Curiosamente em pleno 2023 o nome de Gene Stupnitsky estará atrelado a uma das melhores séries que você verá no ano, “Judy Duty”, e também a uma das comédias menos interessantes do mesmo ano, Que Horas eu Te Pego?. No primeiro ele é um dos criadores, no segundo ele dirige e assina o roteiro para o azar de todos.
Mas Que Horas Eu Te Pego? tem Jennifer Lawrence e, aparentemente, ela é boa demais em absolutamente tudo que ela faz, até quando precisa rir um pouco de si mesma, construir uma personagem meio idiota e, ao mesmo tempo, permitir que o roteiro destrambelhado a obrigue a ser mais sensível do que deveria. Mas, além de bonita, ela é simpática, encantadora, absolutamente talentosa e faz qualquer um de seus personagens ser sempre críveis, divertidos e prontos para salvarem qualquer filme.
Por isso, não é exagero dizer que a Maddie Barker de Lawrence salva Que Horas Eu Te Pego? de ser um desastre maior ainda. Mas a premissa é uma boa ideia para uma comédia.
Maddie é então uma mulher de trinta e poucos anos que mora em uma cidadezinha minúscula de Nova York onde as pessoas só vão para lá com o intuito de passar as férias ou construir casarões nos terrenos de pessoas que viveram lá a vida inteira. Mas não se empolga que o assunto “gentrificação” só é arranhado em dois diálogos e depois vira uma piada ruim (literalmente), o filme é sobre outra coisa menos interessante.
Com contas atrasadas e a casa da mãe quase indo a leilão, Maddie ainda ganha um problema maior ao ter seu carro guinchado e ela não conseguir mais ganhar uma graninha de Uber enquanto é bartender de um clube de rico qualquer. Até que ela responde uma oportunidade de emprego onde terá que seduzir um jovem de 19 anos que irá para a faculdade e os pais não querem que ele vá para a nova vida sem antes “despertar para a vida adulta”.
Por um lado isso faz da protagonista uma heroína pouco simpática para torcer, mesmo com uma piada que envolve essa decisão e empoderamento feminino que é uma das poucas que funciona no filme inteiro, por outro, deixa tudo óbvio demais e é até cansativo quando preciso pegar o caminho da sensibilidade para chegar à lição final.
Lawrence, pelo menos, constrói uma personagem que compensa essa antipatia com um exagero divertido e farsesco. Sua personagem é ácida, ágil e não levará desaforo para casa (como na cena da luta na praia, que demora demais, expõe demais e não tem graça), mas não tem a sensibilidade necessária para a segunda parte do roteiro. Quer dizer, tem, mas ela não aparece antes disso ser uma obrigação para empurrar a trama. Quando você está começando a se divertir com esse maucaratismo dela, tudo é substituído por fragilidade.
Na verdade, o filme inteiro faz isso. Depois de um começo cheio de ideias que poderiam dar gags interessantes, tudo aceita se tornar aquela história óbvia que todo mundo sabia que aconteceria. Eles descobrem que são melhores juntos, mas uma mentira desvia esse caminho antes deles se reencontrarem e viverem felizes para sempre.
Não que isso não possa ser uma solução, só é uma pena que Que Horas Eu Te Pego? só tenha isso. Mesmo com Lawrence sendo ótima e a premissa sendo divertida, mas falta humor e falta o mínimo de novidade, ainda mais com a assinatura do mesmo Stupnitsky do incrível “Jury Duty” (reforçando!).
Mas tudo bem, como diria o título original, “sem ressentimentos”, é só mais uma comédia que tem pouco humor e só uma necessidade grande demais de passar uma lição de vida que só muda os seus personagens, já que os espectadores talvez nem lembrem mais do filme cinco minutos depois dele acabar.
“No Hard Feelings” (EUA, 2023); escrito por Gene Stupnitsky e John Phillips; dirigido por Gene Stupnitsky; com Jennifer Lawrence, Andrew Barth Feldman, Laura Benanti, Matthew Broderick, Natalie Morales, Scott MacArthur, Elbon Moss-Bachrach e Kyle Mooney.
SINOPSE – Diante de uma maré de azar e a possibilidade de perder sua casa, Maddie Baker (Jennifer Lawrence) aceita um trabalho que envolve seduzir um jovem de 19 anos para ganhar um carro.
