Em outros tempos, em um cinema menos efêmero e que valorizava mais suas obras de arte, talvez ai esse remake de Sete Homens e um Destino fosse ser mais lembrado do que provavelmente será. Afinal, o filme dirigido por Antoine Fuqua é tão eficiente em transportar a história original de Akira Kurosawa para o velho oeste quanto seu original de 1960.
É lógico que isso se levarmos em conta que cinco décadas atrás o gênero ainda nem tinha passado pela “revolução espaguete” de Sergio Leone, o que possibilita que Antoine Fuqua tenha então em mãos muito mais possibilidades. E ele aproveita cada uma delas, do original de John Sturges ao próprio Leone e o sempre “sádico” Sam Peckinpah.
Mas sobre tudo Sete Homens e Um Destino conta aquela velha história dos “Sete Samurais”, e agora ganhando contornos ainda mais complexos diante do texto de Richard Wenk (O Protetor e 16 Quadras) e Nic Pizzolato (série True Detective), que “modernizam” a trama e miram em motivações um pouco mais complexas. Sai de cena o vilão simplista roubando um monte de aldeões inofensivos e entra em cena o capitalismo selvagem e violento de um magnata da mineração que quer expulsar todos moradores de Rose Grove.
O vilão no caso é Batholomew Bogue (Peter Sarsgaard) e bem diferente de suas contrapartes anteriores, em poucos segundos em cena não existe sutileza, mas sim tiros e um verdadeiro massacre. O que leva uma viúva dessas mortes em busca de algum pistoleiro de aluguel para protegê-los. Entra então em cena esses sete estereotipados e divertidos personagens que serão a última esperança dessa cidade contra Bogue.
E não é exagero dizer que diversão começa logo ali, com Denzel e seu Chisolm chegando a Amador City movido por uma copia/homenagem a uma sequencia que já se tornou clássica nas mãos de Quentin Tarantino em Django Livre. O personagem mantém então a roupa preta do Chris de Yul Brynner de 1960, mas as semelhanças acabam ali. Ok, existem mais alguns detalhes que releem exatamente o filme original, mas a impressão que fica é da dupla de roteiristas se esforçando ao máximo para soarem diferentes sem deixarem de ser respeitosos ao material anterior. Literalmente aproveitando a oportunidade de apresentar o clássico para uma nova geração.
Junto de Washington, Sete Homens e um Destino ainda tem um elenco que funciona perfeitamente bem. Chris Pratt (vulgo “bola da vez” em Hollywood) chega para puxar para si o interesse e o charme que um dia já foi de Steve McQueen, enquanto o resto dos personagens foge do original e vai em busca de uma diversidade racial divertida e que cria um punhado de possibilidades. E em meio a esse monte de atuações na medida, é de se esperar que Vicente D´Onofrio roubasse a cena…e é isso que ele faz, levando isso ainda mais longe com uma das melhores interpretações de morte que você verá no cinema nos últimos tempos.
Sim, e isso foi um spoiler, ainda que qualquer amante do gênero saiba que quanto maior o elenco de heróis, maior a possibilidade de você dar de cara com alguns sacrifícios. E nesse caso, para o bem desses fãs, qualquer morte vale bastante a pena diante de uma das mais empolgantes sequencias de ação que o gênero já produziu. Não pelo estilo visual de Antoine Fuqua, que não faz nada demais, e nem pela tensão do roteiro, que não faz nada de novo, mas sim por uma contagem de corpos que provavelmente colocará Sete Homens e um Destino junto de Meu Ódio Será Tua Herança (com direito a metralhadora giratória e tudo o mais!).
Algumas dezenas de minutos com os sete personagens enfrentando algumas centenas de bandidos, com muitos tiros, flechadas, machadadas, saques cruzados, dinamites, sacrifícios e tudo mais que o gênero tem direito.
Infelizmente, depois do “final do filme”, Sete Homens e um Destino escorrega em um prólogo bobinho, assim como deixa só para o final de tudo a famosa música tema de Elmer Bernstein. Mas mesmo assim, a impressão que fica é de um exemplo de como apresentar um clássico para uma nova geração e até melhorar essa experiência.
“Magnificent Seven” (EUA, 2016) escrito por Richard Wenk e Nic Pizzolato, à partir do filme de Akira Kurosawa, dirigido por Atoine Fuqua, com Denzel Washington, Chris Pratt, Ethan Hawke, Vicente D´Onofrio, Byung-hun Lee, Manuel Garcia-Rulfo, Martin Sensmeier, Haley Bennet e Peter Sarsgaard