Os Três Mosqueteiros

 

Não vai ser a primeira nem a última vez que o diretor Paul W. S. Anderson optará por preencher um visual arrebatador e divertido com uma história que, por pouco, nem faz sentido, e em Os Três Mosqueteiros ele Os Três Mosqueteirosfaz exatamente isso, mas ninguém vai nem poder reclamar, já que Anderson esmaga e ilude todo seu público com sua câmera. Resumindo, no “mute” talvez essa nova visão do clássico de Alexandre Dumas funcionasse perfeitamente.

Mais ainda, mesmo passeando bem pelas referências originais, Anderson e seus Três Mosqueteiros nada têm daquilo que já foi visto. Por um lado, uma quase ofensa clássica, por outro uma coragem de mudar e criar a sua própria versão de um tema que, a cada geração, parece mais e mais revisitado (desde a versão de 1948, como Gene Kelly, em Hollywood ela foi refeita mais três vezes, sem contar a mais recente A Vingança do Mosqueteiro, a aparição dos três heróis no Homem da Máscara de Ferro e um punhado de continuações mais antigas e menos lembradas).

E se logo de cara Anderson transforma os Três Mosqueteiros em uma verdadeira fantasia steampunk, com um punhado de traquitanas vitorianas e até uma invenção de Leonardo Da Vinci ganhando vida, é essa mesma veia “modernosa” que talvez mais prejudique o filme, já que o diretor simplesmente não sabe o momento de parar. Então, você mais purista à procura de um clássico de capa e espada, fique longe das salas de exibição.

Ainda que todo desenrolar da trama seja o mesmo de sempre, com o jovem D´Artagnan indo para Paris para se tornar um mosqueteiro, dando de frente com os famosos Athos, Porthos e Aramis e, juntos, acabando por salvar a França de um maquiavélico plano do Cardeal Richelieu, tão logo tudo começa a esquentar a ideia parece mesmo voar para bem longe das páginas do livro.

Anderson, no final das contas, parece fazer isso com segurança, se divertindo com um certo humor, um certo exagero (visual e narrativo) e, mais do que em qualquer outra adaptação, uma vontade de se esbaldar em uma aventura fantástica. Mas tudo só não dá absolutamente certo, pois ele e o roteiro da dupla Alex Litvak e Andrew Davies não conseguem equilibrar toda esse cacoete aventuresco com o que o gênero mais se qualifica a fazer: ação.

Tremendamente pontual, Os Três Mosqueteiros não só se esquece de desbanhar as espadas de seus personagens, como opta por três sequências de ação enormes (enormes mesmo, com batalhas aéreas e um duelo no topo de uma igreja) ao invés de criar um ritmo mais frenético. Muito provavelmente isso seja até resultado do rumo com que todo filme parece se sentir mais confortável, com toda intriga da trama tomando o lugar da ação, coisa que, surpreendentemente, acaba sendo o ponto mais positivo da produção, já que, assim, o filme pode ser entregue a seus verdadeiros donos: os vilões.

Se a impressão que fica em qualquer adaptação da obra é que os Os Três Mosqueteiros sempre acabam se tornando coadjuvantes do jovem impetuoso D´Artagnan, aqui vivido por Logan Lerman (da fantasia Percy Jackson), dessa vez mal caracterizado e com cara de astro teen, logo o cinema vai realmente perceber que os heróis são o trio em si (Matthew Macfayden, Luke Evans e Ray Stevenson). Mas não por muito tempo, já que até eles logo acabem de lado (até porque nenhum dos três encara nenhum dos personagens com segurança) e o filme se entregue para o quarteto de vilões: o Duque de Bukingham, Milady de Winter, Rochefort e Richelieu.

Mesmo que, aparentemente nenhuma das figuras do filme acabe então seguindo o caminho clássico (os próprios três mosqueteiros na sequência inicial do filme estão mais para dois ninjas e um brutamontes), são os vilões que conseguem captar melhor todo exagero que o filme se propõe a carregar. Christoph Waltz (de Bastardos Inglórios) e Mads Mikkelsen (de Cassino Royale), aqui como o Cardeal e seu braço direito Rochefort, parecem mais do que nunca terem nascido para serem maus, mas quem mais surpreende é Orlando Bloom (de Piratas do Caribe) criando esse Duque inglês afetado, exagerado, arrogante e divertido. Mila Jovovich (de Resident Evil e esposa do diretor) é a outra surpresa do elenco, principalmente por sua segurança e sensualidade na hora de criar essa espécie de espiã, Milady, que parece sempre estar traindo alguém.Os Três Mosqueteiros Filme

Não é a toa que o quarteto de vilões permaneça na tela a enorme maioria do tempo, ainda mais quando suas ações e diálogos movem a trama, enquanto resta ao trio do título (com D´Artagnan à tira colo) ser jogado de um lado para outro por motivos pueris, diálogos descabidos e momentos melodramáticos. Ou ninguém percebeu a ida apressada do jovem mosqueteiro para França quase no meio de um treino, Aramis como Guarda de Trânsito e um “vá pelo seu coração” clamado por Athos no calor de uma batalha.

Pior que isso, o roteiro ainda parece tremendamente preocupado em achar lugar para a presença do pouco importante Rei Luis XIII e até com um propósito pouco interessante para a ida de D´Artagnan para a França, que logo é esquecido, assim como um punhado de frases de efeito que mereciam destinos muito melhores do que as bocas dos coitados dos personagens.

Mas é lógico que Paul W. S. Anderson sabe de tudo isso, e não se importa de se preocupar muito mais com cenários gigantescos (muita coisa em um CGI impecável), slow motion a rodo e uma direção de arte inspirada, afinal de contas, alguém realmente se preocupa com o que os personagens estão falando enquanto travam uma enorme batalha entre dois navios voadores?

Por isso mesmo, que é lógico que todo vão sentir falta do “um por todos e todos por um”, das espadas e do clima romântico, ainda que Anderson, por si próprio, não pareça muito preocupado em deixar tudo isso para trás, “para quem leu livros demais e acha que tudo acontece como neles” (como um dos personagens faz questão de lembrar), mesmo que, talvez, o que aconteça nas páginas dos livros, nesse caso, acabe sendo muito mais divertido e faça muito mais sentido.


The Three Musketeers (EUA, 2011), escrito por Alex Litvak e Andrew Davies, dirigido por Paul W.S.Anderson com Matthew Macfadyen, Milla Jovovich, Luke Evans, Ray Stevenson, Orlando Bloom, Logan Lerman, Mads Mikkelsen e Christoph Waltz


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4 Comentários. Deixe novo

  • gostei

  • eu gostei do livro mas o filme corta muitos detalhes!!

  • Concordo com a crítica, eu sinceramente não gostei do filme. Os efeitos estavam ótimos, claro, mas o mais importante, o roteiro, mostrou-se extremamente ruim. Não que fosse preciso retratar fielmente a história dos livros de Alexandre Dumas, mas que fizessem um roteiro mais coerente. E o pior é que provavelmente terá uma continuação, como deu a entender pelo fim. Saí da sala decepcionada. E olha que não sou leitora dos livros.

  • Editado por excesso de ofensas (tradução livre dos editores do Cinemaqui!)

    Era uma vez um garota chamada Ricardo que não gostava de ninguém, e até para o filme ele fazia cara feia, por isso ele resolveu entrar aqui e pedir com educação para que todos que estivesse lendo essas palavras fossem para um lugar mais feio ainda, que comina com carvalho, já todo mundo era filho de profissional do sexo com cocô (isso ficou nojento!)

    PS do Editor: isso, Ricardo, é para você ver que o mundo fica muito mais feliz com simpatia e sem palavrões

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