O Sequestro do Voo 375 | Apertem os cintos

É curioso perceber que O Sequestro do Voo 375 estreou em pouco mais de 600 salas pelo Brasil enquanto a grande estreia da mesma semana, Wonka, chegou aos cinemas em quase 850 salas. Vendo assim, nem parece uma discrepância tão grande, e não é, o que deixou o filme brasileiro com a quarta maior bilheteria da semana de estreia. Mas com certeza, se estivéssemos falando do “Kidnap of the Flight 375” os números seriam outros.

O filme dirigido pelo experiente Marcus Baldini (de Bruna Surfistinha e Uma Quase Dupla, entre outros) só não tinha mais gente nos cinemas, porque é brasileiro. Brasileiro demais e no melhor dos sentidos. Mas infelizmente parece haver uma má vontade com produtos desse tipo e que extrapolam o esperado em termos de produto. Principalmente quando temos em mão os chamados “filmes de gênero”.

No caso, como o nome diz, um “filme de sequestro de avião”. Um baseado em uma história real (como são os melhores filmes do tipo) e que persegue um acontecimento de 1988 quando um voo da VASP que ia de Belo Horizonte até o Rio de Janeiro foi sequestrado por um homem que quer jogar o avião na cabeça do presidente na época, José Sarney, lá no Palácio do Planalto.

O pessoal um pouco mais antigo vai lembrar, com certeza, do caso, mas o roteiro de Lusa Silvestre, Mikael de Albuquerque e Rafael Leal tenta ir além disso. O objetivo e tentar glorificar certos pontos que parecem ter ficado perdidos pelos anos, principalmente o trabalho do piloto Fernando Murilo de Lima e Silva, vivido no filme pelo incrível Danilo Grangheia em um trabalho que rouba o filme para ele.

O outro lado dessa equação é o sequestrador Nonato vivido por Jorge Paz. Duas atuações incríveis e que elevam o patamar do filme para um lugar que não deveria ser ditado por sua nacionalidade. Até poque, o trabalho do diretor com a dupla é de um capricho tão grande que é fácil se sentir confortável com ambos. Nunca como reféns de algum tipo de roteiro melodramático, mas sim de um esforço para entender de onde sai a força e as motivações de ambos. Um cuidado que sabe o quanto isso é importante, afinal os dois passam boa parte do filme conversando dentro da cabine. E esse é apenas um dos lados do filme.

Como um bom “filme de sequestro de avião”, O Sequestro do Voo 375 tem aquela boa preparação antes da decolagem, tem a tensão fora do avião, na sala de controle, uma pressão política que pode colocar tudo a perder e até uma manobra que vai surpreender a todos no cinema. Tudo isso com um apelo visual que não deixa o filme brasileiro atrás de nenhuma produção de qualquer outro lugar do mundo que tenha as mesmas intenções.

Na verdade, essa parte das manobras parece ser um dos motivadores do nascimento do filme, já que a VASP e as autoridades da época negam a existência das tais manobras, mesmo com um punhado de testemunhas apontando o contrário. Portanto, conseguir passar para a tela esse momento de ação é, com certeza a coqueluche do filme e ela é tudo que se espera, não só pelo visual e pelos efeitos especiais, mas também pelo momento dentro da trama, pela tensão e por uma atuação incrível de Danilo Grangheia.

Talvez todos elogios do filme passem sempre por isso: um roteiro alinhado com uma direção eficaz, efeitos visuais vistosos e a atuação do protagonista. Três pilares que fazem com que O Sequestro do Voo 375 se torne um dos filmes obrigatórios do cinema nacional no ano, principalmente para valorizar todo esse esforço da produção de bancar um filme de gênero dentro de um cinema (e seus espectadores) que, muitas vezes, toma o caminha mais preguiçoso e ignora o que não é “artístico”. O que é um tremendo desperdício intelectual de quem ainda está preocupado em separar o cinema entre esse dois lugares.

O melhor seria se deixar levar pela possibilidade de se divertir com um bom filme tenso como O Sequestro do Voo 375, ainda que ele tenha seu título original em português mesmo. Até porque, grande parte de suas qualidades está justamente em sua personalidade: é um filme altamente brasileiro, já que, com certeza, muita gente deve ter tido a vontade de jogar um avião na cabeça do Sarney.


“O Sequestro do Voo 375” (Bra, 2025); escrito por Lusa Silvestre, Mikael de Alnuquerque e Rafael Leal; dirigido por Marcus Baldini; com Danilo Grangheia, Jorge Paz, Roberta Gualda, César Mello, Adriano Garib, Juliana Alvez, Claudio Joborandy e Gabriel Godoy.


Trailer do Filme – Sequestro do Voo 375

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