Patos Selvagens

É realmente difícil falar de Patos Selvagens sem entregar nenhum spoiler, principalmente, pois a ideia principal do diretor (e roteirista), Yannis Sakaridis, nesse seu primeiro trabalho em longas, é presentear o espectador com a “trama real” do filme ao mesmo tempo em quePatos Selvagens Poster conta sua história.

Não que isso seja uma ferramenta para uma surpresa que marque seu final ou algo parecido, apenas um esforço narrativo honesto que não deixa que uma história com um frescor urbano atualíssimo se perca em uma estrutura que, se linear, poderia fazer o filme grego ser apenas mais um. E linearidade é o ponto chave de toda ideia de Patos Selvagens.

Nele, um homem, que parece estar envolvido em algum tipo investigação sobre uma antena de celular clandestina colocada em um apartamento de um prédio domiciliar, acaba também escutando as conversar de uma vizinha do tal aparato, com sua filha, por meio de uma escuta que coloca no apartamento da primeira.

E o interessante disso é que Sakaridis faz tudo isso acontecer quase ao mesmo tempo, criando um suspense genuíno. Que, logicamente, pela lentidão da ideia do filme não irá empolgar ninguém, mas em contrapartida permite que sua plateia vá criando essa história aos poucos, juntando os pedaços e, só lá no fim, ter a oportunidade de compreender tudo. Quase um exercício de narrativa que permite uma dinâmica que segura o filme até seu desfecho inteligente e seguro.

Patos Selvagens Filme

(e aqui alguns pequenos spoilers…) Mas é só quando Patos Selvagens se permite ser enxergado como um quadro maior que se percebe seu esforço estético e narrativo. Que não consegue encarar seu protagonista, olha para sua nuca como se o reprovasse e acompanha-o andando sem rumo tomado pela culpa. Tudo isso só sendo quebrado pelas ligações dessa mãe doente com a filha, como se para lembra-lo que precisa fazer alguma coisa antes que seja destruído por sua consciência. Pressionando-o para fazer o que é certo diante da possibilidade de uma segunda chance.

Patos Selvagens então é sobre esse homem tomado por uma culpa que o esmaga contra a própria vida. Mas que permite que ele se liberte disso (com o grito no começo) diante desse lago onde ele realmente se sente em casa. Mais do que tudo, é sobre um homem que descobre que errou e tenta então se redimir antes de tomar um novo caminho e, por que não, aproveitando a analogia com as aves do título, migrar.


Wild Duck” (Gre, 2013), escrito e dirigido por Yannis Sakaridis, com Alexandros Logothetis, Tehmis Bazaka, Girogos Pyrpassopoulos, Ilias Logothesis e Yannis Stankoglou


Essa crítica é parte da cobertura da Itinerância da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Trailer do filme Patos Selvagens

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