Qualquer Gato Vira Lata

por Vinicius Carlos Vieira em 05 de Julho de 2011

Parece bater na mesma tecla, mas duas coisas incomodam em Qualquer Gato Vira Lata e até impedem o filme de estreia do diretor Thomas Portella de alçar vôos mais altos: a falta de ambição e o modo como parece à vontade sendo igual a um milhão de outros filmes, peças e histórias em geral.

Bater na mesma tecla, por que comédia romântica atrás de comédia romântica nada parece mudar e cada vez mais seus realizadores parecem engessados em uma preguiça esquemática e sem vida. Adaptada da peça de Juca de Oliveira Todo Gato Vira Lata tem Uma Vida Sexual Mais Saudável que a Nossa o filme, justamente, não consegue perceber que, talvez, o que ele tem de melhor, seus diálogos (nada mais óbvio, já que vem de uma peça de sucesso) e seu lado cínico e escrachado são o que mais daria resultado.

Nele, Cléo Pires é Tati, uma moça bem resolvida, mas que parece ter essa certa obsessão pelo namorado canalha (Dudu Azevedo) que acaba acabando com o relacionamento dos dois logo no aniversário dele. Entra então em cena o professor de biologia Conrado (Malvino Salvador), cético em relação ao amor e com uma teoria que leva a evolução das espécies de Darwin às ultimas conseqüências e destrói o romantismo.

Grudenta, obcecada e sem saber o que fazer, Tati então acaba virando objeto de estudos de Conrado, que então resolve fazer dela sua tese viva, demonstrando que ela conseguiria facilmente enganar seu ex-namorado a ponto de fazê-lo ficar a seus pés.

Bom, como ele sai de Darwin e chega nesse Cyrano de Bergerac às avessas (já que é ele quem carrega ela na arte da conquista e acaba se apaixonando) não importa, até por que não parece ser essa a idéia inicial, o problema é que é exatamente isso que mais enfraquece o resultado final.

Diante dessa história onde todos já têm a mais absoluta certeza da conclusão, carregá-la ainda assim por esse caminho acaba sendo um tiro no pé, já que nos poucos momentos em que Qualquer Gato Vira Lata se joga de cabeça nos diálogos, principalmente entre Conrado e Tati, é impossível não se divertir. A lógica dele diante do romantismo de toda situação e o modo exagerado com que, vez ou outra, trata essa “arte da sedução” arrancará, provavelmente, as mesmas risadas que a peça conseguia, mas tudo sai do eixo quando o filme opta por uma comédia de situação.

Não há dúvidas que Qualquer Gato Vira Lata, por esses poucos momentos onde prefere ser um filme de diálogos rápidos e bem humorados do que uma comédia romântica normalzinha, vai acabar agradando a maioria que entrar no cinema, mas não conseguirá fazer com que todas saiam da sala com impressão de terem visto algo senão mediano, já que acaba pecando no ritmo, por não tentar criar nada de diferente e nem ao menos uma reviravolta forte o suficiente para transformar os personagens e empurrá-los para um final menos entediante.

E ainda que o trio de protagonistas acabe então mostrando um trabalho esforçado e interessante, que dá mais um pouco de vida ao filme, principalmente por conseguirem entender o que cada personagem quer (o que os faz terem mais graça ainda, já que o roteiro nesses momentos corre direto e preciso), Qualquer Gato Vira Lata parece existir muito mais para encher as salas de cinema, não desapontar (muito) e apenas servir de grau de comparação para que as comédias nacionais possam saber que podem sim serem melhores. Um resultado na medida para que outros possam ser apontados como grandes.


idem (Bra, 2011), escrito por Claudia Levay e Júlia Spadaccini, a partir da peça de Juca de Oliveira dirigido por Tomas Portella, com Dudu Azevedo, Cléo Pires, Malvino Salvador, Álamo Facó e Rita Guedes .


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