Plano de Fuga

Talvez desde 2004 com seu filme A Paixão de Cristo Mel Gibson tenha mesmo entrado em uma maré ruim que passou por alcoolismo, antissemitismo e até pela agressão de sua ex-mulher e isso parece estar refletindo de modo mais que óbvio em sua carreira, ainda mais quando, sempre acostumado a disputar pelo topo das bilheterias, faz desse pequeno filme de ação, Plano de Fuga, sua tentativa de voltar às manchetes.

O pior disso é que ao criar essa expectativa de redimir o astro com os espectadores, a estreia de Adrian Grunberg na direção (depois de trabalhar como assistente e segunda unidade de diretores como o próprio Gibson e Sam Mendes em filmagens no México, e até de Oliver Stone) acaba sendo prejudicada, já que, de modo óbvio e claro, desde o primeiro segundo de filme, a única coisa que ela parece querer é ser um passatempo descompromissado e despretensioso.

Daquele tipo descartável, cheio de clichês, um par de sequências bacanas, um anti-herói sob os holofotes (com uma narração espertinha), um punhado de pequenas surpresas e um vilão mal o suficiente para querer roubar um órgão de uma pobre criancinha.

Na verdade, a história do vilão e do fígado só vai dar as caras lá para o meio do filme, enquanto isso, o espectador é apresentado a um ladrão (Gibson) que enquanto foge com um monte de dinheiro e um parceiro “sujando seus dólares com sangue”, acaba conseguindo ultrapassar a fronteira dos EUA e sendo preso por um grupo de policiais pouco honestos ao sul do “Rio Grande”.

Sem nome, sem passado e sem informações, o personagem então é jogado em uma espécie de presídio em forma de bairro e logo começa a traçar um plano para sair daquele lugar, mas sem nunca esquecer de todo seu dinheiro.

Mesmo com essa trama frágil e, aparentemente, sem muitas surpresas, Plano de Fuga nem faz tão feio assim, apenas se esforça para manter ligadas todas as pontas soltas que essa história poderia ter (e têm) para, no final de tudo (como um bom filme do gênero manda), amarrá-las todas com um único golpe, que nesse caso não parece muito preocupado em surpreender ninguém, apenas em manter aquela impressão de que, talvez, o “crime compense” (como o protagonista lembra), desde que, junto com isso aquele “menininho do fígado” também faça parte do final feliz.

E isso não foi um spoiller, já que seria impossível acreditar que todo clima debochado e quase farsesco com que o protagonista (que não tem um nome real) encara todos os problemas (quase blasé, como se tivesse a certeza de que não pudesse nada dar errado) não resultasse nele próprio se dando bem. Para isso, praticamente todos à sua volta são piores que eles: os mexicanos são todos marginais, seu policiais completamente corruptos (os americanos nem se fale!) e um segundo vilão corta dedos como se escolhesse canais de TV, por isso, roubar, escapar da cadeia e matar um punhado de pessoas nesse ínterim não cria o melhor dos heróis, mas pelo um anti-herói na medida.

Todo esse esforço também só tem efeito pela presença de Gibson, completamente solto no papel (lembrando bastante uma versão madura e levemente menos transloucada de seu Martin Riggs), infelizmente, nesse caso, em um papel que caberia na grande maioria de atores de Hollywood e, nem de longe, parece ser feito para ele, o que, talvez, mostre exatamente isso: que o melhor jeito de esquecer esses erros recentes do passado, seja começar de novo.

Para a sorte de Grunberg, talvez Gibson esteja começando a fazer isso em seu filme que, mesmo ainda sobre uma mistura de referência estética esquisita que ficam entre o México de Tony Scott e os slow motions de Robert Rodriguez, acaba fazendo um filme de ação pequeno e simpático que, nem de longe, deve aborrecer quem for ao cinema em busca, talvez, da volta de Mel Gibson às manchetes, sem que seja referente a seus “pequenos problemas” extra set.


Get the Gringo(EUA, 2012) escrito por Mel Gibson, Adrian Grunberg e Stacy Perskie, dirigido por Adrian Grunberg, com Mel Gibson, Peter Stormare e Daniel Giménez Cacho, .


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