A quantidade de pênis na tela de Rotting in The Sun é proporcional às surpresas de seu roteiro. É impossível começar a ver o filme de Sebastián Silva e prever tudo aquilo que acontecerá nos próximos 100 minutos de história.
O filme é escrito pelo próprio diretor em parceria com Pedro Peirano e tem o objetivo claro de não deixar seu espectador à vontade com aquela história. É difícil até de entender onde o filme quer chegar realmente antes dele chegar. E o melhor disso é que ele chegará em vários lugares antes mesmo de demonstrar seu objetivo principal. Por isso mesmo, quaisquer informações maiores do que as da ideia inicial talvez estraguem parte da diversão. Até a razão do título não deixará você sem pensar a respeito (em português algo “apodrecendo ao sol”). Portanto, é preciso se deixar levar na brincadeira e nas provocações.
Elas começam com o próprio Silva sendo uma versão dele mesmo, viciado em cetamina e em meio a um bloqueio de criação que atravanca sua carreira de cineasta e de artista plástico. Até que seu amigo lhe indica uma ida a uma praia paradisíaca nudista gay, onde ele acaba conhecendo o comediante famoso no Tik-Tok Jordan Firstman, que jurava já conhecê-lo. Firstman também é um personagem real dentro de toda metalinguagem.
A praia repleta de pênis é ao mesmo tempo uma provocação com o moralismo do espectador e uma provação ao moralismo do próprio Silva. Não existe hedonismo em suas ações, mas sim quase uma piora em seu egocentrismo que o coloca em um lugar absolutamente horrível. É impossível simpatizar com Silva e a cada uma de suas ações e olhares pretensiosos, o espectador vai torcer para que ele realmente decida se matar e deixar as pessoas em paz.
Rotting in The Sun é primeiro então sobre Silva, depois sobre sua empregada vivida por Catalina Saavedra e, por fim, também sobre Firstman. Praticamente três protagonistas que irão ter que lidar com seus egos de modo quase selvagem e absurdo. Nenhum dos três pensa em absolutamente ninguém antes de pensar neles mesmos e isso cria uma espiral de loucura. Acompanhar essa história é um pedido para o espectador entender esse humor ácido mesmo em seus momentos mais delicados.
O roteiro parece fingir ir para lugares dramáticos para, na mesma toada, jogar sobre o espectador uma impressão de que aqueles personagens estão tomando sempre as piores das atitudes. Tudo de um mudo realista com a câmera que finge um amadorismo para sumir por trás dessa verdade que apodrece a cada sequência.
O resultado disso é um diretor mau-caráter com pensamentos suicidas, um “tiktoker” em crise existencial, um cachorro que adora comer coco, uma empregada falando com um aplicativo de tradução, um corpo apodrecendo ao sol, muitos pênis e um espectador que é pego no meio disso tudo sem muito saber o que fazer a não ser ir até o final desse novo lançamento do Mubi no Brasil.
“Rotting in The Sun” (EUA/Mex, 2022); escrito por Sebastián Silva e Pedro Peirano; dirigido por Sebastián Silva; com Jordan Firstman, Catalina Saavedra e Sebastián Silva.
SINOPSE – Um cineasta em crise conhece um comediante famoso em uma praia nudista gay e o encontro dos dois acaba mudando a vida deles e da empregada do primeiro.