O Poder e a Lei

por Vinicius Carlos Vieira em 23 de Junho de 2011

O poder e a Lei talvez não tenha feito um baita sucesso, até conseguiu ultrapassar seu custos em território americano e quase dobrar essa quantia em termos mundiais, e mesmo sem entender onde o diretor semi-estreante Brad Furman (que tinha dirigido o nanico policial The Take) gastou quarenta milhões, no final das contas o resultado acaba sendo um thriller esforçado que sobrevive sem muitos solavancos.

Muito provavelmente até Furman tenha visto esses milhões escorrerem por seus dedos graças a um elenco com meia dúzia de caras bem conhecidas, mas talvez até sobre isso acabe deixando a impressão de uma falta de confiança no material que tem em mãos. Adaptado do livro homônimo de Michael Connelly, O Poder e a Lei tinha as ferramentas para chegar muito mais longe do que o diretor permite seu filme chegar, principalmente por tentar ser diferente.

Não que seja uma pérola criativa, mas simplesmente se esforça para contar com uma inversão dentro do clichê à seu favor, dando a seu espectador a oportunidade de saborear, a maior parte do tempo, um prato que parecia ser igual, mas tem lá seus novos sabores.

Nele, Matthew McConaughey é Mick Heller um advogado de Los Angeles acostumado a defender, não a escória, mas sim àqueles que acabam ficando à beira da lei. Charmoso, cheio de estilo, lábia e artimanhas, Heller atende seus clientes do banco de trás de um Lincoln preto, até que dá de frente com o caso de um ricaço (Ryan Phillipe), que é acusado de agredir uma prostituta, e acaba entrando nesse caminho sem saída e perigoso.

Mesmo que por definição “O Poder e a Lei” seja um “filme de tribunal” a grande artimanha da história é justamente começar o ato apenas depois apresentar aos espectadores todas as cartas e colocar seu herói em uma encruzilhada ética e pessoal que lhe obriga a tomar o caminho mais duro. A história de Connelly, que é adaptada por John Romano (que escreveu O Amor Custa Caro dos irmãos Coen), tem ai seu ás na manga: obrigar o espectador a torcer pelo vilão e ver o protagonista fazendo a coisa errada e vibrando com isso.

Longe de pregar algum tipo de maldade ou falta de caráter (ainda mais quando o diretor faz sempre questão de deixar claro que Heller “acredita na justiça” em vários diálogos que precedem essa reviravolta, afinal, sem isso, seria difícil simpatizar pelo mesmo), mas sim dando a oportunidade de se divertir com algo minimamente diferente dentro de um tema tão batido. Ainda mais em filmes de investigação.

O Poder e a Lei escorrega justamente por ter toda essa robustez no centro de sua trama, mas não conseguir usá-la por muito tempo. Durante a enorme maioria do tempo Furman escolhe esse filme de investigação sem, necessariamente, contar com essa dinâmica da proximidade do vilão com o herói. Ainda mais quando fica óbvio desde o primeiro momento que ele é culpado (já que antes dele, Heller só aparece defendendo traficantes, prostitutas e até um assassino que decapitou a esposa). Diante disso, achar que aquele seria o momento dele defender seu primeiro inocente é maniqueísta demais até para um filme de tribunal (onde obviamente só existe o lado do culpado e do inocente).

Sem muita sutilidade, o roteiro de Romano não se envergonha de ir jogando um monte de pistas tremendamente óbvias para serem resgatadas tempos depois, de modo mecânico demais, que faz ser difícil se surpreender com a volta de algum assunto que foi tratado nos primeiros dez minutos de filme. Tudo é manejado de modo tão sem jeito que deixa aquela impressão de “tá bom, então agora ele vai encontrar com aquele cara lá do começo” o que não ajuda a dar ritmo ao meio do filme, que acaba sofrendo mais ainda com a ineficácia do diretor em manter o ritmo visual e rebuscado dos primeiros momentos da produção, que dão lugar a composições quadradas e sem o mínimo esforço de serem diferentes.

Felizmente para quem for à procura de um pouco de diversão, pelo menos O Poder e a Lei funciona por ter uma trama que segura a atenção e um punhado de reviravoltas que acabam empurrando bem o filme até sua conclusão, mas sem empolgar. Talvez um pouco mais que uma sessão em um Tribunal de Pequenas Causas, mas bem longe de um Jack Nicholson batendo na mesa e falando que “você não agüentaria a verdade!”.

Confira aqui o trailer do filme O Poder e a Lei


Lincoln Lawyer (EUA, 2011), escrito por John Romano, a partir do livro de Michael Connelly, com Matthew McConaughey, Marisa Tomei, Ryan Phillippe, Willian H. Macy, Josh Lucas, Michael Peña e Bryan Cranston .


1 Comentário. Deixe novo

  • Danielle
    11/07/2011 17:46

    Achei a trama de o Poder e a Lei muito interessante, sou muito suspeita pois sou estudante de Direito e adoro a vida em tribunais.
    Achei o impasse do protagonista muito bom: absolver o cliente – não absolver o cliente e perder a licensa.
    Mas como ele se livra de tudo isso é uma atitude tipicamente “advocatícia” foi um filme que me surpreendeu!

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