Orgulho e Preconceito e Zumbis

Orgulho e Preconceito e Zumbis


Há muitos filmes que se agarram a um conteúdo original pela força dramática que estes fornecem (como o recente Dez Mandamentos brasileiro), mas se esquecem de adicionar algo realmente valioso. Pelo contrário: se escondem covardemente “por trás das saias” de uma obra de referência, ambiciosa e complexa, e de lá atiram com pistolas de água no espectador, indeciso se gosta do que vê por lembrar algo que já viu ou furioso por terem brincado com algo que nunca deveria ter sido “tirado da caixa”. Mas acho que poucos filmes seriam tão perturbadores nesse quesito quanto esse Orgulho e Preconceito e Zumbis

Como o nome já deixa claro, o filme utiliza os personagens, a história e os diálogos da obra literária de Jane Austen e do filme homônimo (Joe Wright, 2005). Claro, a obra já foi adaptada outras vezes e até virou série televisiva pela BBC, o que lhe rendeu status de popular hoje em dia. E justamente por isso o diretor e roteirista Burr Steers (do ótimo A Estranha Família de Igby) inseriu na história outro elemento igualmente popular nessa década: zumbis.

O pano de fundo é a Peste Negra, trazida pelos franceses (“claro que foram eles”) e espalhadas em diferentes formas. Entre elas, apodrecendo a carne das pessoas infectadas, mas mantendo-as sãs, falantes, pensantes. Desde, é claro, que elas não comecem a devorar cérebros humanos por aí. Se fizerem isso, estarão marchando para o caminho da perdição, do animalesco. Dentro da história surge um grupo que evita comer cérebros humanos para comer de porcos, e que através da fé conseguem se manter “vivos” e livres da tentação. Constituem a alta classe de zumbis. Seriam os intelectuais, a aristocracia. Se continuarem assim, alguém comenta, logo estarão no Parlamento inglês.

A correlação com os zumbis de George Romero e seu A Noite dos Mortos Vivos e sequências não poderia ser mais viva e vibrante. Que ideia! Eu adoraria assistir um filme que relacionasse esses zumbis com a sociedade da época de Jane Austen, onde os nobres espantavam o tédio realizando bailes, que eram usados para que pares fossem arranjados, terras fossem transferidas de uma família para outra. Mas, infelizmente, este filme é mais “Orgulho e Preconceito” e menos “Zumbis”.

Orgulho e Preconceito e Zumbis Crítica

O que vemos neste é apenas um remake da obra de Austen em um formato mais explícito. Afinal, nós já sabemos que as mulheres são o sexo forte em seus romances, as verdadeiras heroínas. Aqui, são elas que realizam treinamento de artes marciais na Ásia (Japão se for rica, China se for pobre) e são elas que portam facas e espadas entre suas vestimentas delicadas. Tudo para se defenderem das criaturas comedoras de cérebro, que se mantém afastadas dos campos graças ao “entremeios”, um sistema de defesa do exército britânico, que destruiu todas as pontes e mantém Londres separada do resto do mundo civilizado exceto por um único caminho.

Enquanto isso, a nobreza arruma tempo para elaborar seus bailes e seus estratagemas de troca de herança, quase como se não houvessem zumbis. E é isso que é decepcionante no filme. Zumbis existem, vemos eles uma hora ou outra, mas eles nunca de fato participam da história ou são extremamente vitais para seu desenrolar. É como se eles apenas fossem uma nação inimiga pronta para atacar a qualquer momento. E se retirarmos os zumbis da trama, a história se volta quase que integralmente para um “Orgulho e Preconceito e Paródia”. As cenas estão lá, os diálogos funcionam, só que às vezes em um contexto ligeiramente diferente.

Isso não basta. Já vimos esse filme, e em um formato muito melhor: o drama original. A paródia não consegue nunca criar momentos cômicos interessante, pois se limita a repetir a receita do drama e inserir a novidade dos zumbis pontualmente. Depois da definição fantástica de como seriam os zumbis da aristocracia britânica, esse seria um filme que eu adoraria assistir. Infelizmente, vou continuar esperando.


“Pride and Prejudice and Zombies” (RU/EUA, 2016), escrito e dirigido por Burr Steers, à partir das obras de Jane Austen e Seth Grahame-Smith, com Lily James, Sam Riley, Bella Heathcote, Millie Brady, Suki Waterhouse, Douglas Booth, Sally Phillips, Charles Dance e Jack Huston


Trailer – Orgulho e Preconceito e Zumbis

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