System Crasher | Talvez seja sobre esperança

*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


[dropcap]S[/dropcap]ystem Crasher evita a todo custo julgar sua jovem e impossível protagonista, mas não se pode dizer o mesmo dos espectadores, que saíram da sessão vociferando palavras de ordem e disciplina como solução para uma menina de uns 10 anos que com inteligência acima da média e ataques explosivos é uma versão em miniatura de uma delinquente juvenil. Mas a grande questão para quem quiser analisar além das emoções primárias que o filme evoca é sua camada imediatamente superior: quais os objetivos de um filme como esse?

Estamos em um país de primeiro mundo e a pequena Benni já passou por mais de 30 instituições de correção juvenil. Jovem demais para ser presa no que seria a daqui extinta Febem, acompanhamos os ataques de raiva da garota enquanto ela provoca e agride crianças, ou foge dos adultos que a estão supervisionando.

O filme escrito e dirigido por Hora Fingscheidt se entrega completamente ao ponto de vista de Benni para nos tentar dar sua visão, falhando miseravelmente, pois ninguém conseguiria se identificar mesmo. Com fontes coloridas e infantis, e música animada e frenéticas durante seus ataques, os movimentos de câmera da diretora pretendem emular o comportamento da mente desta criança que foi traumatizada desde muito pequena, adotada duas vezes e devolvida muitas outras.

A dinâmica para filmar a jovem atriz Helena Zengel é uma das mais tensas já vistas com atores-mirins. Com certeza fruto de trucagens, nós espectadores a testemunhamos dizendo palavrões de gente grande e agredindo gravemente muitas crianças, além de si mesma. A atuação da atriz é primitiva, e podemos dizer com certa confiança que ela está representando uma versão muito próxima dela mesma e exibindo sorrisos e expressões falsos, mas pelo menos isso conseguimos relacionar com crianças saudáveis.

Este é um filme adulto que pode chocar adultos. Há cenas fortes, mesmo que não explícitas, mas que mexem com nossas emoções. Benni faz basicamente o que quiser e vemos adultos impotentes diante de uma criança. Em vários momentos do longa a dúvida de quais os objetivos dessa tortuosa e frustrante história começam a incomodar.

No que chegamos na grande falha do filme: não nos dar resposta definitivas. E por que esta seria uma falha, já que de acordo com seu próprio título de trata de um filme de alguém que quebra o sistema de tratamento de crianças desse país? Bom, não adianta descrever uma situação fictícia se você não tem nada o que falar sobre ela. Depois de uma hora e meia o filme anda em círculos por mais meia hora, gerando simpatia apenas pela assistente social que acompanha Benni desde o começo, quase como uma muleta emocional para não nos deixar sem nada.

Para chegarmos em uma conclusão sobre o filme não nos resta outra opção do que entender que esta é uma crítica velada ao sistema educacional que está sendo usado em crianças de países que não possuem mais nenhum problema real, exceto lidar com crianças mimadas que nunca tiveram sua vontade sob controle. Este é o fim da humanidade como se conhece, incapaz de impor disciplina em suas próprias crias. Nem as sociedades dos países mais pobres teriam um sistema tão podre quanto este, como o próprio longa sugere, citando mais de uma vez um bem-sucedido programa educacional no Quênia.

Mas esta é minha visão. Posso estar sendo enganado pelas minhas emoções. O filme nos faz todo o tempo buscar por uma solução, sem nunca nos entregar uma luz no fim do túnel. Este é um mérito dele, afinal de contas. Se não ele se chamaria “Consertador de Sistemas”.


“Systemsprenger” (Ale, 2019), escrito e dirigido por Nora Fingscheidt,  com Helena Zengel, Albrecht Schuch e Gabriela Maria Schmeide.



Trailer do Filme – System Crasher

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