Por mais que a maioria do pessoal conheça os Pokémon da TV, os “monstrinhos de bolso” surgiram nos videogames em 1996. Portanto, à titulo de legado e marco histórico, Pokémon: Detetive Pikachu é então uma das melhores adaptações dos games para o cinema. O que não quer dizer muita coisa, mas pelo menos coloca o simpático filme em um lugar especial.
Mas não crie tantas expectativas, principalmente se você não for um fã, conhecedor ou caçador de Pokémon. Bonitinho e certinho, Detetive Pikachu fica só nesse campo mesmo, perdendo a oportunidade de dar passos maiores e apenas caminhando em um “clichêzinho” agradável. E se não fosse pelo próprio Pikachu, muito provavelmente nenhum desses elogios nem estariam por aqui.
Lógico que ele é a estrela do filme, assim como o Pokémon mais conhecido e único que extrapola a bolha dos fãs. Todo mundo conhece o Pikachu, a voz fininha, o choque (assim como as crianças que passaram mal no Japão!), o formato fofinho e os olhos esbugalhados pedindo por um abraço. Por isso, quando o espectador encontra esse Pikachu ácido, rabugento e apaixonante, Detetive Pikachu ganha uma camada inesperada e que vale o filme.
Esse humor vem diretamente da lista grande de roteiristas. De um lado, Dan Herndandez e Benji Samit são a dupla que produz a série da Amazon Prime, The Tick e a comédia da Netflix Um Dia de Cada Vez. Do outro, Derek Connolly escreveu os dois novos Jurassic Worlds, mas antes disso assinou o esquisito e simpático Sem Segurança Nenhuma . Por fim, Nicole Perlman vem dos trabalhos na Marvel escrevendo Guardiões da Galáxia e Capitã Marvel. Isso sem contar a presença do diretor Rob Letterman, que já tinha dirigido e escrito O Espanta Tubarão e Monstros vs. Alienígenas.
O que isso tudo quer dizer? Direito mesmo, ninguém sabe, já que tanta gente assim é difícil saber quem fez o que. Mas o resultado é divertido, porém sem ser surpreendente. Tem uma trama que se encaixa, mas não empolga. Mas presença de Pikachu salva.
O filme acompanha esse jovem, Tim Goodman (Justice Smith, de Jusrassic World: Reino Ameaçado e da série The Get Down) tendo que ir para a Ryme City, grande metrópole onde humanos e pokémon vivem em harmonia (sim, eles encaram a Pokebola como algo opressor!), para cuidar do pertences do pai, um detetive morto em um acidente de carro. Mas tão logo ele chega por lá, tudo parece rumar para um mistério e quem irá ajuda-lo a desvendar isso é, justamente, o parceiro do pai: Pikachu. O detalhe é que ele consegue entendê-lo enquanto todos em volta só escutam os famoso e bonitinho “pika pika”.
Nessa hora, diante da expectativa criada por esse começo interessante, muita gente irá dispersar enquanto espera, talvez, por uma trama meio noir e perto do inteligente e divertido Zootopia, por exemplo (que bebe no gênero e lembra que pode fazer isso e ainda ser bonitinho). Mas Detetive Pikachu parece apressado e não permite que o espectador conheça muitos lugares nesse mundo cheio de Pokémon. Para manter o interesse dos fãs, passa por uma arena de luta e, de modo até meio apressado, junta logo todas pistas necessárias e parte para a trama principal.
Igualmente sem surpresas, essa “trama principal” funciona, mas de um jeito um pouco mais simples do que todos gostariam. Talvez ela, assim como todo o filme fique em um limbo onde tudo pareça ser um pouco complexo demais para um público infantil, principalmente ao envolver abandono, drogas e transmissão de consciência, enquanto, ao mesmo tempo, não deixa que nada disso dê um segundo passo, ficando demais na superfície, portanto, menos maduro que um público mais adulto gostaria.
É lógico que a personalidade e as piadas do Pikachu agradarão bastante esse público mais velho, mas isso acaba “vendendo” a eles uma ideia mais interessante do que o resultado propriamente dito.
Essa falta de interesse ainda deve surgir diante de um visual que parece não encontrar o tom correto para fazer esses Pokémon surgirem críveis dentro desse mundo real. Enquanto Pikachu parece receber toda atenção (e está perfeito!), grande parte dos outros personagens gerados por computador soa visualmente desconectado. Talvez um problema com a iluminação, textura ou até falta de dinheiro. Mas não importa, o resultado é esquisito e pouco empolgante.
É lógico que os fãs vão ficar “caçando” Pokémon enquanto o filme acontece, já que Detetive Pikachu parece ser uma fazenda de “easter eggs” com as referências brotando livremente em todos cantos da tela. Mas para quem não está familiarizado com esse mundo, vai ter que se contentar com o resto, e esse “resto” é bem pouco. Pelo menos o Pikachu salva.
“Porémon Detective Pikachu” (EUA, 2019) escrito por Rob Letterman, Dan Hernandez, Benji Samit, Derek Connolly e Nicole Perlman, dirigido por Rob Letterman, com Ryan Reynolds, Justice Smith, Kathryn Newton, Bill Nighy, Ken Watanabe e Chris Geere.