A nova produção do Max, O Podcast, no original se chama “Monolith”, algo como “Monolito”. No original o tal monólito no filme é mais um tijolo, então poderia se chamar “O Tijolo”. Já no Brasil, não só deveria se chamar O Podcast, como talvez era melhor até que o fosse, assim o tempo passaria mais rápido.
Mas tudo bem, as intenções são boas. Tanto estéticas, quanto narrativamente falando. Sobre essa jornalista que tem um podcast, o “Bem Além do Inacreditável”, que conta histórias sobrenaturais e malucas, mas sempre com um viés de responsabilidade jornalístico. Isso quer dizer que ela checa suas fontes e não se permite nunca cair para fora da prateleiro do ceticismo. Mas isso não a impediu de ter feito alguma bobagem no passado recente, o que resultou na acusação de alguém inocente e que marcou sua carreira.
Entretanto O Podcast não só sobre isso. Nem também sobre a crise que ela teve com a família que a afastou de todo mundo. Ou talvez no final seja, já que o roteiro de Lucy Campbell se permite caminhar para um local que brinca com terror psicológico, gore, teorias de conspiração, maluquices em geral, culpas de gente branca e rica prejudicando empregadas domésticas, alucinações e ETs.
Sim, O Podcast tem tudo isso. Uma salada enorme de ideias que vai se consumindo enquanto a repórter (sem nome, mas vivida pela mesma Lilly Sullivan do último Evil Dead) vai tentando desvendar esse mistério munida apenas de seu celular, uma porta de vidro onde ela cola uns documentos e seu podcast.
A ideia da direção de Matt Vasely é estar sempre perto da personagem e praticamente nunca olhar para nada que não esteja dentro dessa mansão meio idílica e pasteurizada. Portanto durante 90% do filme a única companheira da protagonista são as vozes de seus entrevistas. Nos 10% restantes ela recebe a companhia de alguém que o espectador já está acostumado, mas isso seria spoiler.
Isso acontece, pois a trama do filme corre para um lugar que, se não é inesperado, pelo menos demonstra uma vontade enorme de surpreender o espectador, principalmente aqueles que estiverem perdidos no meio do monte de informações que vão se encavalando e misturando, não só o “inacreditável”, como algo próximo à personagem. É difícil ficar colado no filme e ter certeza se tudo aquilo que está acontecendo é real ou simplesmente o produto de um delírio da personagem. E isso talvez seja bom para o filme.
Pelo menos, tudo isso acontece e tem o mínimo de capacidade de discutir um tiquinho de metáfora que enrola a construção desses acontecimentos que parecem ser pura maluquice… ou algo além do inacreditável.
Mas, pelo menos, as intenções de Vasely e Campbell se mantém firmes até o final. O Podcast é, na maioria de seu tempo um filme que poderia ser escutado, ainda que o final ficasse completamente em aberto para os ouvintes, já que a personagem não teria como narrar os acontecimentos finais. Mas em inglês o nome dele não recorre a essa ideia, então problema do Brasil. No original recorre a esse tijolo preto que as pessoas recebem sem saber de onde e nem de quem, mas também o filme não tem muita vontade de explicar isso e se diverte com a ideia de deixar tudo meio nebuloso e pendendo para qualquer lado que o espectador escolher.
O resultado disso parece ser uma bagunça, e é. Mas uma bagunça com momento divertidos e que talvez sejam suficientes para agradar quem mergulhar na história e se permitir não entender nada. Do nome do filme até o final que ninguém vai saber se é maluquice, metáfora ou uma provocação qualquer. Mas se fosse um podcast, com certeza não deixaria ninguém perder mais tempo com essa história do que ela merecia.
“Monolith” (Aust, 2023); escrito por Lucy Campbell; dirigido por Matt Vesely; com Lily Sullivan, Ling Cooper Tang, Ansuya Nathan, Erik Thomson e Terence Crawford