O Último Exorcismo

É impossível não olhar para O Último Exorcismo e não lembrar de A Bruxa de Blair, ainda mais quando, na sequencia final, o câmera corre pelo meio de uma floresta sem focalizar nada direito, mas, com certeza, a maior herança que o filme de 1999 deixa para o cinema não é essa câmera que brinca de realidade, mas sim uma possibilidade de fazer algo fresco. Um novo caminho a ser explorado.

O roteiro de Huck Botko e Andrew Gurland vai beber na fonte do espanhol [REC] e, por que não, no do lendário George A. Romero e seu recente Diário dos Mortos, ambos exemplos de mergulhos documentais em subgêneros específicos, enquanto ambos tratam de seus zumbis (mas com dinâmicas absolutamente diferentes), aqui se dá de cara com uma menina em uma possessão demoníaca.

Na verdade a história é mais até sobre o pastor Cotton Marcus, um exorcista profissional que, cansado e descrente, resolve por meio de um documentário, mostrar a verdade por trás de sua profissão. É justamente por isso que, durante todo começo do filme o que o diretor Daniel Stamm faz é hipnotizar sua platéia com uma desconstrução fria, tanto do ato imortalizado por Vax Von Sydow e seu padre Merrin, no filme de 1973, dirigido por Willian Friedkien, O Exorcista, como de todas crenças ligadas a isso.

Stamm não toma o caminho mais rápido e cria um pastor amargurado que terá que recuperar sua fé (por mais que em certo momento isso até pareça acontecer), mas sim faz de tudo para criar um personagem incrivelmente humano, repleto de falhas, cínico e muito mais preocupado em levar um dinheiro para casa no final do dia do que ajudar seus fieis, por mais que, em nenhum momento, se aponte como um fraudador, já que procura apenas ajudar as pessoas a achar seus próprios caminhos. Bem verdade com um ou outro truque.

É a partir dessa visão pragmática que O Último Exorcismo modela sua trama, bem ao contrário de A Bruxa de Blair, que prepara todo terreno para fazer você acreditar em tudo que acontecerá depois que aquele trio sem embrenha na mata, aqui o espectador é convidado a olhar para todo resto do filme do modo mais cético possível, compartilhando da visão do protagonista ombro a ombro. E mesmo no momento que o pai da menina possuída relata que o diabo entrou em sua filha, o que o cinema escuta é apenas mais uma ladainha a ser curada com um pouco de sugestão.

Lógico que a platéia sabe que toda aquela situação vai virar de pernas para o ar em algum momento mas, em uma decisão acertadíssima, Stamm e a dupla de roteiristas optam por manterem seus pés no chão durante todo filme. Por mais que as ações da menina pareçam sobrenaturais, há um cuidado quase excessivo para que nada se torne extraordinário, o que mantém mais ainda o clima real de tudo aquilo e te prende mais na cadeira. O que aquela câmera documental faz é acompanhar o pastor em uma situação na qual ele parece totalmente perdido, não entre alguma espécie de clichê razão/religião, mas sim entre sua sobrevivência e a vida da pequena garota.

Para isso, Stamm parece completamente a vontade ao não usar praticamente nenhum efeito especial, botando todo peso de seu filme nas costas da ótima atuação da desconhecida Ashley Bell, que anda nesse terreno entre a inocência e o demoníaco, de cara limpa e sem decepcionar em nenhum segundo sequer.

Um trabalho que fica mais impressionante ainda se levado em conta o quanto o diretor não se preocupa em vender uma idéia real, de fitas encontradas ou qualquer outra desculpa. Tirando a ausência de um título no começo do filme, nada faz o espectador ser obrigado a comprar esse lado verídico, mais longe ainda, talvez a idéia seja justamente essa: dar ao espectador um filme de terror e não uma experiência. E, muito provavelmente, seja por isso mesmo que optem por um fim mais clássico pessimista (meio lovecraftiano até) onde quanto menor e mais desabitado o cafundó do Judas onde o protagonista se mete, se torne mais recomendado ainda olhar bem com quem você está se metendo. Fechando a história do único jeito que ela pede o tempo todo para ser fechada, e que, com certeza não deixará ninguém no cinema indiferente diante desse pequeno, mas marcante, murro no estômago.


The Last Exorcism (EUA/Fra, 2010) escrito por Huck Botko e Andrew Gurland, dirigido por Daniel Stamm, com Patrick Fabian, Ashley Bell, Iris Reisen, Louis Herthum e Caleb Landry Jones


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