Sorte de Quem? | Crítica do Filme | CinemAqui

Sorte de Quem? | Metaforicamente preguiçoso

Você já conhece o tema desde Parasita, o filme-pop do diretor coreano Bong Joon Ho que conquistou todo mundo interessado nesse papo de classismo no cinema, ganhando inclusive o Oscar e vencendo a barreira aparentemente intransponível do americano ler legendas. A obra do coreano foi influenciada pelos tempos pós-crise de 2008 e acabou influenciando diversos movimentos anticapitalistas, cada um com seu cheiro peculiar. Atingiu também Hollywood, onde ironicamente chove dinheiro para esses projetos. E falando de dinheiro, Sorte de Quem? é até um trabalho menor, intimista, mas bate na mesma tecla, embora, claro, sem o humor, o charme, a coesão, a edição (de Jinmo Yang), o roteiro e a direção do cineasta coreano.

Sorte de Quem? traz Jason Segel, o ator da série How I Met your Mother, fazendo um personagem dramático, onde ele fecha a cara e é basicamente isso. O nome do seu personagem (consta no IMDB): Ninguém. Ele é um assaltante aleatório em uma casa de bacana cheio de laranjais, mas quando o dono chega, um bilionário da bolha high-tech, fica óbvio que a casa não foi escolhida ao acaso. Para o espectador é anunciado nos primeiros minutos que veremos um filme daqueles que foca em pouquíssimos personagens, o que geralmente é bom porque fica mais fácil de acompanhar, mas ruim por lembrar muito teatro e precisar de uns movimentos de câmera diferentões e chamar atenção: isto é cinema! Escuta essa trilha dramática e pessimista dos anos 60 e me respeita!

Mas a história é até agradável quando Ninguém, o bilionário e sua esposa precisam aguardar a chegada do resgate necessário para que este assaltante saia da vida dos dois. Em torno disso surge uma discussão bacana, ou talvez um monólogo dito pelo ricaço, claro, sobre a virtude dos que fazem acontecer e uma crítica ácida ao coitadismo. Nessa hora conseguimos entender porque foi escalado Jesse Plemons como o personagem “CEO”. Da série televisiva Breaking Bad em sua última temporada (e indicado ao último Oscar por seu trabalho em Ataque dos Cães) , Plemons já provou ser um ator à altura de estereótipos de perfis que misturam gente mimada com força de vontade.

O que talvez tivesse sido uma coincidência incrível é que após o monólogo do do personagem de Plemons, passamos a notar como de fato as atitudes do Sr. Ninguém lembram alguém incompetente que só consegue ganhar a vida tirando algo dos outros. Uma triste ou feliz coincidência, porque Jason Segel não possui o timing dramático necessário para transformar este sujeito em pelo menos um ladrão de galinhas. Ele não é engraçado nem sério o suficiente. Uma vez que Segel encontra um tom que pode ser usado por todo o filme ele se mantém neste e não cria mais nada de novo.

Fechando a tríade do roteiro minimalista com três personagens vem a esposa do CEO, a chamada “Esposa”. Esposa é uma vítima das circunstância$$$ e decidiu se casar com este babaca cheio da grana e com isso administra uma instituição de caridade. Sua história de vida faz lembrar Melissa Gates, ex-esposa de Bill Gates, fundador da Microsoft e que serve de paralelo para o CEO do filme. O casal da vida real criou uma instituição de caridade e ela, após o divórcio, levou os bilhões conquistados por Gates para continuar sua sofrida vida de ajudar o próximo.

Sorte de Quem? | Metaforicamente preguiçoso

Já no filme, as circunstâncias que envolvem o encontro inusitado obrigam essas pessoas a passarem dois dias e uma noite juntos, mas você não tem certeza se quer acompanhar todo esse tempo com elas. Não é que seja desagradável ou que haja muita “crítica social”, hoje em dia visto em tom pejorativo. O motivo de não querermos acompanhar esta lenga-lenga é porque é simplesmente um porre, mesmo. Se bem que, pensando em retrospecto, se houvesse uma crítica social de fato e não ficasse nos rodeios teatrais intermináveis a história seria um porre de qualquer maneira.

Mas nesse caso não há história. Apenas diálogos incompletos que colocam reticências na história dessas pessoas que nós devemos preencher com os preconceitos de cada um. Dessa forma podemos comprar qualquer lado (ou nenhum, minha opção, apesar de gostar do CEO) e ainda acompanhar um pouco dessa visita desagradável. Não é frustrante quando você só quer passar uns dias isolado de boas e vem gente pedir alguns milhares de dólares apontando uma arma?

Para preencher os quesitos técnicos, é preciso citar a trilha sonora composta por Danny Bensi e Saunder Jurriaans, que realmente quer ser a protagonista desta história. Ela pede para ser notada a todo momento, competindo da direção invasiva de Charlie McDowell.

No final a lógica narrativa resolve dizer adeus sem avisar antes e algumas metáforas preguiçosas são lançadas; não que alguém estivesse pedindo por alguma. Deixa um gosto ruim de tempo perdido, sem qualquer momento marcante de três atores que funcionariam melhor em um mundo onde não houvesse apenas histórias sobre bilionários cheios da razão e toda a sociedade a mostrá-lo que não é bem assim.


“Windfall” (EUA, 2022), escrito por Charlie McDowell, Jason Segel e Justin Lader, dirigido por Charlie McDowell, com Jason Segel, Lily Collins e Jesse Plemons.


Trailer do filme – Sorte de Quem?

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