Muitas vezes um filme com pequenas intenções precisa de pouco para se tornar um acerto. Não que isso diminua sua qualidade, só é mesmo do tamanho que quer ser e isso não deveria ser um problema. Portanto, Projeto Adam ser essa aventura descartável não deveria importunar nenhum espectador. Pelo contrário, deviam é se divertir com isso.
O que é bem a cara da filmografia do diretor Shawn Levy, que depois de algumas “Noites no Museu” e coisas como Gigantes de Aço, o que se espera dele é sempre uma aventura sincera, que não exige muito de seus fãs, mas que tem o coração no lugar e personagens divertidos. Projeto Adam “dá check” em tudo isso e talvez em mais um pouco.
Já o roteiro escrito por quatros pares de mãos, parece realmente isso, um embaralhado de ideias que vão surgindo na tela para tentar sustentar uma premissa inicial divertida. O resultado parece mais escrito por uma criança inexperiente que viu filmes de ação demais, o que não chega a ser um problema, ainda que o filme seja carregado de clichês preguiçosos e até uma final contra um relógio que ninguém mais aguenta. Mas tudo bem, o resto é tão divertidinho que fica fácil ignorar essa derrapagem no final da corrida.
E tudo começa com Ryan Reynolds vivendo um piloto em 2050 roubando uma nave que tem a capacidade de criar portais para viagem no tempo. Isso o leva para 2022, onde ele encontra sua versão mais nova (Walter Scobell) e juntos eles terão que impedir que uma vilã caricata vivida por Catherine Keener continue fazendo vilanices no futuro. Eles não explicam direito o que ela faz, mas não importa, já que sobrem capangas, tiros, perseguições aéreas e a Zoe Saldana em algum lugar perdida entre tempos.
Sobre o “coração no lugar”, Projeto Adam é então sobre esses dois personagens, essas duas versões do Adam, que vão ter a oportunidade de lidar com a morte do pai (Mark Ruffalo) e o luto da mãe (Jennifer Garner). E essa parte funciona, é simpática, tem as lições todas no lugar e deixa um ar de otimismo no resultado final. Uma experiência que quer realmente conversar com a maior quantidade de públicos e idades, portanto não pode esquecer da ação.
O filme então tem pequenas calmarias para os personagens interagirem e toda discussão sobre viagem no tempo ganhar algumas linhas de diálogo e pseudo-ciência suficiente para divertir, mas sempre que isso fica longo demais, os vilões atacam e o “Adam mais velho” pode descer porrada em todo mundo.
Com isso na balança, o filme se equilibra bem. Tanto nas cenas mais calmas e que desenvolvem o drama dos personagens, quanto na dinâmica entre os dois Adams e, lógico, nas cenas de ação. Levy valoriza essas cenas mais movimentadas, sabe bem onde colocar a câmera e valorizar as coreografias e bons efeitos especiais. Só não sabe muito como esconder o horrendo CGI que rejuvenesce a personagem de Keener o que dá até um pouco de vergonha.
Falando em CGI, isso poderia ser uma ótima desculpa para o trabalho completamente canastrão de Ruffalo, mas infelizmente é ele mesmo ali na tela. Já Reynolds, continua ainda influenciado pelo Deadpool em absolutamente tudo que faz, o que parece ser uma repetição cansativa, ainda que aqui funcione, já que o tom do personagem aceita esse lado ranzinza e durão.
Mas entre esse monte de trancos e barrancos, Projeto Adam promete tão pouco que o que ele entrega é suficientemente divertido, esperançoso, confiante e ágil para que o filme passe rápido e ninguém fique muito tempo por aí pensando a respeito dele.
“Adam Project” (EUA, 2022); escrito por Jonathan Tropper, T.S. Nowlin, Jennifer Flackett e Mark Levin; dirigido por Shawn Levy; com Ryan Reynolds, Walker Scobell, Mark Ruffalo< Jennifer Garner, Zoe Saldana, Catherune Keener e Alex Mallary Jr.