[dropcap]N[/dropcap]os primeiros quinze minutos de O Parque dos Sonhos é possível que uma lágrima escorra dos olhos de um espectador cativado pela proposta. Eu gostaria de acreditar que não são lágrimas de manipulação, pois realmente parece um tema emocionante. Já nos últimos quinze minutos é possível que esse mesmo espectador esteja pensando no que foi que deu errado para que essa história acabe em mais do mesmo.
Pelo menos, essa foi minha sensação com o filme dirigido por três pessoas, roteirizado por mais outras tantas e produzido em uma parceria entre a Paramount e a Nickelodeon (canal de animações como Bob Esponja). Ele contém uma ideia maravilhosa a respeito do poder da criatividade como força motriz para sermos seres humanos mais completos, mas que acaba não dando em lugar algum senão em soluções fáceis e apressadas de uma animação que não se importa tanto assim com uma ideia boa quando ela aparece.
Sua heroína é June, uma criança que mobiliza todo o bairro porque ela é a dona das ideias e da iniciativa que tornam uma comunidade viva. Sua mãe a incentiva desde pequena, falando que ela pode fazer e ser o que quiser. É uma mensagem que pais modernos costumam passar aos seus filhos, muitas vezes se esquecendo da contrapartida: responsabilidade. June irá aprender isso na prática e nós espectadores iremos aprender mais uma vez que filmes insistem em nos vender o formato 3D quando a única coisa que conseguem nos entregar são cenas de montanhas-russas.
Alguns anos se passam, June ganha uma voz menos infantil e sua mãe adoece (sinais universais de amadurecimento). Sozinha em suas aventuras e com medo de perder a mãe, sua vida se fecha em uma bolha de segurança alimentada por ela mesma, e a sempre empolgada June começa a perder a coragem de dar asas à sua imaginação. Tudo muda quando ela descobre que as criações de sua mente podem possuir mais autonomia do que ela imaginava.
Ao misturar referências de outros filmes de maneira indecisa, O Parque dos Sonhos nunca chega a construir algo além do parque imaginado em brincadeiras de mãe e filha. Durante a aventura nos lembramos de Alice no País das Maravilhas, Meu Amigo Totoro, Divertidamente e até Jurassic Park, mas o próprio O Parque dos Sonhos constrói seu universo sem personalidade, personagens marcantes ou aventuras dignas e, portanto, não se fixa em nossas mentes (como os trabalhos já citados o fazem, por exemplo). Durante o relapso desenvolvimento da história há até um efeito contrário: vamos aos poucos nos esquecendo de seu belo início.
“Wonder Park” (Esp/EUA, 2019), escrito por Josh Appelbaum, André Nemec, dirigido por David Feiss, Clare Kilner, Robert Iscove, com vozes no original de Brianna Denski, Jennifer Garner, Mila Kunis, John Oliver, Ken Jeong, Matthew Broderick.