O Segredo de Nápoles Filme

O Segredo de Nápoles | Não só um thriller de suspense


[dropcap]O[/dropcap] Segredo de Nápoles possui uma atmosfera de mistério junto de um drama pessoal que desafia nossa percepção da realidade, e seria ingênuo de nossa parte considerar verdade apenas o que pode ser provado. Afinal, o que sabemos da vida está fadado a falhas e incertezas de nossa percepção.

A história começa em uma escadaria, com a câmera girando em torno de si mesma. Em seguida, vemos uma mulher descarregando uma arma em um homem, que cai pelas escadas. Atrás surge uma “bambina”. Ela viu tudo. Focamos em seu olho. O que é visto pelos olhos nos é como mais sagrado.

O tempo avança e acompanhamos a cena de sexo mais completa do filme. A bambina crescida agora é Adriana (Giovanna Mezzogiorno), uma doutora legista que sai com um famoso mergulhador pela primeira vez para a melhor noite de sua vida. Na manhã seguinte ela teria a continuação do relacionamento se não o tivesse desencontrado no museu de arqueologia e reencontrado na mesa do trabalho, com os olhos arrancados.

O Segredo de Nápoles Filme

É um filme sobre um crime, ou na verdade sobre dois, pois o que a bambina viu ainda não está resolvido em sua cabeça. Agora o que ela viveu com o mergulhador se transforma em uma inquietante busca quando surge seu irmão gêmeo desconhecido a assombrar. O Segredo de Nápoles não está interessado em truques e reviravoltas, mas é bem capaz que o espectador médio caia em uma ou duas. O principal trata de uma imersão na cabeça dessa bambina crescida e ao mesmo tempo em nossas cabeças, através do que nós vemos.

Nápoles vira uma personagem onde os mistérios ocorrem, em seus corredores, ruas, museus e igrejas. Nas casas seculares, como onde ocorreu o primeiro crime. Nos jardins. A câmera do diretor Ferzan Ozpetek que começou girando pela escadaria segue em movimento leve sugerindo o aspecto de sonho. As transições de cena são suaves e a trilha sonora acalma em vez de gerar tensão. Mais uma vez: há morte, mas não é um thriller de suspense.

O uso da câmera também funciona na subjetividade. Vira e mexe ela está atrás de seus personagens. E ela está certa para esse filme: seus personagens importam mais que os fatos. Os fatos, esses escravos de nossa percepção, às vezes veem à tona, às vezes não. O que aconteceu com alguém que não existe mais existe de fato? Assista sem pressa.

Esse texto faz parte da cobertura da 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


“Napoli Velata”. (Ita, 2017), escrito por Ferzan Ozpetek, Gianni Romoli, Valia Santella, dirigido por Ferzan Ozpetek, com Giovanna Mezzogiorno, Alessandro Borghi, Anna Bonaiuto.


Trailer do Filme – O Segredo de Nápoles

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