Renascida do Mal é uma mistura de Cemitério Maldito e Linha Mortal, com um toque de Lucy e doses generosas de clichês do cinema de horror – apesar disso e do roteiro pouco trabalhado, consegue ser um passatempo divertido, principalmente graças à personagem central de Olivia Wilde, uma protagonista que, aos poucos, abraça cada vez mais a maldade.
Sua personagem é Zoe, uma médica que, ao lado do namorado e também médico Frank (Mark Duplass), trabalham no desenvolvimento de um soro para trazer pessoas de volta à vida após a morte na mesa de cirurgia, dando aos médicos preciosos minutos extras para salvar o paciente. Ao lado dos assistentes Clay (Evan Peters) e Niko (Donald Glover) e da documentarista Eva (Sarah Bolger) – que, além de registrar o projeto, também tem a função de guiar do público, fazendo perguntas que originam diálogos expositivos -, a dupla testa o soro Lázaro em animais mortos.
Eventualmente, o soro traz um cachorro de volta à vida – a equipe o batiza de Rocky e Zoe e Frank o levam para casa. O cão não parece interessado em comida e passa dias apenas deitado, sem energia, com exceção de um ocasião em que observa Zoe durante a noite (evento sem explicação, o que acontece com frequência ao longo do filme). Porém, Rocky começa a se mostrar instável e agressivo, e logo a universidade que abriga o projeto descobre o que eles estão realmente fazendo e, por “motivos religiosos”, aponta que o projeto deve ser interrompido, mas uma companhia consegue tomar posse de todas as informações do trabalho. Enfim, antes que eles levem tudo embora, Zoe e Frank decidem tentar o sucesso mais uma vez e, através das gravações de Eva, garantirem a autoria do soro. O laboratório, porém, sofre um curto-circuito, e Zoe morre – Frank, claro, decide utilizar o soro na amada, que volta à vida abalada mas, aparentemente, ela mesma.
Não demora para que os efeitos de ter retornado dos mortos, assim como aconteceu com o cão, comecem a se manifestar também em Zoe. O diretor David Gelb e os roteiristas Luke Dawson e Jeremy Slater criam uma versão interessante do inferno, fazendo com que a protagonista retorne assombrada pelas memórias de uma ocasião de sua infância que rendeu pesadelos pelo resto de sua vida (ainda que estes pesadelos, antes do retorno, existam apenas porque… bom, um filme de terror tem que ter pesadelos assustadores!). Assim, o trauma da experiência de quase-morte e o suposto contato com o inferno transformam a protagonista em vilã, e Olivia Wilde faz de Zoe uma figura interessante, complexa e perturbadora, ainda que prejudicada pela superficialidade do roteiro.
Por sua vez, Mark Duplass – tão talentoso em interpretar sujeitos ordinários – não convence como um pesquisador brilhante e ambicioso, e a relação de Frank com Zoe é um dos aspectos mais fracos do roteiro. Enquanto a frustração dela por ele ter aparentemente desistido de dar um passo adiante na relação desaparece após o desabafo de Zoe e não encontram respaldo algum na narrativa, mesmo o supostamente grande conflito ético entre eles – ela é religiosa, ele não, o que deveria causar diversas discussões em relação à prática e às possibilidades do soro – é deixado de lado rapidamente. Da mesma forma, o trio de jovens da equipe pouco tem a fazer, não dando espaço para seus intérpretes tentarem mostrar seu talento.
Assim, os buracos no roteiro não chegam a surpreender mas, claro, incomodam um pouco (por que só pensaram em usar luvas de plástico para se proteger da alta voltagem depois do acidente no laboratório?). É muito conveniente para a narrativa, também, que o sinal de celular seja fraco no local. Além disso, Gelb investe em clichês como a energia que insiste em cair, mergulhando os personagens na escuridão com alguns flashes de luz ocasionais, e em trazer alguém em close apenas para afastar a câmera e mostrar que o perigo está logo ali.
Renascida do Inferno traz, contudo, alguns planos interessantes, como o flash de luz que ilumina Zoe quando o lado infernal da protagonista se torna evidente, e o momento que ela aparece no final de um corredor, que a estabelece como uma figura realmente assustadora e perigosa. Gelb afasta ou aproxima a câmera de personagens ou lugares – especialmente corredores – com frequência, criando uma eficiente sensação de perigo iminente.
Olivia Wilde constrói uma protagonista/vilã interessante e ameaçadora, que brilharia ainda mais diante de um roteiro mais ousado e de um filme mais violento, já que as mortes, aqui, são particularmente brandas, apesar da natureza de Zoe. Essencialmente um filme de terror pouco inovador e repleto de elementos já vistos em obras mais interessantes, Renascida do Inferno – auxiliado por sua curta duração, já que o filme não tem nem 1h30 – ainda assim consegue entreter os fãs do gênero.
“The Lazarus Effect” (Estados Unidos, 2015), escrito por Luke Dawson e Jeremy Slater, dirigido por David Gelb, com Olivia Wilde, Mark Duplass, Sarah Bolger, Evan Peters, Donald Glover, Scott Sheldon, Emily Kelavos e Amy Aquino.
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Filme fraco , final fraco, e sustos ?? Que sustos ??