambas as atrizes realmente cantam, cada uma, duas músicas no longa. Tanto a sequência de blues quanto a ópera de Barbara são imperdíveis!
[]s
Concordo plenamente com tua análise. Poderias descrever um pouco mais sobre as músicas do filme?