Quanto Vale? | Crítica do Filme

Quanto Vale? | Menos do que poderia

Hollywood ainda não está à vontade com os atentados de 11 de setembro. Por mais que alguns filmes interessantes já tenham usado bem o acontecimento como pano de fundo (como Reine Sobre Mim e Tão Forte e Tão Perto), e alguns como Voo United 93 tenham até conseguido se aproximar realmente do atentado, talvez falte mais produções olharem melhor para o ataque terrorista em si. Quanto Vale? tenta fazer isso a partir de uma ótica diferente.

O filme é inspirado em parte nas próprias memórias de Ken Feinberg, advogado que ficou responsável pela organização de um fundo que organizou as indenizações das pessoas afetadas pelo atentado. A história escrita por Max Borestein parte desse princípio, mas procura a resposta da pergunta feita pelo título em uma estrutura comum demais para as possibilidades do filme.

Em resumo, Quanto Vale? é um filme muito menor e muito menos interessante do que o tamanho do assunto que tenta abraçar.

Vale dizer que o filme dirigido por Sara Colangelo consegue fazer grande parte do trabalho ao entender as necessidades da trama e construir um filme sincero e que aposta na realidade e em seu elenco para se tornar mais imperdível do que sua mesmice lhe permitiria ser. Colangelo é hábil enquanto aperta os botões certos e isso faz maravilhas pelo filme.

A trama é centrada na figura de Feinberg (Michael Keaton) e na sua jornada entre o pragmatismo dos números que o afastam das histórias das pessoas, até a descoberta de que o sucesso desse esforço só virá com a aceitação dessa humanidade. Infelizmente, o filme se deixa ser só mais um filme de advogado onde o protagonista tem uma epifania no final do terceiro ato e encontra um desfecho cheio de esperança para terminar o filme com a catarse de um trabalho bem-sucedido (junto com uma certa “heroificação”).

Essa transformação realmente puxa o filme para dentro da história, já que o espectador sempre é atraído por figuras que se tornam melhores pessoas através de suas descobertas humanas. Entretanto, a emoção da história fica a cargo da acertada opção de escutar essas histórias reais e lhes dar espaço para ser grande parte do filme, mesmo que acrescentem pouco para a trama.

Colangelo ainda coloca essas pessoas em uma posição de limpeza estética, não há mise-en-scene ou qualquer desculpa visual para atrapalhar essas histórias, e elas são tão verdadeiras e poderosas que entregam um tom de realidade que ajuda o filme. Mas novamente o próprio filme se prejudica ao levar para frente apenas duas histórias, ambas com reviravoltas que parecem mais artificiais do que deveriam, pois ficam sendo vistas sozinhas demais. Pior ainda, apenas uma delas serve realmente como motivadora para a transformação de Feinberg, resumindo o fechamento da outra a apenas uma ligação sem emoção no final da história.

A direção de Colangelo ainda mantêm o filme firme o suficiente para permitir que o elenco funcione, mesmo com pouco material para trabalhar. Keaton tem a sua disposição a transformação do personagem e ainda enfia no personagem um sotaque cheio de trejeitos. Stanley Tucci, mesmo sempre incrível e mais uma vez fazendo o que é necessário para o filme ganhar em qualidade, tem um espaço episódico na trama e surge sempre com umas frases atravancadas por uma falta de objetividade que só serve para serem desvendadas pelo protagonista em seu caminho. Quase como uma escada intelectual.

Ainda nessa espécie de trio principal, Amy Ryan é um completo desperdício. Mesmo podendo ser usada como contraponto emocional do protagonista, acaba afastada pela trama por não ter muito o que fazer nela a não ser seguir as palmas para Feinberg.

Quanto Custa? acaba com essa impressão de ser um drama de uma nota só. Uma única nota onde você já prevê todas mudanças e motivações desse personagem. É lógico que ele irá encontrar dentro de si mesmo o jeito de humanizar o processo, mas quando a trama foca absolutamente só nisso, o resultado é apenas mais um filme sobre o 11 de setembro que não consegue discutir a profundidade do acontecimento além da camada mais rasteira do assunto.


“Worth” (EUA, 2020); escrito por Max Borestein; dirigido por Sara Colangelo; com Michael Keaton, Amy Ryan, Stanley Tucci, Tate Donovan e Shunori Ramanathan


Trailer do Filme – Quanto Vale?

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2 Comentários. Deixe novo

  • Vinicius Carlos Vieira
    27/03/2024 21:18

    Fernando, eu citei no texto o Reine Sobre Mim, que acho que é uma abordagem legal. Justamente, porque acho que as melhores história sobre o 11 de Setembro vão ser sempre aquelas sobre o quanto o atentado influenciou os personagens de modo mais emocional e além do físico. Mal talvez a melhor obra sobre o acontecimento ainda não tenha sido feita… quem sabe…

  • Fernando Mattos Guimaraes
    19/03/2024 5:39

    Eu morava em Boston na época e também Sempre fui apaixonado por cinema fiz até um curso de roteirismo Então estou interessado em saber de você o que seria o melhor filme ou abordagem do 11 de setembro. Quem você acha poderia escrevê-lo? Obrigado.

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