O mestre Akira Kurosawa que me perdoe, mas dez segundos da trilha sonora de Elmer Bernstein em Sete Homens e um Destino já é mais empolgante que as longas quase três horas de Os Sete Samurais. Mas sobre qualquer polêmica, o importante é que de uma simples ideia nascem dois clássicos que mudaram o cinema.
Para quem não sabe, o filme dirigido por John Sturges em 1960, seis anos depois do japonês, é não só um remake, como em certos momentos leva ao pé da letra a ideia de reproduzir o original. É lógico que Sturges, mesmo com toda experiência (já tinha dirigido um punhado de faroestes , como Sem Lei e sem Alma e até indicado ao Oscar por Conspiração do Silêncio), nem chega perto das capacidades técnicas e artísticas de Kurosawa. Mas deixando a honra e as espadas de lado, Sturges cria um dos mais divertidos filmes do gênero.
A história continua a mesma (obviamente saindo do Japão) com essa aldeia quase na fronteira do México com o Estados Unidos onde vez ou outra um grupo de bandidos assola o lugar e leva tudo que eles têm, de comida à toda e qualquer coisa de valor. A violência e a morte de um dos aldeões leva então eles a procura de uma solução que surge na possibilidade de subir a fronteira e encontrar um grupo de pistoleiros que aceitem defender sua aldeia.
O que vem em seguida, todo mundo já sabe, já que os anti-heróis se juntam e acabam entrando em um combate contra os bandidos até as últimas consequências.
Sete Homens e um Destino tem então tudo do original e mais um pouco. Um pouco mais de ação, de balas, um vilão mais interessante e, acima de tudo: mais charme. Um charme que vem com um elenco incrível e que só ele já vale o filme.
Dois destinos
Bem ao contrário do que parece, juntar todas essa constelação no filme não foi um problema, até porque a grande maioria delas nem de perto eram os grandes nomes que se tornaram depois disso. A não ser pelo “Rei” Yul Brinner, todas outras carreiras foram catapultadas ao estrelato graças a esses sete pistoleiros e um bandido mexicano.
Indo mais longe ainda, é justamente Brinner, já com seu status de estrela que até deu pitaco na escolha do elenco, principalmente o futuro galão Steve McQueen, com quem na verdade teve uma péssima experiência no set e uma inimizade que durou décadas. Tudo isso, porque McQueen roubava suas cenas. Literalmente.
Brinner vive Chris, pistoleiro experiente e cheio de honra que, não só aceita a proposta dos aldeões, como também os ajuda a buscar os outros seis parceiros. Seu personagem no filme surge, justamente, com Vin (McQueen), um pistoleiro com muito menos classe (a diferença das roupas é um acerto incrível), mas que mostra a mira e a vontade suficiente para entrar nesse grupo como uma espécie de homem de confiança dele.
Mas McQueen, vendo a oportunidade de pular para o estrelato, simplesmente faz de tudo para tomar o filme para si, e é uma diversão sem tamanho rever o filme observando o ator enquanto permanece no fundo das composições, sempre mexendo no chapéu, ou fazendo algum gesto ou movimento, tentando de tudo para que o foca da atenção da cena pule para ele. De um lado, genial, de outro, principalmente para Brinner, uma chateação enorme.
Por outra lado, não há como negar que a presença de McQueen é uma das melhores coisas do filme. Uma presença tão grande que vez Brinner tremer de seu pedestal. E é justamente o tamanho que essa dupla ganha que faz o resto do elenco ser tão inesquecível.
Mais homens e mais destinos
E sem querer comparar, mas já fazendo logo de cara, Sete Homens e um Destino, não é mais divertido que o original somente pela trilha sonora do faroeste, todo o resto ajuda demais, principalmente o elenco.
A favor dessa nova versão está a possibilidade de um cenário muito mais pop, o que permite que cada pistoleiro tenha suas assinaturas, principalmente visuais. Em um trabalho incrível de composição, cada um dos sete parece vir de um filme de faroeste diferente, como se tentassem ali resumir um pouco do que era o gênero naquele momento.
Brinner é o líder de preto, sóbrio e sempre calmo (esteriótipo que praticamente o perseguiu pelo resto da carreira), McQueen tem o charme despojado, enquanto o sempre incrível Robert Vaughn em seu terno bem cortado e luvas empresta classe à toda essa sujeira que o rodeia. Ao lado deles, James Coburn, sempre calado e taciturno é silenciosamente perigoso e Charles Bronson é uma maquina violenta de matar, ao mesmo tempo que vê em seu passado as raízes daquele povoado.
Por fim, Brad Dexter surge como um daqueles personagens em quem você confia, mesmo nas adversidades (o que se reflete justamente em seu arco), enquanto o jovem Horst Buchholz fica com parte do papel que era no original de Toshiro Mifune, o que acaba sendo um tiro no pé do ator alemão, já que nem de perto ele tem a presença que o personagem necessita, e ainda que repita a risca várias das situações, não se deixa soar o “tolo genial” do filme e se deixa ir apenas por uma espécie de inexperiência juvenil e meio boba até.
Mas ainda que Buchholz seja o elo fraco do filme, por outro lado, a presença do hipnotizante Eli Walach como o vilão Calvera corrige em Hollywood uma das grandes falhas do original japonês: um vilão decente. Um rosto para focar essa maldade e que faz mais ainda que o destino desses sete homens seja mais heroico ainda. Com Wallach do outro lado, é mais fácil ainda torcer para os protagonistas.
O Destino
Mas sobre tudo isso, Sete Homens e um Destino é um faroeste nato, com 55 mortes, muitos tiros, cavalos para todos os lados e uma visão romântica de um período histórico que não deve ter sido tão divertido assim.
Por outro lado, por mais que ainda seja esse “faroeste arrumadinho” pego em meio à transição dos clássicos comandados por John Wayne e o sujo Spaguetti Wastern de Sérgio Leone, existe ali uma vontade ser melancólico e esfregar nas cara dos “velhos cowboys” a dura realidade que estaria por vir no gênero.
Acima dos tiroteios, dos diálogo engatilhados em meio às balas e dos “saques cruzados”, Sete Homens… traz diretamente de seu irmão samurai a tristeza de um destino que parece sempre fadado à tragédia. Sob o charme da vida de pistoleiros, existe a angustia de não ter raízes, de não ter para onde ir após um trabalho ou uma família para reconfortá-lo. Um fim que busca nos Sete Samurais a mesma impressão de que, mesmo diante da festa dos aldeões, ninguém saiu tão vencedor assim diante de uma batalha onde tantas vidas foram desperdiçadas.
2 Comentários. Deixe novo
Esse remake de 2016 com Denzel Washington (monstro em qualquer filme) e cia, não chega nem perto desse clássico de 60!
simplesmente um classico.