O Pequeno Quinquin Filme

O Pequeno Quinquin

Não que O Pequeno Quinquin seja ruim. Não é. Na verdade é complicado até afirmar qualquer coisa sobre ele tamanha sua vontade de enfrentar o espectador com sua estrutura, seus personagens e suaposts trama.

Nele, uma pequena cidade do litoral da França acaba sendo vítima de uma série de mortes misteriosas, e para investigá-las surge uma dupla de policiais excêntricos. Uma excentricidade que não fica presa só a eles, mas a praticamente todo e qualquer lugar que a mini-série de Bruno Dumont olha. Isso mesmo, O Pequeno Quinquin é na verdade o apanhado de uma série de quatro capítulos da TV francesa (o que não ajuda na hora de colocar o material longo demais no cinema).

E não só pelo tamanho (200 minutos), mas também pelas opções estéticas e narrativas do diretor, que parece mesmo estar somenteO Pequeno Quinquin Poster interessado em pairar por essa cidade costeira em busca do que mais bizarro e esquisito ela possa ter. A começar pelo “herói” que dá nome ao filme, um garoto metido a valentão, feio, vindo de uma família mais esquisita ainda e que lidera seus amigos pelas ruas dessa cidade enquanto trombam na investigação desses assassinatos.

Por outro lado o que talvez mova o filme dentro do pouco interesse que ele possa criar é o humor (me perdoem a repetição) excêntrico de Dumont. Isso e uma habilidade incrível do roteiro de passear entre os personagens, todos parecendo meio ligados e se cruzando enquanto Quinquin e seus amigos perambulam pelas ruas e a dupla de policiais não consegue descobrir absolutamente nada.

Isso mesmo: nada. De um lado um Comandante (Bernard Pruvost) com todos os tiques e trejeitos que se poderia imaginar e seu tenente Carpentier, mais imbecil ainda. Do outro um mistério que praticamente não chega nem a ser um mistério, mas sim uma série de assassinatos que soam relacionados, mas que aos poucos vão se resolvendo sem muitas surpresas. Pelo menos para o espectador, por que na tela a impressão é que a dupla chega as piores conclusões que poderiam.

É verdade que essa vontade de ser desafiador e compor um mosaico mais do que uma “cena do crime” seja o que mais chama a atenção do espectador, mas também deve acabar sendo o que mais afastará boa parte dos elogios. Em um esforço enorme o diretor forma esse quebra-cabeças para o espectador mais atento, mesmo que em muitos momentos na sequência e cada descoberta ele próprio coloque a dupla de investigadores para não perceber isso ou não saber o que fazer com a informação. Já o outro lado da moeda vai sair do cinema tendo a impressão de uma obra mal acabada e hermética sobre uma cidade onde todo mundo parece ser idiota.

O Pequeno Quinquin Crítica

Isso quando de uma hora para outra ainda não se deixa levar pelo nonsense de um menino subindo pelas paredes ou de um policial que prefere dirigir seu carro em duas rodas. No final das contas, uma vontade de ser diferente e enfrentar aquilo que todos esperam que deva acontecer. Um filme policial que é uma comédia ácida e sutil que não te permite rir de alguns momentos cômicos com deficientes físicos e mentais.Mas que parece querer encarar esse incômodo de ser diferente.

Um humor excêntrico (mais uma vez!) sobre a pior investigação de serial killer que o cinema já viu, com o pior crime, o pior grupo de suspeitos e a menos empolgante turba de jornalistas na cena do crime. Tudo isso visto de perto pelo pior bando de valentões que se poderia ter e uma praia cheia de pedras que simplesmente não permite que ninguém ande por ela sem ser completamente desajeitado. Em outras palavras, a pior praia para estar no cinema.

E ai talvez esteja o ponto mais interessante de O Pequeno Quinquin: nada dentro de seu mundo funciona direito. E passar por isso é experimentar algo tão novo que é difícil sair dele sem perceber que viu uma obra tão excêntrica (juro que é a última vez!) que talvez nem te deixe perceber o quanto ela discute bem alguns pecados e a culpa de modo sutil e intrigante. Mostrando mesmo porque é tão complicado afirmar qualquer coisa sobre ele.


“P’tit Quinquin” (Fra, 2014) criado por Bruno Dumont, com Alane Delhaey, Lucy Caron, Bernard Pruvost, Philippe Jore, Philippe Peuvion e Lisa Hartmann


Trailer – O Pequeno Quinquin

*CinemAqui foi convidado pelo Cine Roxy para cobrir a Itinerância
roxy-destaque

 

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