Plano 75 | Descarta uma ótima ideia

A ideia por trás de Plano 75 permite explorar diferentes temas da vida moderna em que a recente pandemia poderia ser o exemplo mais icônico (explico depois). No entanto, uma vez apresentada, o universo criado pelo filme é tão tímido em expressar o subtexto da razão de ter vindo à tona, que fica difícil sequer entender se existe de fato uma motivação mais forte que a ideia inicial.

A ideia: vários ataques a idosos estão ocorrendo no Japão como protesto pela economia colapsando por causa de um aumento cada vez maior de idosos na sociedade. Acelera a história e é aprovada uma lei que permite que cidadão acima dos 75 anos de idade escolham ter sua morte assistida, uma espécie de sacrifício ofertada à população mais sênior para que ajude os mais jovens a ter mais espaço.

Isso faz com que empresas se especializem em fornecer esse serviço, tratando seus clientes com todo o respeito e oferecendo cremação e enterros gratuitos no plano básico, além de uma certa quantia em dinheiro para poderem gastar no que quiserem antes do último dia de suas vidas. O dinheiro, é claro, tem fundo estatal. Essa é a parte em que a analogia com produção em massa de vacinas patrocinada pelo Estado deixando a indústria de medicamentos mais que bilionária da noite pro dia encaixaria como uma luva. Também é possível encaixar como propostas inicialmente opcionais podem aos poucos serem espandidas para algo mais coercitivo ou inclusivo. No caso do filme, implantar um “Plano 65”, por exemplo.

Acompanhamos a vida de alguns idosos em que cada um terá como escolha de finalizar sua vida um motivo pessoal, muitas vezes influenciada pela solidão, por remorso do passado, ou até mesmo por complicações financeiras. Apesar de servir muito bem à terceira idade, nem sempre o benefício chega a todos que estão precisando (de acordo com o filme). Aos poucos então Plano 75 explora um pedacinho de cada uma dessas vidas.

Ao mesmo tempo temos a figura da imigrante, uma filipina que precisa operar com urgência sua filha de 5 anos e que para isso precisa de uma quantia grande de dinheiro em pouco tempo. Trabalhando responsável por reciclar os bens dos finados idosos que se alistaram no programa de terminar suas vidas, é sugerida a ela que esses bens são de pessoas mortas, ou seja, sem dono, e que por isso não haveria nenhum mal em usá-los para bem próprio.

Ou seja, há vários caminhos pelos quais a ideia de uma eutanásia institucionalizada e propagandeada poderia ser expandida. No entanto, o roteiro escrito por Jason Gray e a diretora Chie Hayakawa decide não ir a fundo em nenhum deles, ficando apenas na superfície, curtindo o eco dessa ideia, estendendo o máximo possível sem se comprometer com nenhum tipo de ousadia que seria esperado de algo digno de um futuro distópico ou pelo menos o início de um.

Plano 75 é um filme problemático em não problematizar sua ideia-nucleo. Quando cineastas do mundo todo estão sem ideias para combater a falta de imaginação dos streamings, Hayakawa decide descartar uma boa ideia com timidez e sugestões vagas do que está tentando dizer.


“Plan 75” (Jap/Fra/Fil, 2022), escrito por Jason Gray, Chie Hayakawa e Chie Hayakawa, dirigido por Chie Hayakawa, com Chieko Baishô, Hayato Isomura e Taka Takao.


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Trailer do Filme – Plano 75

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