Spiderhead | Crítica do Filme | CinemAqui

Spiderhead | Vontade de esquecer… e vai

Nenhum espectador tem todo tempo do mundo para descobrir o que o cineasta quer com sua história. Quando espera demais, a vontade que dá é de sair do filme e ir procurar alguma coisa melhor para fazer. No caso de Spiderhead, por ser um lançamento da Netflix, voltar para a lista de filmes e séries e ir assistir alguma coisa que o algoritmo te empurrou com mais precisão.

Mas com certeza a Netflix não irá divulgar os números de retenção do novo filme dirigido por Joseph Kosinski, curiosamente o cara que deve ficar com uma das maiores bilheterias do ano em seus Top Gun: Maverick. Mas esqueça seu filme com Tom Cruise e volte para Spiderhead.

O filme na verdade é a adaptação de um conto publicado no The New Yorker e escrito por George Saunders. Para o filme, o roteiro fica nas mãos da dupla Rhett Reese e Paul Wernick, de Deadpool, o que parece não dizer nada a respeito do resultado final em termos de qualidade e ousadia. Principalmente porque a premissa não convence ninguém.

Uma enorme base de concreto no meio de uma ilha paradisíaca e que poderia servir de casa para algum vilão do 007, mas aqui ela sedia um experimento onde um monte de condenados por crimes pesados ganham a oportunidade de servirem de cobaia para um cientista, Abnesti, vivido por Chris Hemsworth.

O ator pouco tem a ver com o papel, mas consegue contornar esse problema e acaba se tornando a única coisa que funciona no filme, principalmente por conseguir encaixar uma certa maluquice, genialidade e ferocidade dentro do personagem. Hemsworth mostra mais uma vez que, além de loiro, alto, lindo, alto mesmo, é um ator que dá conta de qualquer papel, até mesmo aqueles que não foram feitos para ele.

Mas o filme não é sobre ele, mas sim sobre Jeff (Miles Teller), um dos condenados que começa a desconfiar que, mesmo com toda mamata de não estar em uma prisão estadual, o tal do Projeto Spiderhead, pode não estar sendo tão honesto e moral quanto deveria. O que é de uma imbecilidade enorme, já que o cerne da ideia é de uma imoralidade gigantesca e mesmo assim eles já tinham aceitado logo de cara.

Spiderhead | Vontade de esquecer... e vai

A ideia de Abnesti é testar uma série de drogas que agem diretamente na percepção sensorial e emocional das pessoas. Com uma delas, até o cenário mais feio é observado como uma paisagem linda. Com outra, mesmo sem a menor atração pela pessoa, ela se torna uma paixão enorme. Uma outra faz o testado rir de qualquer coisa. Outra, falar sem parar e explicar tudo que está acontecendo. E obviamente existem aquelas que dão medo, depressão, fome incontrolável etc.

Mas até o espectador ficar à vontade com todas essas drogas, com o passado de Jeff e ainda com o relacionamento dele com outra cobaia, Lizzy (Jurnee Smollett), o filme já foi longe demais sem acontecer nada. O roteiro da dupla enrola até não poder mais e demora para apresentar o conflito que moverá o filme em sua segunda metade. Consequentemente, meio filme só de ambientação, explicação, exposição e tédio. E isso destrói qualquer possibilidade de Spiderhead funcionar.

Kosinski até entrega um filme bonito, ágil e objetivo, suas cenas são sempre interessantes de ver e nunca se perdem sem nada para mostrar. Mas o que mostram, na maioria do tempo, é pouco.

Há ainda um quarto personagem importante no filme, Verlaine (Mark Paguio), assistente de Abnesti. Seu arco é imprescindível para o final do filme, mas suas mudanças parecem não acontecer com a naturalidade que deviam. Como se tudo ficasse quase no campo da epifania em certo momento, quando ele descobre que seu papel para a trama é muito mais importante do que era.

E a experiência fica ainda pior ao expor o espectador às pseudo intenções profundas da ideia. O que poderia ser um modo de entender o mundo através de um olhar à la Admiravel Mundo Novo, se torna um emaranhado pacifista com intenções fascistas que não sobreviveria ao projeto inicial, já que teria de convencer o Estado a ceder seus presos para os experimentos. Paradoxalmente, caso o mesmo Estado tenha aceitado, não teria então como, no final, o mesmo ser convencido a invadir essa base.

Sim, isso foi um spoiler, mas o filme acaba antes disso. Um final climático que aceita uma correria com jeitão de filme de ação e que dá ao Chris Hemsworth a oportunidade de brilhar em mais um pedaço do filme. E só.

É difícil entender o que o diretor queria com Spiderhead, de qualquer jeito ele demora demais para chegar lá e acaba só dando de bandeja para o Hemsworth a oportunidade de se tornar a melhor coisa do filme, mesmo diante de um material tão bagunçado, cansativo, óbvio e perdido.


“Spiderhead” (EUA, 2022); escrito por Rhett Reese e Paul Wernick, à partir do conto de George Saunders; dirigido por Joseph Kosinski; com Chris Hemsworth, Miles Teller, Jurnee Smollett e Mark Paguio


Trailer do Filme – Spiderhead

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