O maior pecado de O Troll da Montanha é se levar mais a sério do que deveria. Do lado de cá da tela ninguém o fará e estará pronto para se divertir com um filme de ação meio catástrofe com um monstro gigante caminhando sobre a Noruega. Mesmo com os dois caminhos se cruzando, falta mais leveza do primeiro.
O filme de Roar Uthaug, que também escreveu o roteiro com Aspen Aukan, parte de um ponto que parece impossível de levar a sério: Uma empresa que desperta um gigantesco troll enquanto constrói uma rodovia no meio das montanhas ermas da Noruega. E para ajudar a entender o que está acontecendo, o governo busca a ajuda de Nora Tidemann (Ine Marie Wilmamm) uma paleontóloga que, soterrada por um caminhão de conveniência, é filha de um folclorista especializado em… trolls.
O resto todo mundo já sabe: o governo se desespera, tenta acabar com o troll na base da porrada, a heroína descobre um jeito de resolver o problema através dos estudos do pai doido, todo mundo briga, ela fica sozinha nessa luta e todo mundo vive feliz para sempre, menos o troll.
Mas é fácil mergulhar na diversão “à lá Godzilla” e deixar o filme passar sem grandes problemas. E se falta uma vontade de brincar mais com a lenda, com o folclore e com a ideia do “mundo sobrenatural” esmagando os prédios junto com uma mensagem ecológica, sobra dinheiro para efeitos especiais e um visual que convence qualquer espectador, até os mais acostumados à grandes produções hollywoodianas.
Vem do cinema americano também toda estrutura do filme, mas com menos vontade de ser… digamos assim, americano. Entre o monte de possibilidades de ter mais um filme com uma heroína pronta para ser salva e uma trama capenga, o Troll da Montanha vai pelo outro caminho e sustenta sua história com uma protagonista forte, inteligente e direta, mas também um desenrolar que nunca tenta ser mais do que ele é: um filme sobre um troll gigante.
Para isso acontecer, um dos detalhes mais importantes da produção é não enrolar. A mensagem ecológica está lá jogada na cara, mas não fica dependente dela para nada, assim como o troll gigante, que não se esconde em nenhuma sombra e permite que seu visual nunca seja um mistério, é o resto que importa. Portanto, aprecie o visual, se acostume com ele e passe a se divertir com o resto da trama.
Entre as brincadeiras com a “cristianização” do país e algumas poucas ideias para incrementar a mitologia em volta do troll o filme perde rapidamente a vontade de trazer novidades para a trama ou se divertir com soluções mais criativas, o resultado disso é um direcionamento mais óbvio do que o filme merecia. Isso em meio a mais algumas conveniências que deixarão os espectadores mais experientes pouco empolgados.
Entretanto, as cenas de ação bem pensadas e com visuais caprichados ajudam a esconder esses escorregões e possibilidades mal aproveitadas. Resumindo, ao melhor estilo hollywoodiano, a correria, as explosões e os efeitos digitais irão soterrar um bom e velho roteiro meia boca.
Mas é um filme sobre um troll gigante pisando sobre Oslo como aquele outro lagartão radioativo japonês, mas com um clima mais nórdico e folclórico, não levar nada disso a sério é quase uma obrigação… e com isso vem um pouquinho de diversão.
“Troll” (Nor, 2022); escrito por Roar Uthaug e Espen Aukan; dirigido por Roar Uthaug; com Ine Marie Wilmann, Kim Falck, Mads Sjogard Pettersen, Gard B Eidsvold, Anneke Vin der Lippe e Fridtjove Saheim.