O Planeta dos Macacos: O Reinado | Até ultrapassa certas expectativas

O novo filme da franquia Planeta dos Macacos tem uma responsabilidade complexa: manter o alto nível de uma trilogia que prezava pela consistência. Planeta dos Macacos: O Reinado faz isso. Melhor ainda, pode até estar abrindo as portas para novos filmes e a impressão de que é possível continuar contando essa história sem perder o foco (verdade seja dita, como aconteceu com os filmes clássicos e originais).

Sim, existe a possibilidade de estarmos falando de uma série que, inspirada pelo filme de 1968, vai chegar em um lugar ainda mais coerente e que conte uma história completa, já que O Reinado, mesmo sendo uma continuação direta do filme de 2017, A Guerra, evolui no tempo, deixa os símios passarem por algumas gerações desde César e se estabelece em um mundo onde os macacos vivem livres nesse mundo pós-apocalíptico com os humanos sendo apenas uma lenda, criaturas quaisquer que se escondem nas florestas.

A história de O Reinado agora é de Noa (no original, voz de Owen Teague), um jovem macaco de um clã que vive uma vida pacata enquanto treinam suas águias e moram ao redor de duas torres de transmissão de cabos que se transformaram em um emaranhado de tábuas, cordas e diversas outras coisas que se tornam uns prédios.

De um jeito simples (o roteiro de Josh Friedman, que anos atrás assinou o texto do Guerra dos Mundos de Steven Spielberg) é simples, mas não simplório. Simples, porque é uma Jornada do Herói que deixaria o Joseph Campbell orgulhoso. Não é simplório, já que se diverte com as etapas bem claras do Monomito, mas sem pegar alguns atalhos preguiçosos que todo mundo adora pegar.

Noa precisa entender sua responsabilidade em sua aldeia, provar para si mesmo que está à altura do legado de seu pai, uma espécie de líder. Recusa um pouco essa responsabilidade, foge de ser comparado, mas é jogado para fora de seu mundo quando um grupo de outros macacos, mascarados e com uns “cajados elétricos”, destrói sua casa, sequestra seu povo e mata seu pai, tudo por estarem em busca de uma humana específica. Só resta à Noa, ultrapassar o “território proibido” e ir salvar seu povo, enquanto vai descobrindo que seu inimigo é ainda mais poderoso.

Literalmente depois de ultrapassar um túnel, Noa descobre um novo mundo, encontra um mentor, se aproxima de uma aliada, precisa sobreviver a provações dentro do mundo do vilão e, por fim… bom, todo mundo já imagina. E nada disso é um problema. Tanto pelo visual, quanto pela narrativa.

O Reinado não tem pressa. Seus personagens são apresentados, desenvolvidos, surpreendem e juntam essas motivações para criarem as ligações que vão montando o desfecho. Tudo isso com cenas de ação caprichadas, que valorizam o visual, o CGI dos macacos e, é claro, cria um ritmo dinâmico que está sempre colocando a trama em um trilho que anda sempre para a frente. Para os fãs da franquia recente, ainda há uma estrutura que está sempre provocando o espectador e colocando em prova o que é realmente o legado de César. Principalmente diante de um vilão que, ao melhor estilo déspota romano, resolve ser um “Novo César” enquanto deturpa as ideias do protagonista dos filmes anteriores. E se isso parece ser uma espécie de lição para o mundo atual, é porque é.

Essa ideia de discutir o que está fora da tela não é novidade para nenhum filme, nem da trilogia mais recente, nem dos filmes originais. Mas talvez O Reinado vá um pouco além ao ser mais prático e discutir o lado mas frágil dessa equação, quem é pego no meio do fogo cruzado. Que serve de instrumento, tanto para seus semelhantes com ideias malucas, quanto para o outro lado, que parece simpático, mas está preparado para qualquer sacrifício desde que não seja o deles próprios. O novo filme discute, mais uma vez, até onde os humanos merecem uma nova chance. A conclusão é sua enquanto sai de dentro da sala de cinema, mas não espere que o filme concorde com você.

Outra coisa que ficará com os espectadores após o término da sessão é seu visual. Como é de se esperar, a evolução da captação de movimentos engrandeceu ainda mais o visual de O Reinado. Se os outros três filmes já tinham um visual impressionantes, esse último é ainda melhor e parece focar até mais na impressão de dar personalidade para os macacos e torná-los mais próximos das faces dos atores que os dublam, mas com um bom gosto gigante e sem nunca permitir que isso se torne caricato ou esquisito.

Quem se diverte com isso e deixa isso bem claro na tela é o diretor Wes Ball. O diretor já tinha demonstrado o quanto sabe dirigir bem cenas de ação empolgantes enquanto assinou os três Maze Runners (que parecem esquecidos, mas foram mais competentes do que as pessoas acham). Em O Reinado, seu objetivo claro é demonstrar o bom trabalho de efeitos especiais e criação de mundo, tudo é claro, amplo e com calma para ser apreciado, não existe cena que esconda o trabalho de seus parceiros de produção e isso eleva o filme a um patamar visual incrível. Daqueles onde a ida ao cinema, com a tela grande, se torna uma obrigação para quem quer aproveitar o filme por inteiro.

E o melhor, junta todas boas intenções e discussões dentro desse pacote visualmente impressionante. Mantendo não só a qualidade dos filmes mais recentes, como ultrapassando certas expectativas e até deixando espaço para o futuro de uma nova trilogia. Comprovando que é possível continuar contando essa história sem perder o foco e, quem sabe, deixar um legado ainda maior do que aquele dos filmes originais. Quem sabe?


“Kingdom of the Planet of the Apes” (EUA, 2024); escrito por Josh Friedman; dirigido por Wes Ball; com Freya Allan e no original com vozes de Owen Teague, Kevin Durand, Peter Macon, Eka Darville, Travis Jeffery, Neil Sandlands e Sara Wiseman


Trailer do Filme – O Planeta dos Macacos: O Reinado

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