Paixão Obsessiva é, em sua essência, uma produção original do canal Lifetime (pense nas sessões do Supercine) que tenta se disfarçar de ¿filme de verdade¿. Levando-se absurdamente a sério demais, o longa não tem o mínimo cacife para sustentar isso e, assim, consegue arrancar risos devido a seus absurdos mais facilmente do que realmente envolver o espectador.
Julia Banks (Rosario Dawson) é uma editora bem sucedida que, há alguns anos, foi vítima de um relacionamento abusivo. Depois de conseguir colocar seu agressor na cadeia, Julia ainda luta para superar a impotência que sentia com ele. Mas, agora, ela encontra-se feliz novamente e prestes a se casar com o gentil David (Geoff Stults). Julia, então, muda-se para a Califórnia para viver com o noivo. Ela logo conhece a filha de David, a doce Lily (Isabella Kai Rice), e sua ex-esposa, Tessa (Katherine Heigl). Tessa parece ter dificuldades em aceitar a nova vida de David, mas, aos poucos, sua obsessão demonstra não ter limites.
Escrito por Christina Hodson e David Leslie Johnson e dirigido por Denise Di Novi, Paixão Obsessiva consegue estabelecer claramente que a obsessão de Tessa não é por David, e sim pela perfeição ¿ e David faz parte da vida perfeita que ela havia construído para si até então. Com isso, o filme ganha algumas camadas a mais, além de livrar-se da misoginia que estaria envolvida em uma história trazendo duas mulheres brigando o tempo todo pelo amor de um mesmo homem. Tessa certamente toma atitudes típicas do estereótipo da mulher abandonada, mas tudo nasce de sua necessidade doentia de sempre agir da forma como ela é esperada a agir. Além disso, o abuso sofrido por Julia é tratado de maneira cuidadosa, e não existe apenas como justificativa barata para o comportamento atual da personagem.
Entretanto, a complexidade da produção para por aí, e não há tentativa alguma de contextualizar a trajetória dessas duas personagens através da misoginia da sociedade e das limitações forçadas sob as mulheres. Ao longo de exaustivos 80min, acompanhamos uma série de clichês e absurdos que tentam soar sinceros, mas jamais conseguem. Di Novi simplesmente exagera na (tentativa de ) construção da atmosfera, e jamais consegue livrar-se do ar de ¿superprodução original para a telinha¿.
Os diálogos são óbvios e nada sutis, enquanto os personagens coadjuvantes jamais conseguem estabelecer-se como indivíduos. Quando Julia encontra-se na estrada rumo à Califórnia, uma de suas malas cai do capô do carro e se abre, espalhando seu conteúdo pela estrada. Isso jamais é mencionado de novo e, se tenta ser símbolo de algo, não consegue. Diversos personagens se veem em situações perfeitas para ligar para a polícia ou chamar uma ambulância, mas não o fazem. Amigos dos protagonistas entram e saem de cena como se não tivessem vidas próprias.
Katherine Heigl abraça com afinco esse estilo e, assim, desfila pela tela com expressões variadas como ¿mãe controladora¿, ¿filha magoada¿, ¿amante abandonada¿, ¿mulher má¿ e ¿mulher muito má¿. Todas elas basicamente se limitam a olhar fixamente para alguém/algum canto. Mas tudo bem, Heigl merece elogios por conseguir manter o rosto sério enquanto reclama, em duas cenas diferentes, sobre o fato de a filha ter retornado da casa de David com nós nos cabelos. Rosario Dawson, por sua vez… Rosario Dawson, o que você está fazendo aqui?! Volte agora mesmo para os seriados da Marvel na Netflix!
Sem atrativo estético algum, Paixão Obsessiva está longe de ser a produção ofensiva que poderia ser, mas ainda se leva a sério demais para perder tempo realmente investindo na tensão e no suspense da história. O resultado, portanto, é um filme que pode até divertir se assistido durante uma noite qualquer, mas que dificilmente deixará alguma marca.
¿Unforgettable¿ (EUA, 2017), escrito por Christina Hodson e David Leslie Johnson, dirigido por Denise Di Novi, com Rosario Dawson, Katherine Heigl, Geoff Stults, Cheryl Ladd, Isabella Kai Rice, Jayson Blair e Marissa Morgan.
1 Comentário. Deixe novo
A crítica do filme é interessante, me ajudou a notar certos detalhes que passaram despercebidos na primeira vez que vi. Os filmes de suspense são meus favoritos. Aqui [nesse link que o editor só vai colocar no ar quando a HBO pagar!] estão os horários para vê-lo novamente. Paixão Obsessiva todo o tempo tem a sua atenção e você fica preso no sofá. Gostei muito por que não é tão previsível como outras.