Paulistas Filme

Paulistas | Documentário denúncia ou ficção documental?


Paulistas é daqueles “documentários raiz”. Um documentário onde observar é vital. Estamos em um vórtex do tempo que se abre levemente e revela um mundo onde ninguém da cidade grande está acostumado. E nesse processo, algo muito inspirador vai acontecendo: impera a paz, o simples, o cotidiano e milenar. Tudo junto. Uma ode às nossas origens sem apelar para o apelo emocional e clichê da ecologia.

A base da história é que desde 2014 não há jovens habitando a região de Paulistas e Soledade, no sul de Goiás. O diretor Daniel Nolasco é de Paulistas. A maior parte dos “personagens” são parentes de primeiro ou segundo grau. O foco da narrativa gira em torno de três irmãos – Samuel, Vinícius e Rafael – que dividem o filme em três partes bem abstratas.

A escolha do filme em não ter narração falada, se limitando a apenas entrelaçar cenas do cotidiano da região durante as férias, quando os jovens que migraram para a cidade grande vão visitar seus parentes, é um tiro no pé da história que ele pretente contar. Isso porque é um tema mais complexo do que apenas registrar o estado dessa região. De acordo com o diretor a intenção era contar as principais dificuldades em manter a vida por lá depois que é construída uma barragem para uma usina hidrelétrica e a vinda do agronegócio em modelos corporativos.

Nós vemos essas duas forças sendo citadas, principalmente em uma trilha sonora que parece querer dizer algo. Mas tudo isso soa espalhado e sem foco, e o que fica mais presente é a vida dos idosos na região, cuidando de suas plantações e seus animais como era feito séculos atrás. A forma de falar dos habitantes é cativante pela simplicidade. Eles sabem que estão sendo filmados, mas ainda assim este se torna um trabalho autêntico.

Paulistas Crítica

A melhor parte talvez nem esteja relacionada com as atividades dos irmãos, mas com um senhor que tenta tocar pelo menos uma música que compõs na década de 50. Nos créditos finais vemos a música citada junto de várias outras contemporâneas, e essa já é uma pista relevante de onde o passado encontra o presente, pois não há músicas no meio do caminho: ou é 1954 ou 2013. O que houve no meio?

E para preencher esta lacuna o longa também é deficitário. Estréia de Daniel Nolasco na direção, ele parece ser o responsável pela beleza extraída dos registros da região e sua cadência, e embora falte roteiro suficiente para nós entendermos o que está acontecendo, vermos essas imagens humanas por si só, em meio a um apuro visual realista, mas poético, é possível se deixar compenetrado nos hábitos dessas pessoas tão distantes de nossa realidade.

Dessa forma, Paulistas se compromete como documentário denúncia ou ficção documental (em que a narrativa seria expõe os acontecimentos trágicos da região), mas ao mesmo tempo ganha peso quando vemos os hábitos primitivos da região, com pessoas que sabem matar um porco e aproveitar suas partes para o jantar da noite (aviso: as cenas podem ser fortes). E de quebra, fica também de aviso: há um curta de animação que será exibido antes das sessões do filme, Quando os Dias Eram Eternos, que vale cada rabisco. Um belíssimo programa duplo.


“Paulitas” (Bra, 2017), escrito e dirigido por Daniel Nolasco.


Trailer – Paulistas

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