Existe alguma coisa de misteriosa e esquisita em O Ninho. Esse clima perdura pelo filme inteiro… “inteiro mesmo”, e tem uma hora que isso começa a simplesmente se tornar dispendioso para a paciência de qualquer um. Mesmo que esse clima esquisito se mantenha firme, o que demonstra personalidade desse novo filme de terror italiano.
É bom citar sua nacionalidade, pois ele é o trabalho anterior do diretor de Um Clássico Filme de Terror, que acabou chegando antes por aqui através da Netflix. Roberto de Feo então demonstra muito mais capacidade de chegar em um objetivo em seu trabalho mais novo, do que nesse O Ninho. O que é uma ótima notícia para o gênero, mas não para o espectador que for conferir um por causa do outro.
O que os dois filmes têm em comum é uma vontade de estar abraçado com clichês e estereótipos do terror. Esse “velho novo filme” gosta das névoas, das sombras e dos barulhos da madrugada. Esse silêncio ensurdecedor que permeia o filme em todos seus mistérios. O problema é que elas demoram demais para serem respondidas.
O filme começa com questões sem resolução. Um garoto paraplégico (Justin Korovkin) em uma casa enorme, daquelas que os filmes de terror adoram. Ele não está lá sozinho, mas é quase isso, sua mãe (Francesca Cavallin) parece mais opressora que o normal, tanto com ele, quanto com absolutamente todos ao redor, quase como se tivesse como objetivo maior resguardar o filme do mundo exterior.
É isso mesmo, durante o filme inteiro o espectador acompanha esse menino sendo paparicado enquanto os adultos seguem com meias palavras e ainda, de vez em quando, se juntam em um tipo de culto com resquícios católicos extremos. O filme ainda faz referências ao Paraíso Perdido, do John Milton, e até à Bíblia propriamente dita, mas nada disso parece responder nada. Pior ainda, quando a trama culmina em sua surpresa final, nada disso é nem lembrado.
O roteiro de De Feo em parceria com Lucio Besana e Margherita Ferri é desonesto. Constrói um clima e dá um monte de dicas, mas nunca as usa. Deixa elas por lá, para trás, esquecidas pela trama que vai adiante para surpreender o espectador, mesmo sem nunca confiar na capacidade dele de montar esse quebra-cabeça.
Até a presença dessa nova menina na casa (Ginevra Francesconi), que começa a trabalhar como empregada, mas acaba se apegando ao garoto, não se permite ter uma construção inteligente. Diante de todos questionamentos e preparações que a trama faz para usá-la, ela nunca caminha pelo lugar mais coerente. Não existe razão para a personagem manter esse mistério todo, se tem como objetivo desvendar esses mistérios para o protagonista. Por mais que a relação dos dois arranhe uma questão da tentação bíblica, isso nunca faz realmente parte da trama.
Mas o filme se mantém firme nisso. Talvez tentando fazer com o espectador o mesmo que a mãe faz com o menino: enganando. E isso nem é ruim, o clima é bacana e quando o diretor resolve cair de cara no terror propriamente dito, vai fundo e funciona bem. A evolução disso em Um Clássico Filme de Terror é clara, De Feo se torna com certeza um diretor mais objetivo e habilidoso, mas aqui ainda está ensaiando isso.
Isso não quer dizer que o filme será odiado, muito pelo contrário. O final é realmente interessante, entrega algo que vai surpreender a todos e deve fazer muita gente perdoar o tempo todo que foi feito de trouxa somente para esse final funcionar. É pouco para quem gostaria de um filme um pouquinho mais robusto, mas deve ser o bastante para quem entrou no clima. Um clima esquisito e misterioso e que deve convencer muita gente mesmo.
“Il Nido” (Ita, 2019); escrito por Roberto De Feo, Lucio Besana e Margherita Ferri; dirigido por Roberto De Feo; com Justin Korovkin, Francesca Cavallin, Ginevra Francesconi, Maurizio Lombardi, Fabrizio Odetto, Elisabetta De Vito e Roberto Accornero